ANO
8 |
em fase de transição
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EDIÇÃO
2604
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A vida vai se
construindo de vivências. Abrir uma blogada com uma afirmação tão óbvia, parece
desvalorizar meus leitores. Quisera, todavia, fazer o contrário.
No filme “A
Guerra do fogo” [JEAN-JACQUES ARNAUD (diretor, detentor do
“Cesar’ de melhor diretor em 1981) /Roteiro de
Anthoni Burgess
(La Guerre du feu) Produção França e Canadá // 100 minutos // 1981 // Legendado em
Português // Colorido // Com:
Everett McGill, Rae Dawn Chong, Ron Perlman, Nameer El Kadi]* fazemos um mergulho no tempo em busca de uma das maiores conquistas da
humanidade: o domínio do fogo. Filmado em paisagens da Escócia, Islândia,
Canadá e Quênia este belo trabalho de Arnaud recria o mundo como talvez fosse há
80.000 anos. O filme apresenta, com mais informações, dois grupos de hominídeos
de tempos imemoráveis: um que cultuava o fogo como algo sobrenatural e outro
que dominava a tecnologia de fazer o fogo. Em termos de linguagem, o primeiro
não está muito longe dos demais primatas, emitindo gritos e grunhidos quase na
totalidade vocálicos. Há
outros elementos culturais, como habitações e ritos, que denotam um maior grau
de complexidade na cultura do segundo grupo em relação ao primeiro. Há um enfrentamento entre as duas tribos e se pode observar o
surgimento da necessidade da comunicação.
* CHASSOT,
Attico.; RIBEIRO, Vândiner. O fogo catalisador de guerras que já são milenares.
In: Bernardo Jeferson de Oliveira. (Org.). História da Ciência no Cinema 2 - O
retorno. 1 ed. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2007, v. 2, p. 85-94. ISSN: 9788598885131
Por benesses
do ofício já assisti este filme mais de uma dezena de vezes. Sempre me
surpreendo com uma cena patética, talvez vivida por ancestral nosso: este, após
roubar o objeto maior de uma guerra entre dois grupos e levar o troféu (um
pedaço de madeira em combustão) para os seus, ao atravessar um rio, ainda não
sabe que a água apaga o fogo; ao molhar sua presa, se esvai sua conquista.
Que
aprendizado valioso houve então. Justificada está minha óbvia frase vestibular.
Estamos sempre aprendendo.
Há poucos dias
(mais precisamente no último dia 12: um
desconcerto meteorológico) contei aqui uma experiência de trauma. Quando
ante a uma chuvarada diluviana revivi o pânico de uma possível inundação de
minha casa, como a que eu sofrera em 20 de fevereiro.
Hoje falo de fatalidade. Cada uma e cada um já viveu
fatalidades. Esta semana a justiça arquivou um processo contra a prefeitura de
Porto Alegre, em ação movida por morte de uma pessoa, motivada por queda de uma
árvore, em parque público. Argumento: foi
uma fatalidade, pois externamente não se podia inferir que a árvore estava
frágil. Se a vítima, em sua caminhada, tivesse passado um minuto antes ou um
minuto depois, não teria sofrido morte fatalista. Aqui um comentário: diferente
do senso comum, fatalidade não resulta, necessariamente, em morte. Pode-se
considerar uma fatalidade uma ação que ocorre ferindo a nossa liberdade, ou
ainda, uma ação fortuita (= fugaz, inesperada) que determina consequências indesejadas.
Se alguém, sem o desejar, fecha a porta de sua casa, sem ter a chave, pode ser
uma fatalidade. Não é se a pessoa tem fácil acesso a uma cópia da chave.
Vivi, por sete
dias, consequências de uma fatalidade. Uma desatenção de um segundo foi fatal
por uma semana.
Na última
quinta-feira, às 14h, deixei o hotel em Divinópolis. Às 17h, ao fazer o
check-in em Confins, a sacola que portara comigo, durante as três horas de
viagem, pareceu-me mais leve que o usual. Apalpei-a; tudo parecia certo.
Escolhi um lugar para passar 4 horas até o embarque. Tinha textos a revisar.
Abro a sacola: o notebook não estava.
Ligo para
hotel, sonhando com um hóspede que pudesse estar deixando o hotel e trazer
minha preciosa ferramenta de trabalho. Nada. Recebo do gerente a promessa de
envio por correio.
Desde então,
até à tarde de ontem, rememorei a cada instante, aquele segundo fatal, que não
prestei atenção ao deixar o apartamento. Foram sete dias complicados, buscando
alternativas marcada pela (des)ilusão que o meu notebook devia estar chegando.
Além de
queridas solidariedades tive um lance de muita sorte (talvez, antônimo de
fatalidade). Avisara o porteiro de minha espera. Isto foi decisivo para que, na
tarde de ontem, ele tivesse despertada sua atenção a um papelucho roto, quase ilegível
que anunciava que deveria ir a determinada agencia postal e pagar R$ 81,50 para
reaver um dos meus bens materiais mais preciosos.
Sei que há
fatalidades e fatalidades. A minha poderá ser classificada como uma
fatalidadezinha. Mas, foi sentida e me amargou uma semana. E, assim como meu
ancestral remoto aprendeu que a água apaga o fogo... eu aprendi muito em decorrência
de um instante de desatenção.
O curioso nesses casos que é comum escutar que essas desatenções é "coisa de velho". Não paro de escutar isso. Acontece que ultimamente rotineiramente levo de carro pela manhã minha jovem filha que termina engenharia ambiental na UFF. E quase todos os dias nosso percurso inicial é interrompido por um : "Pai, espera ai volta que esqueci meu celular/riocard/ crachá/carteira/chaves etc." Faço a volta pacientemente e quando estamos já a porta ela nos avisa. "Não pai, pode ir, já achei aqui no meu bolso"
ResponderExcluirProblemas "velhos" de gente.
abraços
Limerique
ResponderExcluirAo constatar a perda um choque
No hotel deixara seu notebuque
Chassot ficou "mudo"
Perdera quase tudo
Mas já voltou a ser aquele craque.
Limerique
ResponderExcluirNos primórdios começou o jogo
Do qual jamais haverá análogo
Definiu-se a civilização
Por sua posse ou não
Maior descoberta do homem, o fogo.
Limerique
ResponderExcluirHá coisas que independem da vontade
Que não causadas, ocorrem na verdade
De danosos efeitos
Daninhos a sei jeito
Aos quais denominamos fatalidade.