ANO
8 |
em fase de transição
|
EDIÇÃO
2600
|
Há datas marcadas no imaginário
coletivo: assim, muito provavelmente, cada um de meus leitores recorda o que
fazia em 11 de setembro de 2001, quanto ocorriam ataques ao WTC. Nesta
sexta-feira, por exemplo, fomos lembrados dos 50 anos da morte de JF Kennedy.
Eu me recordo que naquele 22 de novembro de 1963, já quase ao término de meu 3º
ano de magistério, estava em aula no Colégio São José em S. Leopoldo.
Há as datas que são muito
pessoais. Quando evocadas trazem emoções muito particulares. Estas estão
fortemente ferreteadas no imaginário particular, que sempre que memoradas nos
lembram algo muito especial.
24 de novembro, talvez, seja uma
das datas mais fortes para mim. Hoje meu irmão Sirne faria 73 anos. Nós éramos
cinco irmãos e duas irmãs. Havia também uma natimorta, seria a terceira na
sequência de filhos. Eu era o mais velho. O Sirne, um ano e 18 dias mais novo
que eu. Como eu era mais frágil (fora asmático) nos nossos primeiros anos, muitas
vezes passamos por gêmeos. Eles chegaram como um casal, após a menina antes
referida. Nas brigas entre irmãos eu sempre perdia para o Sirne; mas naquelas
com os outros guris da nossa rua, eu sempre tinha nele um defensor ao meu lado.
Só entrei para a Escola em 1947, ainda em
Estação Jacuí, onde nascera, quando já tinha completado sete anos. O pretexto
foi ‘esperar’ a idade de escolarização de meu irmão Sirne, para irmos juntos.
A partir de setembro de meu
primeiro ano escolar, passamos a estudar no Colégio S. José, em Montenegro. No período do São José, provavelmente em 1948, o Sirne e eu
fizemos a Primeira Comunhão – o mais significativo (ou pelo menos, o primeiro e
mais memorável) ritual de iniciação para aqueles de fé católica, evento
acontecido na igreja matriz
de então.
Lembro-me bastante das aulas de catequese,
onde decorávamos o catecismo e éramos amedrontados com o fogo do inferno às
mais pequenas faltas. Não faltaram histórias acerca do menino bom, que ia todos
os domingos a missa e que um domingo foi pescar sem ir à missa e caindo n’água
afogou-se e foi para o inferno por toda a eternidade. As metáforas para
descrever a eternidade eram formidáveis:
se um passarinho de 100 em 100 anos
vier afiar seu bico no Morro
São João, que ficava visível da igreja, quando este ficar completamente
gasto pela ação do pássaro, não terá passado um segundo da eternidade. Não sei
se morro recebeu desde então diminuição por afiar bico de pássaros.
Da
Primeira Comunhão é significativa a
lembrança do quanto era importante o absoluto jejum eucarístico. Depois da meia
noite até a hora da missa não poderia ser consumido nem sequer uma gota de
água. A escovação de dentes era desrecomendada se não se pudesse garantir que
alguma gota de água pudesse ser ingerida. Recordo que as talhas de barro do
pátio do colégio, usadas como bebedouros, eram esvaziadas, pois um dia, um
menino que tinha se preparado durante meses para o grande momento de seu
encontro com Jesus, tomou um pouco de água e não pode comungar.
Isto
apenas um fiapo de possíveis tessituras de lembranças de minha infância.
Lamento que o Sirne, dotado de uma memória privilegiadíssima, por muito tempo
melhor (e quase, exclusiva) fonte para minhas curiosidades dos tempos de
criança e adolescência, não esteja mais por aqui. Ele morreu em 2002, enquanto
eu morava em Madrid, para pós-doutoramento. Não ter participado, mais de perto,
de sua partida parece potencializar a saudade.
Assim
em mais um 24 de novembro peço a meus leitores trazer a uma edição dominical
algo tão pessoal. Para ele minha saudade e a cada uma e cada um de meus
leitores a curtição do último domingo de novembro.
Nesse profético momento em que vivemos, onde irmãos se levantam contra os seus, é reconfortante ler tamanha delcaração de amor fraternal.
ResponderExcluirAbraços.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirChassot, nesta blogada dominical
Saudoso visita sua terra natal
Sangue de sua veia
O irmão homenageia
Numa rememoração especial.
Caro amigo prof. Chassot:
ResponderExcluirCuriosa a sua blogada sobre lembranças da infância. Em especial a metáfora da eternidade. No meu primeiro ano nos maristas, de Belém, ouvi duas histórias semelhantes: 1) se o mundo todo fosse uma bola de metal e de mil em mil anmos um passaro viesse e roçasse sua pena nessa bola imensa. Pois bem: a bola de ferro se gastaria e a eternidade ainda estaria no com,eço. 2) Se de mil em mil ,anos um passaro apanhasse um grão de terra do nosso planeta, ele transportaria toda essa areia e a eternidade mal teria começado. Que tal, amigo? Os maristas eram e são os mesmos, em Montenegro ou Castanhal.
Grande abraço,
José Carneiro