ANO
8 |
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EDIÇÃO
2593
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Chegava de uma
extensa viagem que começara há 11 horas no interior da Bahia. Não imaginava que
a última etapa seria tão custosa. A fila para apanhar um taxi era quilométrica.
Claro que o adjetivo está exagerado. Mas havia mais de 50 passageiros a minha
frente. E, pior, de vez em vez, vinha um taxi para fazer uma movimentação em
minha posição, levando a aproximar-me do ponto de embarque vagarosamente.
Eu alternava
meus olhos entre a largada e um ponto remoto de onde afloravam taxis. Tudo era
muito lento. Fiz alguns telefonemas. Estimei demoras. Olhava os que estavam
próximos. Nem aos da frente, nem aos de atrás me animavam a propor uma carona
solidária. Somos cidadãos solitários.
Na minha
frente uma moça com uma volumosa mala. Na frente dela um rapaz apenas com uma discreta
mochila. Eu estava voltando de uma viagem na qual deixara minha casa no dia
anterior, logo com uma malinha. Atrás, uma senhora com bagagens que denotavam
ter vindo de compras em Miami.
Aproximava-se
a minha vez. O largador — figura que há um tempo coordena os embarques tanto no
aeroporto como na rodoviária — perguntou aos meus dois predecessores se estavam
sozinhos ou acompanhados. Uma e outro responderam que estavam sós. “Ótimo!”,
disse o largador. Sem refletir, corrigi: “Péssimo!”
Houve certo
constrangimento. Intervi, uma vez mais. Talvez pudéssemos economizar um carro,
e favorecer a outros. “Meu destino é o começo da Dona Laura!” disse a moça. “Podemos
ir juntos, pois vou para a Mostardeiro, próximo a Miguel Tostes!” exclamou
feliz o rapaz. “Vamos juntos!” disseram uníssonos.
Embarcavam.
Olhei para a imensa fila que havia atrás de mim. Vi que nenhum carro surgia no
mais remoto horizonte. Venci a timidez. Acheguei-me aos dois felizardos já
embarcados e ao motorista. “Vou para a Mariante, entre a Castro Alves e Dona
Laura, posso ocupar o lugar vago no assento da frente? Assumo o custo da viagem”
Mais uma vez um uníssono, agora a três vozes: “Claro!”.
Tomei o meu
lugar. Propus-me não intervir na conversação que já rolava entre os jovens.
Limitando-me a agradecer.
Seu Silvino
nos alertou que recém viera de ponto próximo nosso destino e levara quase duas
horas (usualmente levo 20 minutos neste trajeto), pois neste entardecer,
véspera de feriadão, parece que colocaram nas ruas todos os carros. “Não há problemas!”
disseram os jovens.
Eu fiz um
roteiro de ordem de deixada dos dois, de tal maneira que eu seria o último. Eu
conversava com seu Silvino. Contou-me sua história. Viera de Sombrio, em Santa
Catarina, já há mais de quarenta anos. Aposentara-se como torneiro mecânico. Há
três anos trabalhava como taxista.
Mas enquanto
trocávamos histórias, estava de ouvido na discreta conversa do banco traseiro. “Esta
vinda a Porto Alegre é para organizar meu retorno; volto a morar aqui depois de
10 anos. Meus pais precisam de mim. Consegui uma posição como arquiteto, melhor
que aquela que tinha em Recife.” “Eu estou voltando para casa, depois de quase
um ano de doutorado sanduíche em Filosofia das religiões em Heidelberg. Há
novas realidades, pois um namorado não resistiu há meses de separação...” “Nisso
temos uma semelhança. Este meu retorno, teve perdas sentidas. Minha noiva não
quer trocar o tórrido Nordeste pelo gélido Sul!”
Estava com
muita vontade de participar da conversa. Gostaria de saber da tese da Michaella.
Anunciara que seu nome era com ch e não com k e dois eles, ao trocar telefones
com Bruno. O trânsito ficara menos denso e em menos de 45 minutos chegávamos ao
destino de Michaella. Bruno anunciou que desceria junto, pois era muito perto e
a lamentavelmente a duração da viagem não teve o tempo estimado. Havia assuntos
que não concluíram. Entregaram a seu Silvino cada um uma nota de 10 reais, como
participação deles no custo da viagem.
Desci para
despedir-me dos dois e dar meu cartão, dizendo que éramos vizinhos e estava
disponível de uma e de outro para alguma ajuda. Anunciei que, como estudioso de
História e Filosofia da Ciência interessava-me pelos estudos de Michaella. Ela
deu-me seu correio eletrônico.
Qualquer dia
vou enviar uma mensagem para saber da ‘tese’...
Muito querido Mestre!
ResponderExcluirAdorei a historia de amor de minha quase xará. Como a ‘filósofa das religiões’ tenho que fazer sempre alertas acerca da escrita de meu nome.
Torço para que ela fique com Bruno.
Se isso ocorrer o senhor deverá ser o padrinho do casamento, pois foi o Cupido.
Um bom sábado e parabéns pela linda história.
Michaela
Limerique
ResponderExcluirSeja no táxi, ônibus ou avião
Sempre é local tempo e ocasião
Para encontros fortuitos
As vezes curto circuitos
Que afloram nos jovens uma paixão.