ANO
7
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www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2457
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Hoje, me meto
de pato a ganso. Li no domingo texto de um dos melhores cronistas brasileiros.
Como sempre muito espirituoso e envolvido em fino bom humor. A ‘concepção
teórica’, mesmo reconhecendo tratar-se de uma composição anedótica, incomodou-me.
Transcrevo aqui dois excertos e após trago minha crítica. Reconheço-me
pretencioso sabendo contra quem assesto minha observação.
O debate Luís F.
Veríssimo
O
apresentador entra no palco, onde estão três cadeiras.
Apresentador
– Boa noite. Teremos hoje o último debate da nossa série Criacionismo ou
Evolucionismo: Qual é a sua?. Afinal, fomos feitos por Deus ou descendemos dos
macacos? O debate desta noite é o que todos estavam esperando, o que explica o
auditório lotado e as cadeiras extras. Durante toda a semana tivemos aqui
embates memoráveis entre defensores do criacionismo e defensores do evolucionismo,
culminando com o debate de ontem, entre Richard Dawkins e o padre Rossi, que
foi abandonado por Dawkins aos gritos de “Não. Não!” na metade, quando o padre
Rossi ameaçou cantar.
[...]
Mas
vamos ao grande debate desta noite. Os dois participantes não precisam de
apresentações. O primeiro é... Charles Darwin em pessoa! Mr. Darwin, por favor.
Charles
Darwin entra no palco e é aplaudidíssimo por parte da plateia. O resto da
plateia aplaude educadamente.
Apresentador
– Charles Darwin, quem não sabe, é o fundador do evolucionismo. Foram seus
estudos sobre a adaptação dos genes ao meio e a seleção natural que deram
origem a teoria da evolução das espécies, inclusive a espécie humana, que
descenderia dos macacos. Apesar de estar morto desde 1882, Mr. Darwin
concordou, gentilmente, em participar do nosso simpósio, principalmente quando
soube quem seria o outro debatedor. Não é, Mr. Darwin?
Darwin
– É. Será uma oportunidade para esclarecer alguns pontos.
Apresentador
– E aqui está ele, senhoras e senhores. O outro debatedor desta noite. O
grande, o eterno, o nunca assaz louvado... Deus Nosso Senhor!
Deus
entra no palco saudando o público e é recebido com uma ovação. Parte da plateia
grita “Senhor! Senhor! Senhor!”. Deus senta à direita do apresentador, Darwin à
esquerda.
Darwin
– Senhor, eu queria aproveitar esta oportunidade para dizer que, em momento
algum a minha teoria negou a sua existência, ou desrespeitou o seu poder. Eu
vivi e morri como um cristão. Só não podia esconder minha descoberta.
Deus
– Eu sei, meu filho, eu sei. E você estava certo.
Darwin
(surpreso) – Eu estava certo?!
Deus
– Estava. Aquela história que eu criei o homem do barro, à minha imagem, e
depois fiz a mulher da sua costela... Tudo literatura. Licença poética. O homem
descende do macaco. Eu quis que fosse assim. E quis que você descobrisse. A sua
obra é a maior prova de que eu (aliás, Eu) existo. E mando. Num mundo regido
pelo acaso você dificilmente chegaria aonde chegou.
Apresentador
– Então o senhor acredita num...
Deus
– Evolucionismo dirigido. Um pouco como o capitalismo na China.
Darwin
– Mas então por que tanta gente resiste à ideia de que o homem descende do
macaco e não foi criado por Deus à sua imagem?
Deus
– Ah, meu filho. A vaidade humana nem Eu controlo.
Nos meios
acadêmicos, e em grande parte da humanidade, desde o século 19, há um
continuado debate: Criacionismo ou Evolucionismo. Há, mais recentemente, uma caricata alternativa: o ‘design
inteligente’ que, lamentavelmente LFV abraça (nominando de “Evolucionismo
dirigido”. Claro que ele pode aderir a ela, como o fazem alguns cientistas de
renome. Estes têm sido desmascarados, como está densamente argumentado, por
exemplo, no Manifesto da Sociedade Brasileira de Genética (publicado e
comentado neste blogue em 23JUN12).
Mas, ¿se há
cientistas proeminentes que defendem esse criacionismo trasvestido com máscara
rota e desengonçada de evolucionismo, eu surpreendo-me com o brilhante
cronista? Por apenas uma razão: a (minha) desilusão por ver alguém que é um luminar
intelectual para tantos (e, eu me incluo) embarcar, talvez, em uma canoa furada. Mas,
sigo seu leitor. Não leio apenas os que pensam como eu.
Limerique
ResponderExcluirA conversa de design inteligente
Léria de criacionistas somente
Eles perdendo a batalha
Antes de jogar a toalha
Tentaram parecer proeminentes.
Limerique
ResponderExcluirÉrico esse gaúcho quatrocentão
Que seguidores formam batalhão
Quase que se enrola
Pois pisou na bola
A criacionista estendeu a mão.
Limerique
ResponderExcluirÉrico é formador de opinião
Acreditamos em seus textos então
Mas quando diz estultice
Baseada em crendice
Seus escritos vão para o lixão.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirChassot,
ResponderExcluirQuando li o texto de primeira olhada achei muito espirituoso e ri muito...
Após, um amigo chamou-me a atenção que o autor (talvez sem querer) estava endossando o design inteligente.
Esta (pseudo) teoria é, nada mais nada menos, que o criacionismo vestindo um smoking vagabundo.
Um falso verniz científico dá à mais pétrea e dogmática das idéias um aspecto de teoria científica. Aprendi, em um livro chamado "A ciência através dos tempos", que a Ciência é uma leitura da natureza, só isso já destituiria o criacionismo e seus mutantes do status de "científico".Apesar de não achar o Veríssimo um gênio também não o considero um apedeuta. Tenho forte convicção que não quis fazer apologia ao design...
Resta "rezar" que os picaretas de plantão não usem este texto infeliz para fins espúrios.
Abraçøs
Meu caro Guy,
ResponderExcluirDesde o Galeão, rumo a Boa Vista, RR.
Agradeço ao Biólogo os bem postos comentários.
Com estima e admiração
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirNão consigo explicar porque chamei o Luiz Fernando de Érico nos meus limeriques, talvez um ato falho, não sei. Em todo caso espero que o Érico do qual sempre fui leitor, entenda (se lá onde ele se encontra for possível isso) que eu não tinha intenção de ofendê-lo, nem ao Luiz Fernando, aliás. de qualquer modo vou deixar assim mesmo, estou sem vontade de consertar a minha estultice. Abraços e desculpe minha falha, JAIR.