ANO
7
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EDIÇÃO
2442
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Ontem, ao
entardecer, ia a Canoas para a oficina de escrita no Unilasalle. Trem lotado.
Não dava para ler. Pensava na imensa quantidade de saberes detidos pelos meus
parceiros de ensardinhamento.
Lembrei que há
alguns anos, o Prof. Nélio Bizzo levava-me da USP ao aeroporto, depois de uma
banca de aluno seu, contou-me uma historieta: “Em um barco havia um homem com
cerca de 30 anos, acompanhado de seu filho de 5 anos e de seu pai de 80 anos. O
barco soçobrava. Só o jovem pai sabe nadar. Ele pode salvar um. Quem ele salva?
O menino? O velho?
Conto esta
historieta quando trabalho na busca de saberes primevos para fazê-los saberes
escolares e acerca da valorização de saberes detidos por mais velhos, muitas
vezes em risco de extinção. Para os estudantes será natural que o jovem pai
salvasse o menino. Afinal ele, diferente de seu avô tem toda uma vida pela frente.
Todavia, na
cultura africana, onde esta historieta tem sua matriz, é natural que o velho
fosse salvo, por um único argumento: ele é o detentor de saberes que são muito
preciosos para toda a comunidade.
Mais
recentemente, passei a nominar os saberes
populares também de saberes primevos,
na acepção daqueles saberes dos
primeiros tempos; ou saber inicial ou saber primeiro. É preciso dizer que não
se trata de uma simples troca de adjetivo. Há aqui uma postura política, marcada
de quanto a opção por um adjetivo como primeiro
ou primevo não desqualifica tanto um
saber, como quando dizemos saber popular.
Mesmo que em determinados textos, em algumas vezes, tenha ainda referido
'saberes populares' isto é consentido, até para dar a atenção para essa
diferença.
Mas agora
surge um novo questionamento. Assim como a Escola, nestes primeiros anos do
Século 21 perdeu ser o lócus do saber e ao invés de se perguntar ao professor
se pergunta a Google. Lá na comunidade que nos legou esta historieta, ainda se
precisa de velhos para serem depositários do saber? Ou o professor Google / o
médico Google / o pastor Google sabem tudo e muito, muito mais. Ledo engano.
Ocorre que o Google
tem informações... talvez, conhecimentos. Ele não tem saberes. E saberes, tem
sabores. O saber sabe a sabedoria.
Prezado Chassot!
ResponderExcluirA valorização extremada deste Sr. Google hoje em dia por parte de uma grande maioria de nossos estudantes, faz com que se esquecam o quanto "o saber sabe a sabedoria". Por isso observo em muitas salas de aula uma grande alienação, como ontem quando numa prova sobre a história do parque industrial brasileiro, uma aluna me perguntou: "Professor, o que é esse governo FHC?" JB
Limerique
ResponderExcluirAntes Homo tinha sabedoria
Pressionado pela agrafia
Com advento do Google
Até mente de Poodle
Não está liberada prá alexia.
Muito estimado Jair,
Excluirpoeta e polímata,
concordo contigo: as sociedades ágrafas tinham mais oportunidades de fazer do conhecimento saber. Na pós-modernidade, paradoxalmente, parece que se faz do conhecimento apenas informações. Quanta perda, essa reversão há de causar às gerações futuras.
Quando dou aula ou palestra e vejo vários de meus ‘pseudo-ouvintes’ com notebook e tablete, não saúdo o abençoado advento da tecnologia a terras tupiniquins. Estes ‘afortunados’ detentores de artefatos tecnológicos estão se tornando, a cada dia, mais ágrafos e aléxicos, que não leem ou não escrevem muito além de uma linguagem tribal importada do Facebook: “Tá legal, bródi! Kkkk”
Talvez, se ao invés de um tablete tivessem uma pedra de ardósia e um estilete (artefato escolar que usei antes do caderno, e que em formato e design se assemelha muito ao tablete) seriam mais críticos.
Lembro de professor de cálculo, que na universidade não deixava — com certa dose de exagero — usar lápis ou caneta, Queria a memorização.
De vez em vez, dá vontade de ser um neoludita e lapidar o Facebook. Talvez não precise! Ele está próximo da autoimolação por saturação e gigantismo.
Obrigado por a cada dia poeticamente enriquecer este blogue
attico chassot
E ainda mais preocupante é obsevar que com o advento do google torna-se cada vez mais presente entre os atuais estudantes a pratica do ctrl + c / ctrl + v. Sendo assim o aluno nem se dá ao trabalho ao menos de ler o que está copiando e colando em seus trabalhos escolares. Recentemente noticiou-se com grande alarido um desses jovens "fenômenos" da internet que criara um site que sintetizava as notícias. Este sucesso meteórico deve-se ao fato de que as pessoas, principalmente os jovens, hoje não querem perder tempo lendo textos longos. É uma mazela dos tempos modernos, todos tem preguiça de pensar, de ler, de raciocinar, e consequentemente de aprender.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Meu caro Antonio Jorge,
Excluirolha o que escrevia para o Jair, enquanto escrevias na mesma direção,
Obrigado por cotidianamente enriqueceres este blogue
attico chassot
Querido mestre,
ResponderExcluiro saber, para ter sabor, não deve ser cultuado, precisa ser cultivado.
Isso requer cuidado, prudência, sabedoria, reflexão.
Pensar é uma missão que não podemos delegar, sob risco de vivermos escravos do pensar alheio.
Também a que não nos podemos omitir, sob risco de perdermos nossa humanidade.
Muito pertinente a observação: nem todo conhecimento é saber.
Saber promove transformação:dignifica a vida e o com-viver.
Grata pelo seu compartilhar.
Grande e carinhoso abraço: Lia, a Ilíria que ainda lê
Ao Nosso Grande " TEACHER " Chassot:É agora com a internet tudo se banalizou de vez,será que com o tempo os nossos livros se tornará um objeto raro? nossos jovens não querem mais ler,querem apenas ler parágrafos,capítulos isso é um absurdo. O que diria nosso grande Escritor e Jornalista Luis Fernando Veríssimo " Ler é o melhor remédio " precisamos divulgar ler é imprescindível. Um abraço LeY
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