ANO
7
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Porto Alegre /
Frederico Westphalen
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EDIÇÃO
2452
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Mais
uma vez uma edição começa a circular quando já cumpri a primeira das seis horas
de viagem de minhas jornada bimensais à Frederico Westphalen. Dois são os
catalisadores que determinam a eleição do tema de hoje:
Um,
a blogada da última terça-feira, quando se denunciou aqui a biopirataria da
Monsanto e outras transnacionais que se apropriam do patrimônio da humanidade,
para fazerem suas várias espécies de cultivares tradicionais.
Outro,
meu dia de hoje na URI, onde além de encontros individuais com minhas quatro
orientandas, há sessões da oficina da escrita no Programa de Pós Graduação em
Educação.
Estes
catalisadores trazem evocações fortes e por tal emociono-me contar de maneira muito
panorâmica como Antônio Valmor de Campos mostrou o quanto
agricultores que
cultivam milho crioulo
são pesquisadores
e por esta razão
detêm propriedade intelectual
sobre as sementes
às quais agregam valores .
Antônio é graduado em Biologia e em Direito. Em 14 de agosto de 2006 se fez mestre em
Educação. Obteve seu título no mestrado
Interinstitucional que a URI Campus
Frederico Westphalen realizou com a
UNISINOS. Hoje ele é professor na UFFS no campus de Chapecó.
A
dissertação “O reconhecimento de
agricultores do município de Anchieta-SC, que cultivam sementes de milho
crioulo, como pesquisadores e detentores de direito da propriedade intelectual
sobre a melhoria dessas sementes” narra o trabalho
de agricultores de Anchieta, SC e de municípios lindeiros, na seleção
e na produção de sementes
de milho crioulo. Estes resistem aos oligopólios das sementeiras
que seduzem os agricultores
para que
adiram ao plantio de milho
híbrido , cujas ‘sementes
não são
sementes ’ pois
na safra seguintes
são estéreis, obrigando-os a comprar, a cada plantação ,
novas sementes .
Antônio
acompanhou durante quase
um ano
o processo de seleção
de mais de uma dezena
de variedade de semente
de milho e o cruzamento
destas para a produção de
novas variedades
que apresentam características
nutricionais e de resistência a pragas
com vantagens
se comparadas, inclusive , com
as alardeadas sementes híbridas. Uma característica fundamental
destas sementes caipiras
ou crioulas: por
não serem patenteadas por transnacionais ,
elas continuam sendo patrimônio da humanidade ,
como foram/são a milênios .
Lamentavelmente aqui não se pode colocar o tempo verbal serão. Em uma analogia
com os softwares livres na área
de informática , na dissertação
foi defendida a busca de alternativas para que esses agricultores tenham seu
trabalho de pesquisa
protegido pela
outorga de propriedade intelectual sobre
o mesmo , para
a preservação contra
a biopirataria.
O
trabalho foi reconhecido pela banca que o avaliou como de profundo
significado político
e ético , destacando o consistente
balizamento teórico-metodológico, recomendando a publicação do mesmo. No trabalho trazido à defesa
foi destacado como
homens e mulheres
que resistem ao ato
predador das apátridas
empresas de sementes ,
não estão apenas
defendendo a biodiversidade de espécies , mas
estão lutando pela não
ruptura cultural. Esta consequência danosa determinada pelo oligopólio sementeiro tem custo
ambiental difícil de mensurar. Também,
no caso das sementes ,
e vale também
para as matrizes
animais como
as galinhas ou
suínos , estamos cometendo um epistemicídio, pois se
está terminando com toda
uma cultura a respeito
da preservação da biodiversidade .
Não é sem
razão que
Anchieta, SC, hoje é reconhecida como capital nacional do milho
crioulo .
Quando,
enquanto orientador da dissertação, visitei com
o Antônio os agricultores do Oeste Catarinense , apenas me
convenci o quanto aqueles
homens e mulheres
que resistem a sedução
do milho híbrido
que encantou a nossos
avós assim como
as sereias seduziram a Ulisses e seus navegadores ,
como aprendemos na Odisseia. Elas e eles
são realmente geneticistas
que repetem com
milho aquelas experiências
que monge
agostiniano Gregor Mendel fazia com ervilhas nos jardins do monastério onde
vivia há 1,5 século. Não sei quantos dos leitores deste texto conseguem imaginar o que
significa resistir a promessa
de lucros fáceis quando
se passa a usar
sementes produzidas por
empresas biopiratas? É uma situação desigual .
No meu livro
Educação ConsCiência
ao tratar desse assunto
evoco o bíblico duelo Davi lutando contra Golias. Ainda um adendo ao relato daquela que é
muito provavelmente entre as produções de mestres e doutores que orientei a
mais significativa.
A
dissertação se fez livro. O Antonio soube tornar um texto acadêmico, às vezes
árido, em livro muito palatável: “Milho crioulo: sementes de vida.
Pesquisa, melhoramento e propriedade intelectual” [Frederico Westphalen:
Editora da URI, 2007]. Tive o privilégio de escrever a apresentação. Conclui
assim o prefácio do livro. “Esse é um livro que vale a pena, pelo menos, pelo
desafio que trás: oferecer opções para ações possíveis. Ouçamos o Antônio nos dizer.
Ousa fazer diferente. Não deixa que
apenas os poderosos digam qual o caminho. Então, uma muito boa leitura.” Se
algum dos leitores quiser enveredar por uma leitura que vale a pena, encomende
o livro diretamente ao autor: prof.antoniocampos@gmail.com
Limerique
ResponderExcluirVês esta bela gramínea, meu filho?
Oriunda da América, é o milho
Mas a Monsanto que diz:
Dela fiz clone que quis
E até semente crioula eu pilho.