04.- A ESCOLA MUDOU ou FOI MUDADA?

ANO  9

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EDIÇÃO  2947

Abro com uma breve referência à blogada de ontem. Os golpistas e os separatistas estão ativos. É significativo como deliram pedindo, depois do 1º e 2º turnos, o Coturno, representado pelo tacão dos militares. Aproprio-me do comentário postado pelo Carlos Augusto Normann.

¡PARECE INCRÍVEL ESTE DESEJO DE VOLTA À DITADURA!

Nesta terça, entre as aulas da manhã na licenciatura em Música e as da noite na Pedagogia, à tarde, catalisado por meu colega e amigo Jorge Luiz Ayres Gonzaga, palo para coordenadores do ensino médio de cinco escolas públicas estaduais de Porto Alegre: Odila Gay (sede do encontro, na Zona Sul); Alberto Torres; Cônego de Nadal; Visconde do Rio Grande e Escola Técnica Ernesto Dornelles. Mais uma vez analiso duas interrogações: A escola mudou? A Escola foi mudada? A voz ativa e a voz passiva, que aprendemos há muito, termina evocada.

Na noite da última quinta, fazia esta discussão em Juiz de Fora, em uma mesa-redonda. Enquanto o terceiro debatedor falava (eu fora o segundo) recebo uma sinalização de mensagem. Quando do debate, após as três falas, disse que faltaria modéstia e leria uma mensagem que recebera. Ela ratificava mudanças havidas na escola:

Prezado professor Chassot,

Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela belíssima palestra. Desde o 4º período da faculdade de Educação no curso de Pedagogia gosto muito do modo como o senhor trata o conhecimento e o valoriza.

Em segundo lugar, gostaria de solicitar ao senhor as lâminas de sua apresentação na 2ª semana da FACED da UFJF.

Desde já lhe agradeço tanto pelas lâminas e, principalmente, pelo conhecimento compartilhado que o senhor nos proporcionou e proporciona.

Atenciosamente, Débora Querino.

Isto me fez evocar outro episódio. Em outubro de 2010, ministrava um curso acerca de História e Filosofia da Ciência. Houve, então, algo insólito. Eu falava sobre o significado das primeiras observações de Galileo Galilei com telescópio em 1609. Destacava que Copérnico, ao propor que a terra girava, não dispunha ainda de telescópio. Este é usado, por primeiro, por Galileu. Contei então que ele importara lentes da Holanda, mais precisamente da cidade de Delft, e que no fabrico das mesmas estava envolvido Anton Van Leeuwenhoek, conhecido pelas suas contribuições para o melhoramento do microscópio. Ele contribuiu com as suas observações para a biologia celular (descreveu a estrutura celular dos vegetais, chamando as células de "glóbulos"). Utilizando um microscópio feito por ele (possuía a maior coleção de lentes do mundo, cerca de 250 microscópios), foi o primeiro a observar e descrever fibras musculares, bactérias, protozoários e o fluxo de sangue nos capilares sanguíneos de peixes. Então, disse que Leeuwenhoek frequentava a casa do pintor... e eis que me falta o nome do pintor. Ocorre aquele famoso branco, que comigo parece sempre pré-anunciado. Disse, que talvez me lembraria, ainda até o fim da aula. Referi que era um pintor que eu admirava, autor de quadros como ‘A leiteira’ e ‘Moça do brinco de pérola’. Menos de dois minutos o professor Guy Barros Barcelos, socorre-me: “Vermeer, professor!”. Não sem espanto, digo “Sim, Johannes Vermeer! Como te ocorreu?” Ele simplesmente me mostra um telefone celular, no qual perguntara para o professor Google.

Tanto a Debora, quanto o Guy não teriam esta oportunidade de intervenções, como as relatadas, há 10 anos. Realmente, a Escola repassadora de conhecimentos já era. Hoje ela precisa trabalhar criticamente alguns dos conhecimentos que chegam à Escola aos borbotões e neles procurar saberes.