ANO
9 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
|
EDIÇÃO
2962
|
Na blogada desta terça
referi: nos últimos dias ocorreram duas
mortes — Leandro Konder e Manoel de Barros — que participam da tessitura da
história de nossa formação intelectual. Dizia, então: quando morrem pessoas
públicas, de maneira mais especial aquelas que habitam nossa biblioteca, há um luto
epistêmico.
Ontem, celebrava o poeta
pantaneiro, hoje, aqui e agora, os louros da imortalidade vão para o filósofo.
Os filósofos estão sempre muito presentes, pois soem fazer de nossas
bibliotecas ágoras — a praça principal das cidades gregas — onde estão, de vez
em vez, trocando ideias. Reconheço as vozes de Sócrates, Platão, Aristóteles, em
outros momentos surpreendo conversas entre Marx, Kant, Nietzsche... Agrada-me
quando estão no coreto Kuhn e Feyerabend. Nos últimos dias Leandro Konder tem
estado muito por aqui. Ele tem uma intimidade com Marx, como pouco.
Se o festejado de ontem
tinha presença em duas dimensões em minha biblioteca, com o homenageado de hoje
não é diferente. Em 1998, junto com meu amigo filósofo Renato José de Oliveira
organizamos Ciência, Ética e Cultura na Educação. Convidamos professores
doutores na área do ensino de Ciências para escreverem textos que poderiam ser
enfeixados no título que propusemos à obra. Cada um dos doze textos teve um
pré-leitor, em geral orientandos ligados aos autores. O livro teve outra
originalidade, cada um dos doze autores principais escreveu, na primeira pessoa
do singular, cerca de uma lauda sobre sua trajetória acadêmica.
A apresentação da obra,
que teve sucesso e foi reeditada em 2001, foi de Leandro Konder, que fora
orientador de doutorado do Renato. Um excerto de Fazendo uma tessitura nas conversas entre professoras e professores
está na quarta capa é reproduzida na ilustração.
De garimpar na imprensa transcrevo: O filósofo Leandro Konder morreu
nesta quarta-feira, aos 78 anos. Ele é reconhecido como um dos autores
brasileiros mais presentes nos estudos sobre Karl Marx, lecionando e escrevendo
livros sobre a difusão de seu pensamento.
Leandro Konder era professor da PUC-Rio e da UFF. Filho do líder
comunista Valério Konder, foi preso e torturado durante a ditadura militar e se
exilou, em 1972, na Alemanha e, posteriormente, na França. Regressou ao país em
1978 e passou a se dedicar com afinco ao estudo das obras de Gyorgy Lukács e ao
seu projeto de difundir os estudos do marxismo em terras brasileiras.
Konder integrava um grupo formado há aproximadamente 15 anos por
intelectuais, os Comuníadas (nome formado pela mistura de comunistas com 'Os
Lusíadas', de Camões), que se reunia uma vez por mês para celebrar a literatura
e a arte. O cineasta Zelito Viana, um dos integrantes do grupo — que reúne
ainda nomes como Ferreira Gullar, Sérgio Cabral, Milton Temer, Walter Carvalho
e Roberto Freire A última reunião aconteceu há um mês, com a participação de
Konder.
Ele aceitava as diferenças. Era um democrata visceral, apesar de
ser ao mesmo tempo uma pessoa radical, que saiu do PT, fundou o PSOL. Ele tinha
uma posição bem nítida de esquerda, era firme, porém aceitava o diálogo, era um
democrata, entendia a posição dos outros. Uma pessoa rara.
Quando na faculdade, líamos e debatíamos Leandro Konder, ele nos fazia pensar. Abraços, JAIR.
ResponderExcluirUma homenagem tocante, caro amigo e mestre Chassot. Leandro Konder, como filósofo e educador, é imortal. O corpo nada significa quando o legado jamais perece. É o que este seu amigo, Renato José de Oliveira tem a escrever por ora.
ResponderExcluirLeandro Konder, um entusiasta no estudo da Dialética como um “processo de autocriação do homem a transformação da sociedade”. Para ele o diálogo, as discussões, as contradições como mecanismos para a transformação social. Vai além da lógica. Entende-a como uma maneira de pensar elaborada de pensar o novo.
ResponderExcluirSeus ensinamentos permeiam muitas boas práticas na luta por uma sociedade mais humana. Um imortal.