ANO
9 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2966
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Parece que as blogadas
domingueiras devam ser amenas e ligeiras. Há dias, em uma das aulas na Universidade
do Adulto Maior, eu comentava acerca dos monges copistas no medievo. Narrei que
muitas das artísticas produções eram feitas até por analfabetos, que copiavam
por semelhança. Houve então quem contasse uma pequena anedota concernente.
Dias depois recebi o
texto de meu amigo Luiz Carlos Naujorks, que é saudade na evocação de saborosas
charlas, em viajadas Passo Fundo / Porto Alegre depois de palestra. Eis a historieta:
Quem
copia da cópia da cópia, pode multiplicar o erro...
Um
jovem noviço chegou ao mosteiro, e, logo lhe deram a tarefa de ajudar os outros
monges a transcrever antigos cânones e regras da Igreja.
Ele
se surpreendeu ao ver que os monges faziam esse trabalho copiando, a partir de
cópias, e, não dos manuscritos originais. Foi falar com o velho Abade e
comentou que, se alguém cometesse um erro na primeira cópia, esse erro se
propagaria em todas as cópias posteriores.
O
Abade lhe respondeu que esse era a norma. Há séculos copiavam da cópia
anterior; na verdade desde o início da Igreja, para poupar os originais. Mas
admitiu que lhe parecia interessante a observação do noviço.
Na
manhã seguinte, o Abade desceu até às profundezas do porão do mosteiro, onde
eram conservados os manuscritos e pergaminhos originais, intactos e com a
poeira acumulada por tempos imemoráveis...
Passou
a manhã, a tarde e a noite, e ninguém mais vira o Abade. O último que o avistara
informou que ele estava indo em direção ao porão. Preocupados, o jovem noviço e
mais alguns monges decidiram procurá-lo.
Nos
labirintos do mais profundo e frio compartimento do porão, encontraram o velho
Abade completamente descontrolado, tresloucado, olhos esbugalhados, espumando e
com as vestes rasgadas, batendo com a cabeça já ensanguentada nos veneráveis
muros do mosteiro.
Apavorado,
o monge mais velho perguntou:
—
Mas, Abade, pelo amor de Deus!... o que aconteceu?
—
IMBECIL! IMBECIL! IMBECIL o primeiro copista! Que o desgraçado arda no Inferno
para sempre! CARIDADE!... era CARIDADE!
Eram votos de "CARIDADE"
que tínhamos que fazer... e não de "CASTIDADE"!...
Se uma letrinha apenas pode fazer tamanha diferença, imaginemos quando são interpretações mal interpretadas.
ResponderExcluirSoneto-acróstico
ResponderExcluirErro
Onde houver humanos erro haverá
E quando esse erro se copia então
Razoável que o engano pressuporá
Resposta previsível à tal transcrição.
Sendo assim, qualquer velho texto
Em que alguma cópia se recopiou
Por algum bom motivo ou pretexto
Estima-se que um copiador falhou.
Repetir esse erro é mais esperado
Porque quebra prato quem os lava
E vai esse erro sendo perpetuado.
Também tudo que no texto estava
Um dia ficará somente no passado
Assim o significado original trava.
A vida imita a arte, decidimos eu e minha esposa Ley, ler a bíblia diariamente alternando o leitor durante um ano, só assim debatemos seu conteúdo. Em um de meus dias lia eu em voz alta Gênesis 27 versículo 7; " Traze-me caça e faze-me um guisado saboroso, para que eu coma e te abençoe diante do face do Senhor, antes da minha morte". Em primeiro momento exclamei assustado ; Como? Do face? Logo, vi meu erro crasso, "da face". Ufa, já estava pensando em pedir para Ele me adicionar...
ResponderExcluirQueridos Antônio & Ley,
Excluirfui consultar a minha velha bíblia que tenho há 60 anos (usualmente consulto a do Pastor Google, pois é de mais fácil acesso) e vejo que na minha versão o Senhor não tem 'face', logo não corri à tentação de querer que ele me adicionasse: Veja o Gen, 27, 7: e lhe prepare um bom prato, a fim de comer e o abençoar diante do Senhor antes de morrer.
Obrigado por serem meus leitores e me remeterem ao livro que tem destaque em minha biblioteca, no setor de livros raros e preciosos.
A admiração do
achassot
Mestre, mudando do saco pra mala, peguei o gancho de teu desafio ao professor Garin e, valendo o desafio da construção a seis mãos, te passo a bola:
ResponderExcluir"Tenho uma enorme angústia quando vejo esta página, assim, sem nada. A mim parece que o mundo perdeu seu sentido, deixou de existir. Tenho uma sensação de vazio, de nada, de abismo sem fundo. Minha compulsão imediata é tomar a caneta e preencher todos os espaços com uma narrativa que faça sentido, que pelo menos tenha o sentido de me transportar da sensação niilista para a noção de que há sentido nestes espaços, que agora, não estão mais imersos no nada!"
O branco da página ainda segue ali, zombeteiro e desafiador. Ele por vezes instiga a criação, brincar de Deus diante de um éter que clama o Fiat Lux divino. Não tenho a habilidade de desenho de minha irmã, mas até que tento desfi(l)ar o caminho das letras e outros signos.
Palavras vão brotando, como botões de flor numa planta. De toda a verdade, algo me inquieta, me desassossega, me faz colocar o que penso e o o que penso-que-penso em papel, tela de computador ou na tela do celular, apressadamente.
O desafio da folha branca vai se tornando interessante. É como se o colocar as ideias para fora se tomasse de um sentido, não o mero e diletante desafio de preencher espaços. O que estava na mente, embrionárias ideias, vai ganhando forma. As idas e vindas da vida no ano, as mudanças, de professor a aluno, o retomar de sonhos, tudo vira (ins)piração para a frase, para o texto.
O abismo de Garin aos poucos se torna uma baixada sem o susto das alturas. Estamos em terra firme, em chão seguro. E segue a escrita...