ANO
9 |
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2948
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Já contei aqui de minha
estada, no sábado, na Manchester Paulista para participar do 16º Seminário Internacional de
Educação de Sorocaba. Minhas ações no evento centraram-se no Eixo 1: cotidiano escolar alfabetização e
letramento: concepção de alfabetização e letramento em todas as áreas do
conhecimento. Minha contribuição teve com foco a alfabetização científica.
A Professora Solange Aparecida
da Silva Brito na abertura das duas sessões plenárias do Eixo 1, trouxe
sumarentas reflexões. Em uma delas, suas evocações nos levaram a viajar a nossa
alfabetização. A Sol nos fez folhear a cartilha que há muito está amarelecida
em nossa memória. Brindo meus leitores com excertos de uma das falas da
Supervisora de Ensino da Secretaria Municipal de Educação de Sorocaba.
Precisamos da escola de ontem para ter a escola de hoje!
O mundo é dinâmico, o conhecimento transforma o cotidiano,
reaproveita, reinventa, melhora... Em tempos de celular, quem vai acender uma
fogueira numa colina para mandar um recado aos familiares? Mas, não se pode
negar a importância da comunicação primitiva para o povo de sua época.
Tampouco, podemos negar a legitimidade e eficiência do modo como
fomos alfabetizados.
Repetíamos aos coros: “VOVÔ VIU A UVA. O DEDO É DE ADA. O BOI
BABA” e tantas outras frases tão filosóficas quanto essas que podiam não fazer
muito sentido, mas atendiam ao propósito de garantir que o aluno aprendesse a
decodificar a junção das letras do alfabeto inserindo-o assim, ao mundo dos
leitores.
E se algum desavisado/curioso perguntasse: Quem é ADA? Provavelmente
receberia a resposta de que era a irmã da EVA, da lição da VACA. E passaria a
pensar, por muito tempo, afinal a cartilha só terminava na lição da ZEBRA, que
a escolha do nome dos filhos dependia de, até onde você estudou a cartilha.
Mas...
Brincadeiras a parte, é inegável o valor e eficácia do método
empirista pelo qual grande parte de nós fomos alfabetizados, prova disso são as
maravilhas escritas por Drummond, Renato Russo, Fernando Sabino, Cazuza entre
outros tantos e também como demos conta de fazer parte do mundo quer seja como
professores, donas de casa que vão ao supermercado, leem jornais, revistas etc.
Mas sendo realistas...
Se chegarmos para nossos alunos ou filhos e iniciarmos o
processo de alfabetização pedindo para que eles leiam “O BOI BABA”, eles vão
querer fazer uma pesquisa completa na internet, sobre o MAL DA VACA LOUCA, (de
preferência pelo Google – que eles já sabem pronunciar, enquanto você ainda
fala Google) querendo que haja todo tipo de informação sobre os perigos dessa
doença para a humanidade. E mais... é bem possível que elas convençam você a se
filiar a uma ONG que divulgue, informe e procure alternativas de cura para essa
tão grave doença que atinge os bovinos. E é capaz de dizer que ONG tem N antes
do G, porque só pode usar M antes P e de B e aí você vai se perguntar, como é
possível querer simplesmente e pretensiosamente “ensinar” esse ser a ler O BOI
BABA, quando ele já traz consigo tantos outros conhecimentos?
É nesse contexto que a teoria da psicogênese da linguagem
escrita surge com novas possibilidades para serem exploradas em sala de aula,
tornando o processo de alfabetização algo imensamente prazeroso e significativo
para as crianças.
Quer forma mais motivante de aprender a usar letra maiúscula na
escrita de nomes próprios do que fazer listas com os nomes dos seus amigos de
sala de aula, ou escrever bilhetinhos e cartinhas para eles, ao invés de
descobrir que a ADA QUE TEM O DEDO é irmã da EVA QUE VIU A VACA?
Na teoria construtivista a criança é agente no processo de
alfabetização, traz consigo conhecimentos prévios que serão somados aos novos
conhecimentos que vai adquirindo ao longo do processo de aprendizagem, acomoda
esses conhecimentos em novas estruturas, possibilitando-o agir sobre o objeto
novamente e assim continuar o processo de desenvolvimento.
Pense ser alfabetizado lendo, escrevendo, e reinventando as
parlendas que o vovô falava, como Hoje é
Domingo pé de cachimbo, O boi que não é o que baba, mas é o da cara preta,
aquele que pega criancinhas que tem medo de careta. Dessa forma a criança
aprende brincando, divertindo-se, poderíamos ousar dizer que, aprender pode até
ter como sinônimos as palavras prazer/diversão.
Ouvir leituras torna-se um hábito na sala de aula. Clássicos
como Chapeuzinho Vermelho, Os três porquinhos, Branca de Neve que tanto
encantam as crianças, passam a ser companheiras de leituras que vão de Fernando
Pessoa, Clarice Lispector a Zé Paulo Paes, Pedro Bandeira entre outros,
deixando as crianças tão íntimas desse pessoal que ao ouvir referência a
algumas de suas obras, os nomeia tal qual nomeiam seus colegas de sala de aula,
pois é exatamente isso que os autores se tornam, colegas, parceiros na busca e
construção do conhecimento, afinal os ouvidos foram feitos para ouvir e
diferente do paladar que inicia seu desenvolvimento com o gosto único da
sobrevivência Láctea, depois o doce das frutas e por último o sabor do sal, a
audição pode sim ser inundada com todos os sabores ao mesmo tempo, músicas,
poesias, prosas, versos, histórias, contos, crônicas etc.
Mestre Chassot,
ResponderExcluirO texto primoroso da educadora sorocabana, me vez viajar a canção Guri de Cesar Passarinho:
Das roupas velhas do pai queria que a mãe fizesse
Uma mala de garupa e uma bombacha e me desse
Queria boinas e alpargatas e um cachorro companheiro
Pra me ajudar a botar as vacas no meu petiço sogueiro
Hei de ter uma tabuada e o meu livro "Queres Ler"
Vou aprender a fazer contas e algum bilhete escrever
Pra que a filha do seu Bento saiba que ela é meu bem querer
E se não for por escrito eu não me animo a dizer
Parabéns a Professora Solange,
Laurus Loureiro Lima
Querido Mestre Chassot,
ResponderExcluirremontei há mais de 50 anos para reencontrar-me com minha cartilha encapada carinhosamente por minha mãe. Saboreei as uvas que vovô viu e acompanhei o voo da ave da Eva.
Penso que minha cartilha se chamava “Queres Ler” como aquela do guri da linda canção do César Passarinho. Já aguardo outros textos da Professora Solange.
Parabéns a ela e ao seu blogue, que leio a cada dia
M M
Vermeer Professor!
ResponderExcluirAinda hoje citei teu sancto nomine em uma palestra, dizendo que a escola dogmática e repassadora de "contiúdos" está morta ou doente. Nós temos de ser os orientadores de nossos pupilos na árdua missão pós-moderna de transformar informação em conhecimento. Ensinar a pensar. Ensinar a pensar sobre pensar…
Parabéns pela nova edição do "Alfabetização Científica". Soube na banca da Editora da Unijuí na Feira do Livro.
Jactei-me sobre ser amigo d'O Mestre.
Abraços,
teu aluno Guy
Caríssimo Prof. Chassot e leitores...
ResponderExcluirDemorei para agradecer, publicamente, a visibilidade que o Prof. Chassot deu ao meu texto, por pura falta de habilidade com blogues...
Mas estou muito lisonjeada e honrada de que minhas palavras acerca da alfabetização tenham tocado algumas pessoas...
Mais uma vez, MUITO OBRIGADA!!!