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quarta-feira, 2 de julho de 2014

02.- EVOCANDO APRENDER METÁFORAS

ANO
 8
Livraria virtual em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2822


Envolvido na preparação de dois textos: “Assestando óculos para olhar o mundo” e “Arrumando nossa caixa de ferramentas” dava-me conta de meus dois títulos sabiam (na acepção de ter sabor) a metáforas.
Quando evoco o uso de metáforas, não há como não há como não evocar as discussões entre o Carteiro e o Poeta, no excelente filme italiano ‘Il postinho’1,2 a partir da obra de Antônio Skarmeta3.
O filme é uma saborosa conversação entre o ilhéu Mário Ruoppolo, filho de pescador, sem ocupação fixa e o poeta chileno Pablo Neruda, exilado político na ilha aonde mora Mario. Este alimenta o desejo de fugir da profissão de seu pai, pois tem enjoos com os balanços do mar. Para tal, ser alfabetizado e ter uma bicicleta são trunfos decisivos para outra maneira de viver na ilhota. Assim, consegue o emprego de carteiro e termina por prestar serviços, quase exclusivos, ao poeta chileno Pablo Neruda, um dos raros letrados, logo dos poucos que recebem cartas, na ilha mediterrânea onde trabalha Mario.
Orgulhoso das charlas que desfruta e encantado com a simpatia que o poeta desperta nas mulheres, demonstrado nas inúmeras cartas que entrega a seu cliente, Mário se aproxima de Neruda e nas idas diárias à sua casa começa a nascer uma sólida amizade entre o simplório carteiro e o escritor renomado.
Buscando conquistar o amor da bela e difícil Beatrice, Mário encomenda uma poesia de amor ao poeta. Neruda se recusa a fazê-la e argumenta: “um poeta precisa conhecer o objeto de sua inspiração; não posso criar algo do nada”. Mário reage: “escute poeta, assim, nunca vai ganhar o Prêmio Nobel…” Todavia, Neruda começa a dar aulas de poesia ao carteiro.
Na primeira lição ensina a respeito de metáforas – muito usadas por ele, em suas poesias. A metáfora é um tipo de figura de linguagem que emprega a palavra fora do seu sentido normal, por efeito de analogia (comparação). Tudo o que está em nossa volta serve-nos como metáfora para explicarmos sentimentos, ações, estados.
Neruda lhe pede que observe a baía, o movimento do mar… e descreva o que está em sua volta. Mário deslumbra-se: “Não sei se consigo explicar, mas… quer dizer que todas as coisas, o mar, o céu, as nuvens… o mundo inteiro é uma metáfora de alguma coisa?”
O diálogo entre os dois, a seguir, é um dos pontos altos deste sensível filme:
O Poeta – “Metáfora é quando você fala uma coisa, mas compara com outra. Por exemplo, o céu chora, o que quer dizer que está chovendo”.
O Carteiro – “E por que tem um nome tão complicado?”
O Poeta – “O homem não tem direito sobre a simplicidade e a complexidade das coisas” Quando o carteiro pediu para que ele explicasse melhor, o poeta acrescenta: “Quando tentamos explicar, a poesia se torna banal. Melhor do que qualquer explicação é a experiência das emoções que a poesia revela para uma alma disposta a compreendê-la”.
Em outro momento, o carteiro pergunta: “Como me torno um poeta?”
O Poeta – “Vá caminhando ao longo da baía e observe tudo”
O Carteiro – “E vou aprender a criar metáforas?”
O Poeta – “Certamente!”
Como resultado dessas teóricas e práticas aulas, Mário elabora o seu primeiro poema à Beatrice (“seu sorriso se abre como as asas de uma borboleta”) e conquista a sua sonhada inspiração. E…, diz o poeta: que tal conceituar metaforicamente a metáfora? A metáfora é o sal da terra que fertiliza a palavra e a transforma em poesia.
1.- Il Postino ou 'O Carteiro e o Poeta' (título no Brasil) ou 'O Carteiro de Pablo Neruda' (título em Portugal)) é um filme dirigido por Michael Radford. Baseado no livro Il Postino de Antonio Skármeta. Uma primeira versão do roteiro, feita por Massimo Troisi que também interpretou o carteiro já havia sido realizada em 1983. O livro e a primeira versão do roteiro se passavam no Chile, por volta de 1970, quando Neruda vivia em Isla Negra. Na versão mostrada em Il Postino, a história se passa na Itália nos anos 50.
2,- É provável que Il postino seja um dos filmes acerca do qual haja um maior número de trabalhos acadêmicos, estudando, com diferentes referenciais teóricos muito variados o tema metáforas. Vale conferir no Google Scholar, por exemplo.
3.- Esteban ANTONIO SKÁRMETA Branicic nasceu em 7 de novembro de 1940 em Antofagasta, Chile. É descendente de croatas. Skármeta estudou Filosofia e Literatura na Universidade do Chile. Seus estudos de filosofia foram realizados sob a direção de Francisco Soler Grima, um filósofo alemão, discípulo de Julián Marías e de José Ortega y Gasset. Suas teses versam sobre o pensamento desse último. Seguindo a linha de Soler, se interessa pelas filosofias de Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Martin Heidegger. Logo realizou estudos nos Estados Unidos e se graduou na Universidade de Columbia. Devido ao golpe militar em Chile teve que sair do país. A primeira escala foi Argentina, onde residiu durante um ano. Logo partiu rumo a Alemanha Ocidental onde se dedicou ao cinema. Trabalhou como professor na Academia Alemã de Cinema e Televisão em Berlim Ocidental. Em 1989 regressou ao Chile após o longo exílio de 16 anos. Criou um programa de televisão chamado O show dos livros.

4 comentários:

  1. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça! Nosso aÇucar de nosso cafÉ hoje estÁ garantido.

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  2. Metáfora

    No campo a emoção no pé talentoso
    Em Brasília rouba-se a pátria a rodo
    Na merda povão vivendo de teimoso
    E até esseteefe com põe pé no lodo.

    Fico aqui pensando com meus botões
    Saindo Barbosa abre-se nova pizzaria
    Nós continuamos com cara de bobões
    Vítimas dos politicanalhas e da porfia.

    Oh Pindorama, terra dos espertalhões
    Terra do futuro como meu avô dizia?
    Não sei, terra dos porquês e senões
    Ou terra de riqueza e de barriga vazia?

    Então vamos torcendo pelas seleções
    Estampando no rosto uma falsa alegria.

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  3. Meu caro Vanderlei,
    talvez... quando vivemos no mundo da lua! ... e é saboroso!

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