ANO
8 |
EDIÇÃO
2822
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Envolvido na preparação de dois textos: “Assestando óculos para olhar o mundo” e
“Arrumando nossa caixa de ferramentas” dava-me
conta de meus dois títulos sabiam (na acepção de ter sabor) a metáforas.
Quando evoco o uso
de metáforas, não há como não há como não evocar as discussões entre o Carteiro
e o Poeta, no excelente filme italiano ‘Il
postinho’1,2 a partir da obra de Antônio Skarmeta3.
O filme é uma
saborosa conversação entre o ilhéu
Mário Ruoppolo, filho de pescador, sem ocupação fixa e o poeta chileno Pablo
Neruda, exilado político na ilha aonde mora Mario. Este alimenta o desejo de
fugir da profissão de seu pai, pois tem enjoos com os balanços do mar. Para
tal, ser alfabetizado e ter uma bicicleta são trunfos decisivos para outra
maneira de viver na ilhota. Assim, consegue o emprego de carteiro e termina por
prestar serviços, quase exclusivos, ao poeta chileno Pablo Neruda, um dos raros
letrados, logo dos poucos que recebem cartas, na ilha mediterrânea onde trabalha
Mario.
Orgulhoso das charlas que desfruta e
encantado com a simpatia que o poeta desperta nas mulheres, demonstrado nas
inúmeras cartas que entrega a seu cliente, Mário se aproxima de Neruda e nas
idas diárias à sua casa começa a nascer uma sólida amizade entre o simplório
carteiro e o escritor renomado.
Buscando conquistar o amor da bela e
difícil Beatrice, Mário encomenda uma poesia de amor ao poeta. Neruda se recusa
a fazê-la e argumenta: “um poeta precisa conhecer o objeto de sua inspiração;
não posso criar algo do nada”. Mário reage: “escute poeta, assim, nunca vai
ganhar o Prêmio Nobel…” Todavia, Neruda começa a dar aulas de poesia ao
carteiro.
Na primeira lição ensina a respeito de
metáforas – muito usadas por ele, em suas poesias. A metáfora é um tipo de
figura de linguagem que emprega a palavra fora do seu sentido normal, por
efeito de analogia (comparação). Tudo o que está em nossa volta serve-nos como
metáfora para explicarmos sentimentos, ações, estados.
Neruda lhe pede que observe a baía, o
movimento do mar… e descreva o que está em sua volta. Mário deslumbra-se: “Não
sei se consigo explicar, mas… quer dizer que todas as coisas, o mar, o céu, as
nuvens… o mundo inteiro é uma metáfora de alguma coisa?”
O diálogo entre os dois, a seguir, é um
dos pontos altos deste sensível filme:
O Poeta – “Metáfora é quando você fala uma coisa, mas
compara com outra. Por exemplo, o céu chora, o que quer dizer que está
chovendo”.
O Carteiro – “E por que tem um nome tão complicado?”
O Poeta – “O homem não tem direito sobre a simplicidade e a
complexidade das coisas” Quando o carteiro pediu para que ele explicasse
melhor, o poeta acrescenta: “Quando tentamos explicar, a poesia se torna banal.
Melhor do que qualquer explicação é a experiência das emoções que a poesia
revela para uma alma disposta a compreendê-la”.
Em outro momento, o carteiro pergunta: “Como me torno um
poeta?”
O Poeta – “Vá caminhando ao longo da baía e observe tudo”
O Carteiro – “E vou aprender a criar metáforas?”
O Poeta – “Certamente!”
Como resultado dessas teóricas e
práticas aulas, Mário elabora o seu primeiro poema à Beatrice (“seu sorriso se
abre como as asas de uma borboleta”) e conquista a sua sonhada inspiração. E…, diz
o poeta: que tal conceituar metaforicamente a metáfora? A metáfora é o sal da
terra que fertiliza a palavra e a transforma em poesia.
1.- Il Postino ou 'O Carteiro e o Poeta' (título no Brasil) ou 'O Carteiro de Pablo Neruda' (título em Portugal)) é um filme
dirigido por Michael Radford. Baseado no livro Il Postino de Antonio Skármeta. Uma primeira versão do roteiro,
feita por Massimo Troisi que também interpretou o carteiro já havia sido
realizada em 1983. O livro e a primeira versão do roteiro se passavam no Chile,
por volta de 1970, quando Neruda vivia em Isla Negra. Na versão mostrada em Il Postino, a história se passa na
Itália nos anos 50.
2,- É provável que Il postino seja um dos filmes acerca do
qual haja um maior número de trabalhos acadêmicos, estudando, com diferentes
referenciais teóricos muito variados o tema metáforas. Vale
conferir no Google Scholar, por exemplo.
3.- Esteban ANTONIO
SKÁRMETA Branicic nasceu em 7 de novembro de 1940 em Antofagasta, Chile. É
descendente de croatas. Skármeta estudou Filosofia e Literatura na Universidade
do Chile. Seus estudos de filosofia foram realizados sob a direção de Francisco
Soler Grima, um filósofo alemão, discípulo de Julián Marías e de José Ortega y
Gasset. Suas teses versam sobre o pensamento desse último. Seguindo a linha de
Soler, se interessa pelas filosofias de Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Martin
Heidegger. Logo realizou estudos nos Estados Unidos e se graduou na
Universidade de Columbia. Devido ao golpe militar em Chile teve que sair do
país. A primeira escala foi Argentina, onde residiu durante um ano. Logo partiu
rumo a Alemanha Ocidental onde se dedicou ao cinema. Trabalhou como professor
na Academia Alemã de Cinema e Televisão em Berlim Ocidental. Em 1989 regressou
ao Chile após o longo exílio de 16 anos. Criou um programa de televisão chamado
O show dos livros.
Quem tem ouvidos para ouvir que ouça! Nosso aÇucar de nosso cafÉ hoje estÁ garantido.
ResponderExcluirMetáfora
ResponderExcluirNo campo a emoção no pé talentoso
Em Brasília rouba-se a pátria a rodo
Na merda povão vivendo de teimoso
E até esseteefe com põe pé no lodo.
Fico aqui pensando com meus botões
Saindo Barbosa abre-se nova pizzaria
Nós continuamos com cara de bobões
Vítimas dos politicanalhas e da porfia.
Oh Pindorama, terra dos espertalhões
Terra do futuro como meu avô dizia?
Não sei, terra dos porquês e senões
Ou terra de riqueza e de barriga vazia?
Então vamos torcendo pelas seleções
Estampando no rosto uma falsa alegria.
Viver seria(será) uma metáfora?
ResponderExcluirMeu caro Vanderlei,
ResponderExcluirtalvez... quando vivemos no mundo da lua! ... e é saboroso!