ANO
8 |
EDIÇÃO
2835
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Há dia passado — mais precisamente em 05
deste mês — citei, quase como Pilatos no credo, o jesuíta
Pierre Teilhard de Chardin. Dizia, então, que planejara fazer naquele texto uma
nota de rodapé; conclui que o incompreendido paleontólogo francês devia merecer
uma blogada especial. Promessa é dívida,
já dizia minha avó Suzana. Assim, aqui e agora, cumpro a promessa.
Pierre
Teilhard de Chardin (Orcines, 01 de maio de 1881 — Nova Iorque, 10 de abril de 1955)
foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que tentou
construir uma visão integradora entre ciência e teologia.
Criado
em uma família profundamente católica, Chardin entrou para o noviciado da
Companhia de Jesus em Aix-en-Provence no ano de 1899 e para o juniorado em
1900, em Laval. Era a época das reformas liberais de Waldeck-Rousseau, que
retirara das universidades católicas o direito de conceder graus e
posteriormente dissolveu as ordens religiosas e expulsou vinte mil religiosos
da França. Por este motivo, teve que deixar a França e os seus estudos
prosseguiram na ilha de Jersey, Inglaterra, onde cursou filosofia e letras.
Licenciou-se neste curso em 1902. Entre 1905 e 1908 foi professor de física e
química no colégio jesuíta da Sagrada Família do Cairo, no Egito, onde teve
oportunidade de continuar suas pesquisas geológicas, iniciadas na Inglaterra.
Seus estudos de teologia foram retomados em Ore Place, de 1908 a 1912.
Ordenou-se sacerdote em 1911.
Em
1922, escreveu Nota sobre algumas representações históricas possíveis
do pecado original, que gerou um dossiê pela Santa Sé, acusando-o de negar
o dogma do pecado original. Teve que assinar um texto que exprimia este dogma
do ponto de vista ortodoxo e foi obrigado a abandonar a cátedra em Paris e
embarcar para Tianjin na China. Este fato marcaria uma nova etapa da sua vida:
o silêncio sobre temas eclesiais e teológicos que duraria o resto da sua existência.
Foi-lhe permitido trabalhar em pesquisas científicas, mas, suas publicações
deveriam ser cuidadosamente revisadas.
Em
Pequim, escreveu sua obra prima: O
Fenômeno Humano. Encaminhou a obra a Roma em 1940, que prometeu o exame por
teólogos competentes. Várias revisões foram encaminhadas sem que o nihil obstat (= nada contra, pode ser publicado) fosse concedido.
Em
1946 retornou a Paris. Seus textos mimeografados continuavam a circular e suas conferências
lotavam os auditórios. Foi convidado a lecionar no Collège de France. Diante de ameaças de novas sanções pela Santa
Sé, dirige-se a Roma em 1948. A visita foi inútil: foi proibido de ensinar e a
publicação do Fenômeno Humano não foi
autorizada. O Santo Ofício solicitou ao Arcebispo de Paris que detivesse a
publicação das obras. Em 1957, um decreto deste mesmo órgão decidiu que estes
livros fossem retirados das bibliotecas dos seminários e institutos religiosos,
não fossem vendidos nas livrarias católicas e não fossem traduzidos.
No
mesmo ano de sua morte (1955), as Éditions du Seuil lançaram o primeiro volume
das Ouevres de Teilhard de Chardin. A
sua obra continuou a ser editada, chegando ao décimo terceiro volume em 1976,
pela mesma editora e foi traduzida em diversos idiomas. Seu trabalho teve
grande repercussão, gerando diversos estudos a cerca de sua obra até nos dias
atuais.
Os detentores do poder sempre se arvorarão na defesa dos seus convenientes dogmas. O raciocínio zetético trará a luz o caminho mais certo. Pierre Chardin foi um mediador. Mundo hipócrita esse nosso que o reconhecimento só ocorre no pós morte.
ResponderExcluirQuando os Interesses são postos acima do Bom Senso...
ResponderExcluirUma pista de que nem todos os homens são humanos.
Teilhard de Chardin merece ser lebrado como um dos maiores pensadores do século XX. É muito necessário que as pessoas voltem a estudar sua obra magnífica.
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