ANO
8 |
EDIÇÃO
2839
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Encerrava a edição de ontem, com a piadinha
de época envolvendo ‘torcer’ tão presentes em dias copeiros recém-vividos. Para
um sábado, cabe ampliar as considerações acerca do pensamento mágico, na
esteira do qual surgiu ao assunto mais algumas considerações.
Quando parece que
convenço aos estudantes que ‘torcer (sem ir a campo) não modifica em nada um
possível resultado, sou tentado a fazer outra pergunta: “E, rezar adianta?” Não caio na tentação. Abstenho-me de perguntar.
Muitas vezes, parece sábio não promover embates entre o racionalismo e as muito
diferenciadas acreditações de cada um. Na mesma direção poderia questionar: fazer promessas em troca de favores de
forças míticas adianta?
Aliás, fazer
promessas não está necessariamente associado à crença religiosa. Alguns hão de
recordar, quando nos anos 1980, uma das febres nacionais era a ‘loteria
esportiva’ que premiava a quem acertasse treze jogos de futebol. Havia muitos,
então, que, antecipadamente, faziam promessas de doar (isso ou aquilo) caso
fossem ganhadores. Parecia haver uma tentativa de compactuar com forças
superiores: se me deres tanto, devolvo uma parte em boas obras.
Também, já que
referi ontem horóscopos, estes não se associam a sentimentos religiosos, mas
buscam uma dita cientificidade zodiacal. Talvez por isso que os adeptos dos
horóscopos estão presentes nos mais distintos estratos culturais. Não é sem
razão que muitos declinam seu signo de maneira quase isonômica como fazem com
sua data de nascimento, seu CPF ou RG.
Parece que a crença
no poder dos astros regerem nossas vidas está em baixa, mesmo que veja, ainda,
previsões astrológicas para cada signo, publicados em jornais e revistas de
grande circulação. Recordo ter conhecido pessoas que não saiam de casa sem ler
as previsões para seu signo e esta previsão determinava estado de espírito,
decisão acerca da roupa ou roteiro de trânsito a ser seguido. Aqui, há que
registrar: dizer-se não acreditar em horóscopos, não significa afirmar que os
usuários dos mesmos não sejam psicologicamente influenciados pelos mesmos. E
como a orientação destes é, de maneira usual, positiva horóscopos podem ser
confortáveis e até saudáveis para alguns.
Afigura-me que de
maneira semelhante se pode referir ao placebo
(do latim placere, significando
"agradarei") que é, como
registra a Wikipédia, “se denomina um fármaco ou procedimento inerte, e que
apresenta efeitos terapêuticos devido aos efeitos psicológicos da crença do
paciente de que está a ser tratado. Muitos médicos também podem atribuir efeito
placebo a medicamentos com princípios ativos, mas que apresentam efeitos terapêuticos
diferentes do esperado.”
Por exemplo, um
comprimido de vitamina C pode aliviar a dor de cabeça de quem acredite estar
ingerindo um analgésico, sendo um exemplo clássico de que o que melhora é não
apenas o conteúdo do que ingerimos, mas também o acreditar que estamos ingerindo
um medicamento. Isto é, um medicamento administrado mais para agradar do que
beneficiar o paciente. Não há como não aparentar que ingerimos pílulas de pensamento mágico.
Neste mesmo viés, o elogio também tem lá seus poderes mágicos. Quanto elogio vazio com a pura intenção de agradar.
ResponderExcluirO galanteio, por exemplo, carregado de ilusões. No entanto se gosta. A mulher, mesmo sabendo que não tem determinado atributo dito pelo galanteador, gosta de do que ouve. Porque isso lhe faz bem, conforta, infla o ego. E por aí vai...
Me lembra o dito popular: "Me engana que eu gosto".
Aquele abraço.
Quanto ao efeito placebo lembrei-me da historia de Frei Galvão e suas famosas pílulas de papel, onde o religioso pela falta absoluta de recursos curava os seus pacientes dando-lhes os referidos comprimidos feitos de pequenos pedaços de papel onde o Frei escrevia preces.
ResponderExcluirMas aproveitando o tema segue uma pequena anedota.
Um grande empresário quase falido fazia as suas preces a Santa Edwiges, dita dos endividados, pedindo solução para uma duplicata de milhões vencida sem quitação. Na saída da igreja ouviu um caipira rezando em voz alta: "Minha santa me ajuda a pagar meus cem reais de aluguel". Indignado o empresário mete a mão no bolso tira cem reais e dá ao caipira dizendo: " Toma, não ocupa a santa com besteira!"