ANO
8 |
EDIÇÃO
2830
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Se nos dias atuais, quase não percebemos como
o saneamento básico, as vacinas e os antibióticos modificaram/modificam nossa
qualidade de vida, vimos na edição de segunda-feira o quanto a estas produções
da Ciência modificaram o perfil de óbitos na Primeira Guerra Mundial. Foi essa mesma Ciência que produziu a arma
mais mortífera na Segunda Guerra Mundial
— a bomba atômica —. Os devastadores feitos em Hiroshima e em Nagasaki
constituíram-se em ícones novos indicadores do poderio bélico de potências.
Por outro lado na Segunda Guerra Mundial foi a toda poderosa bomba atômica que exigiu
esforços de renomados cientistas consumindo recursos imensos que acelerou com o
término de um dos mais bárbaros genocídios da história do Planeta. Hiroshima e
Nagasaki constituíram-se em ícones novos indicadores do poderio bélico de
potências, como se pretende mostrar agora.
Sobre este tema, a seguir comentários
preparados a partir de excertos do texto “Hiroshima
e Nagasaki: o maior crime de guerra contra a humanidade segue impune*” de autoria de José Rogério Beier, do mestrado
em História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, bacharel e licenciado em História pela mesma
universidade.
Hiroshima e Nagasaki: crime
ainda impune. Em agosto de 1945
os Estados Unidos da América entraram para a história mundial por ser Estados
Unidos da América entraram para a história mundial por ser a primeira e única
nação a despejar o terror atômico sobre enormes populações de civis. Mesmo que a
Segunda Guerra Mundial estivesse quase
acabada, havia que justificar o gasto de 2,6 bilhões de dólares no Projeto
Manhattan (projeto de construção da bomba atômica). Presidente Harry Truman
busca oportunidades para demonstrar ao mundo o tamanho do poder bélico dos
Estados Unidos: opta-se pelo holocausto nuclear contra as cidades japonesas de
Hiroshima e Nagasaki.
O povo
estadunidense já estava sendo “envenenado” há muito tempo por sua mídia
tendenciosa que os fazia crer que a bomba atômica daria fim a uma guerra e
salvaria vidas, já que seus filhos retornariam a seus lares. De acordo com Livro Negro dos EUA, de Peter Scowen: “(…) para os estadunidenses, a detonação das
bombas em Hiroshima e Nagasaki foram ações militares realizadas contra uma
nação despótica que só podia culpar a si mesmo pelo sofrimento de seu povo. (…)
Havia até um fervor religioso no desempenho estadunidense, pelo menos na cabeça
de Truman: “… Agradecemos a Deus por [a
bomba] ter vindo a nós ao invés de nossos inimigos; e oramos para que Ele nos
guie para usa-la a Sua maneira e com Seus propósitos…”
Foi assim que, no fatídico dia 06 de agosto
de 1945, movidos além de tudo por um sentimento indissimulável de vingança pelo
ataque japonês à base militar de Pearl Harbor, aviões estadunidenses se
aproximaram do primeiro alvo a sofrer os horrores das armas nucleares.
Hiroshima, a então sétima maior cidade japonesa, com 350 mil habitantes, foi alvejada
pelo Enola Gay [nome dado ao bombardeiro B-29 pilotado pelo coronel Paul
Tibbets Jr., então com 30 anos, que desde fevereiro de 1945 preparava-se para a
missão; o B-29, batizando-o com o nome Enola Gay em homenagem à sua mãe] que
lançou a bomba Little Boy ["Menino Pequeno” nome-código
dado à primeira das bombas atômicas lançadas no Japão(alusão a personagem de
literatura policial criado por Dashiell Hammett)]. Isto até o fim do ano de 1945, decretou a morte
de aproximadamente 150 mil japoneses, dos quais apenas 20 mil eram militares.
Não satisfeitos com
tamanha atrocidade e, apenas, três dias depois do primeiro ataque, como se
fosse possível preparar uma declaração total de rendição incondicional em três
dias, os estadunidenses atacaram a segunda cidade-alvo no dia 09 de agosto.
Nagasaki e seus 175 mil habitantes foram vítimas da bomba Fat Man ["Homem Gordo", nome-código dado à segunda das bombas atômicas
lançadas no Japão, (como Litlle Boy, é alusão a personagem de literatura
policial criado por Dashiell Hammett)], lançada pelo B-29 Bockscar — uma segunda e quase duas vezes mais poderosa que a primeira
bomba. Esta vitimou aproximadamente 70 mil seres humanos na contabilidade
macabra feita em dezembro de 1945.
De acordo com
estudos realizados nos escombros das cidades, praticamente todas as pessoas que
estavam até 1 km do centro da explosão foram mortas instantaneamente (86%). As
bombas explodiram nos centros das cidades e pulverizaram escolas, escritórios,
prisões, lares, igrejas e hospitais. No centro do ataque, tudo virou pó, não
havia cadáveres. Mais longe do ponto zero havia corpos espalhados por toda
parte, inclusive de bebês e crianças.
Ainda hoje,
continuam morrendo pessoas vítimas de câncer herdado geneticamente de seus pais
e avós, além de ser possível encontrarmos nos dias atuais, milhares de pessoas
com deformações físicas, câncer congênito, problemas de esterilidade e outras
doenças decorrentes da liberação radioativa sobre essas cidades em 1945. O
Japão rendeu-se em 2 de setembro de 1945. Era o final da Guerra.
Recentemente me candidatei a emprego para o qual estava qualificado. Nenhuma surpresa quando meu currículo foi aprovado e fui chamado a apresentar os documentos e comprovantes necessários à admissão. O que chamou atenção foi o pedido de atestado de sanidade mental que deveria apresentar. Pois é, para um emprego simples, normal, apenas bem qualificado há necessidade de provarmos que não somos loucos de pedra, ou que não portamos algum tipo de desvio comportamental que comprometa nosso desempenho ou as relações pessoais dentro da empresa. Agora me pergunto, e aos governantes de países é exigido que provem serem homens mentalmente SÃOS? Que garantias temos que, homens que podem manipular mecanismos políticos, administrativos ou físicos os quais ameaçam de morte milhões de pessoas, são mentalmente responsáveis? Para reflexão, abaixo relaciono quatro notícias sobre testes nucleares realizados por quatro países governados por HOMENS. Homens que não foram submetidos a testes de lucidez por ninguém antes de tornarem-se dirigentes de suas nações:
ResponderExcluirESTADOS UNIDOS:
A mais de 50 anos um teste atômico chamado Castle Bravo, com uma bomba de hidrogênio de 15 megatons, (quase 1000 vezes maior do que a de Hiroshima) devastou o Atol das Ilhas Bikini, vaporizando 3 ilhas. A temperatura da água subiu a 55 mil graus e no local ficou uma cratera de 2 Km de diâmetro e 75 metros de profundidade, o topo da nuvem da explosão atingiu 40 Km de altura em apenas 6 minutos. Antes do teste (obviamente) todos os habitantes do local, que já haviam sido realocados na ilha Rangerik, foram deslocados para as Ilhas Kili, nas proximidades. No início dos anos 70 o governo dos EUA os levou de volta para o local original (Bikini), mas teve que removê-los novamente porque a radioatividade ainda era alta. O Atol é parte das Ilhas Marshall, um local remoto no meio do Oceano Pacífico, com paisagens paradisíacas e destino turístico famoso, hoje a área de Bikini raramente recebe visitantes e deve permanecer assim por um bom tempo. Todo o ecossistema parece estar se recuperando muito bem, o que mostra a resistência e capacidade de recuperação da natureza se for deixada em paz. Os mergulhadores atribuem à pouca movimentação humana na área esta recuperação tão forte. Por outro lado, em terra firme, os cientistas dizem não ser possível consumir as frutas nativas que continuam altamente contaminadas pela radiação.
Continuando…
ResponderExcluirFRANÇA:
Finalmente a França se propõe indenizar aqueles que ficaram doentes ou sofreram danos em consequência de testes nucleares realizados pelo país. O governo francês reconhece desta forma pela primeira vez, também em sentido material, que os testes atômicos feitos nas últimas décadas causaram vítimas. Em ilhas como Mururoa e Fangataufa foram realizados, ao longo de 30 anos, cerca de 200 testes, principalmente subterrâneos. No total, 150 mil militares e cidadãos franceses trabalharam nos experimentos com explosão atômica. "Em teoria, eles também têm direito a indenização, tanto quanto as populações locais", diz o ministro da Defesa da França. "Os danos serão integralmente indenizados." No primeiro ano, um total de 10 milhões de euros será disponibilizado para as indenizações. De acordo com as o Ministério da Defesa, algumas centenas de pessoas já podem pedir indenização. Organizações que defendem o interesse das vítimas falam de números muito maiores. Outra conquista é que as vítimas não precisam provar nada: é responsabilidade do governo francês evidenciar que suas doenças não são relacionadas aos testes atômicos. Trata-se, principalmente, de diversos tipos de câncer. De acordo com o ministro Hervé Morin, o governo francês acreditou por muito tempo que "todos os testes nucleares tinham ocorrido de acordo com as regras de segurança". Governos subsequentes também consideravam, segundo o ministro, que a indenização de vítimas poderia ameaçar a política de armas nucleares francesa. Mas Morin acha que agora, 13 anos após o último teste nuclear, "é hora da França se olhar de novo nos olhos". Vários ex-funcionários descreveram como era negligente na época a maneira de lidar com os testes nucleares. "Nós nadávamos duas ou três vezes por dia no local onde eram feitas as explosões subterrâneas", conta Florence Bourel, que trabalhou em Mururoa em 1982 e 83. Em 2002 ela contraiu câncer. Ela culpa o governo francês de ter cometido erros, mas na época não conseguiu nada com sua petição. Agora, seu câncer já foi superado, mas Florence Bourel espera que a nova posição do governo possa restituí-la, pelo menos, em sentido financeiro.
ÍNDIA:
A Índia realizou três testes atômicos subterrâneos no deserto de Rajasthan no dia 11 de maio de 1998. Os testes causaram revolta internacional, e a Índia passou a integrar o grupo das potências nucleares do mundo. Um balão do Greenpeace sobrevoou o Taj Mahal para protestar contra os testes nucleares.
CORÉIA DO NORTE:
Apenas um dia após a comunidade internacional ter condenado com rigor as explosões nucleares subterrâneas na Coreia do Norte, o país disparou dois mísseis de curto alcance (130 quilômetros) na costa leste do Mar Amarelo. Pouco antes, o Conselho de Segurança Organização das Nações Unidas divulgara uma resolução condenando unanimemente os testes. Recentemente, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohammed el Baradei, enquadrara a Coreia do Norte na categoria das potências nucleares. Entretanto, especialistas calculam que o país ainda precisará de até oito anos para poder construir uma ogiva para os mísseis que está produzindo. Acredita-se que as ogivas de teste da Coreia do Norte ainda devem ter o tamanho aproximado da bomba de Hiroshima e não estão aptas a serem acopladas aos mísseis testados. Há consenso que, nos últimos anos, o país produziu plutônio suficiente para construir oito armas atômicas. Contudo, devido a seu tamanho, elas só poderiam ser transportadas por aviões de combate, os quais dificilmente passariam despercebidos pela defesa aérea dos países vizinhos. Mesmo assim, as bombas representam um perigo potencial, por exemplo, para a capital sul-coreana, com 20 milhões de habitantes. Só aproximadamente uma hora antes da explosão, a Coreia do Norte comunicou aos governos em Washington e Pequim que planejava um teste nuclear. O ainda traumatizado Japão, ali nas barbas da Coréia, não recebeu qualquer aviso. JAIR, Canoas, 12/06/09.
A era atômica
ResponderExcluirA era atômica começou com uma frase: "Somos uns filhos das putas". Foram estas as palavras pronunciadas no sentido chulo no dia 16 de Julho de 1945, às 5 horas, 29 minutos e 45 segundos, pelo doutor Kenneth Bainbridge. Acabara de ser testemunha da primeira explosão nuclear no local designado Alamogordo, no deserto do Novo México, exatamente no lugar que tinha o nome que, traduzido da lingua nativa, significa a adequada expressão, "Jornada do Morto". Ali, e naquele momento, a humanidade entrou na denominada "era atômica". Com aquela explosão chegava ao pico o Projeto Manhattan, a maior operação militar secreta de todos os tempos. Sem dúvida, grande parte do mérito daquele feito devia ser creditado ao doutor Julius Robert Oppenheimer, que tinha conseguido levar a bom termo a empresa de que fora encarregado em 1942: fabricar a bomba atômica, “arma que poria fim a todas as guerras”. Apenas um mês depois deste teste, cerca de duzentas mil pessoas pereceriam queimadas, politraumatizadas ou volatizadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasáki. Foram elas as vítimas transformadas em mártires de uma "causa nobre" para encurtar a guerra, e que passaram oficialmente à história como as primeiras vítimas do armamento nuclear. No entanto, os primeiros seres humanos que sofreram na carne os efeitos da radiação de uma bomba atômica foram na realidade norte-americanos. Não havia precedentes, assim teve de se improvisar, o que fez com que em Alamogordo se cometessem os primeiros, embora nem por isso menos graves, erros nos ensaios nucleares. Por exemplo, a estrada nacional 380, que passava apenas a quinze quilômetros do local da explosão, foi atingida por uma considerável dose de radiação sem que se interditasse a passagem de pessoas por lá. Uma dose semelhante de radiação abateu-se sobre as propriedades de duas famílias na cidade vizinha de Bingham, as quais não foram nem alertadas nem evacuadas pelas autoridades militares. Também em locais mais distantes se puderam perceber efeitos da detonação sobre o gado de alguns ranchos dos arredores, já que muitos destes animais apresentavam graves queimaduras produzidas pela radiação beta. Sabe-se que a segurança não foi o aspecto mais brilhante do Projeto Manhattan, em que pese a manutenção do segredo até de sua existência para quem não fosse integrante do projeto. Em 1945, Klaus Fuchs, cientista britânico que participava no projeto, reuniu-se em duas ocasiões com um agente soviético cujo nome de código era Raymond, fornecendo-lhe importantes informações técnicas sobre a explosão experimental de Alamogordo e lançando a semente do programa nuclear soviético. A prisão de Fuchs e sua posterior confissão seriam o tiro de partida da caçada anticomunista do senador Joseph McCarthy. Apesar de terem acontecido essas lambanças, em 1975, o lugar mereceu a designação de monumento histórico nacional, e uma equipe de trabalhadores (os quais receberam uma gratificação extraordinária por trabalharem ali) ergueram um obelisco comemorativo no local exato onde se deu a explosão. Não se tinha passado um ano desde Hiroshima e Nagasáki quando a marinha de guerra norte-americana começou a perguntar-se até que ponto a nova arma também lhes poderia ser útil. Para dar resposta a essa indagação, planejou-se a chamada Operação Crossroads. A data marcada para este novo teste foi o dia 1 de Julho de 1946.
Continuando...Talvez porque os horrores de Hiroshima e Nagasáki ainda eram recentes e mal digeridos, o planeta encontrava-se em plena idade da inocência nuclear. A Operação Crossroads consistia basicamente em comprovar os efeitos que teria uma detonação nuclear sobre uma frota naval, navios e ocupantes. O lugar escolhido para a quarta explosão nuclear da História foi o atol de Bikini, no arquipélago das ilhas Marshall, cenário de uma das mais sangrentas batalhas da guerra do Pacífico. O atol de Bikini ficou tão famoso que deu nome ao maiô, de duas peças bem reduzidas, lançado naquela época. Em Fevereiro de 1946, o Comodoro Ben H. Wyatt, governador militar das ilhas, comunicou oficialmente aos seus habitantes que deveriam abandonar temporariamente as suas casas, já que o Governo dos Estados Unidos tinha previsto efetuar ali uma prova nuclear. O seu sacrifício contaria com a gratidão de toda a humanidade, já que esta prova seria uma peça fundamental no futuro desenvolvimento tecnológico e no fim definitivo de todas as guerras. Assim, em Março de 1946, começou o penoso êxodo dos 167 habitantes de Bikini, com o seu rei à frente, que foram deportados para outro atol a 200 quilômetros de distância, Rongerik, um lugar muito pequeno, com escassez de recursos hídricos e alimentares. Para cúmulo das humilhações e contraridade dos habitantes de Bikini, Rongerik era tradicionalmente considerado como um lugar maldito, local que nem sequer eles visitavam. Tudo isto contribuiu para que os nativos se arrependessem de ter acatado tão docilmente a decisão dos americanos, decisão esta que era mais uma expulsão, não admitia contestação. O certo é que Bikini era o lugar perfeito para aquele objetivo; isolado, deserto (uma vez deportada a população aborígine, claro) e afastado das rotas marítimas habituais. Durante dias espalhou-se pela área circundante uma sinistra frota de barcos fantasmas, formada por embarcações de todos os tipos e tamanhos, - a maior parte capturadas aos inimigos japoneses, - que se encontravam prestes a serem desmanteladas e que serviam de "alvo", levando a bordo uma tripulação formada por 5400 porcos, ratos, cabras e ovelhas que substituiriam os marinheiros e permitiriam estudar os efeitos da radiação sobre os organismos afetados pela detonação. O principal resultado daquela experiência foi que os habitantes de Bikini jamais regressaram à sua ilha, convertendo-se no primeiro povo da História a ter sofrido um êxodo nuclear.
ResponderExcluirContinuando…
ResponderExcluirHoje em dia, levam uma vida errante, dependendo da hospitalidade de outros povos e sonhando em regressar um dia a um paraíso que já não existe.O ano de 1951 foi quando os Estados Unidos conceberam um arsenal nuclear tal como o entendemos na atualidade, o qual foi testado ao longo de uma série de ensaios coletivamente conhecidos como Buster/Jangle e que decorreram num campo de testes instalado no deserto de Nevada para tal efeito. Yucca Flat, um antigo território de garimpeiros situado a menos de cem quilômetros a norte de Las Vegas, foi o local escolhido para as detonações nucleares que foram executadas enquanto durou o projeto. Nessa altura, cientistas e militares tinham interesses diferentes e os testes tiveram de ser planejados para satisfazer as expectativas de ambos. Aos cientistas interessava afinar os aspectos tecnológicos, como o aperfeiçoamento de dispositivos de detonação (espoletas) mais confiáveis, ou encontrar formas de obter uma energia maior com a mesma quantidade de material físsil. Pelo seu lado, os generais precisavam de desenvolver a tática da guerra nuclear, um estilo de combate inédito que necessitaria de procedimentos próprios, além de, é claro, demonstrar ao inimigo o potencial que dispunham no caso de uma guerra. Para desenvolver estas táticas, efetuaram-se uma série de manobras militares que coincidiam com os testes e em que milhares de soldados foram expostos à radiação das explosões nucleares. A primeira destas desafortunadas cobaias foi o 354th Engineer Combat Group, que foi a encarregada de preparar o campo para as primeiras manobras atômicas da História. Se verificarmos as circunstâncias históricas não é de estranhar tanta pressa. No Outono de 1950, a guerra da Coreia encontrava-se no seu apogeu e os Estados Unidos tinham perdido o monopólio nuclear ao ter sido detonado com êxito o primeiro artefato atômico soviético. A guerra fria era um fato e o fantasma de um apocalipse radioativo abatia-se sobre o mundo. A única maneira viável para que o arsenal termonuclear não fosse uma ameaça inútil era conseguir que a sua utilização não fosse um sinônimo do fim do mundo, quebrando a doutrina da suposta "destruição mútua assegurada" que mantinha o precário equilíbrio entre as superpotências. Tratava-se de desenvolver armas menores que fossem suscetíveis de ser utilizadas de modo "seguro" numa batalha real. No entanto, os cientistas não se encontravam ali para testar uma arma, mas sim uma teoria. Concretamente estavam muito mais interessados nos efeitos da radiação sobre os organismos vivos, algo que já tinha começado a ser estudado no atol de Bikini. Desta vez, a novidade era que as centenas de animais que deram as suas vidas pelo progresso atômico foram piedosamente anestesiados, antes de serem expostos aos efeitos da explosão e mais tarde dissecados. Contudo, se na verdade queriam conhecer os efeitos da radiação sobre o corpo humano, podiam ter recorrido aos 75 mil doentes de câncer da tiróide devido, segundo o Instituto Nacional do Câncer, às provas nucleares de Nevada ou às vítimas do aumento de 40% dos casos de leucemia infantil que aconteceram no vizinho Estado de Utah entre 1951 e 1958. O fato concreto é que a era atômica, inaugurada em 1945, estendeu seus testes até 1992. Os americanos admitem oficialmente terem explodido 1054 artefatos nesse período. Fica para outro post os testes concretizados pelas outras potências. JAIR, Floripa, 01/06/09.
A BOMBA
ResponderExcluirToda uma geração nascida pouco antes, durante ou pouco depois da década de quarenta do século passado passou a infância e a juventude sob ameaça aterrorizante da Bomba atômica. Desde que a primeira bomba explodiu no deserto do Novo México seguida das explosões sobre Iroshima e Nagasaki no Japão, nos dias seis e nove de agosto de 1945, possibilidade de que a Bomba atômica fosse utilizada novamente passou a ser uma realidade atemorizante. Logo depois da guerra, quando a figadal inimiga do ocidente, a União Soviética, também desenvolveu a tecnologia que lhe permitiu fabricar o artefato nuclear, o mundo pareceu mais inseguro ainda. Minha geração seguia os noticiários da imprensa com justificável temor, ciente que se algum dirigente afogueado pelo poder que detinha, e temeroso que o outro lado tomasse a iniciativa, apertasse o botão, detonaria a guerra definitiva, a guerra sem vencedores ou vencidos. Na verdade, a BOMBA era uma espécie de entidade misteriosa, malévola e onipresente que permeava nossas mentes, intranqüilizava nossos dias e nos perturbava o sono, pois, como sabíamos, não havia quaisquer defesas ou abrigos que nos protegessem de seus efeitos mortais. O imaginário de minha geração impregnara-se do enigma que envolvia algo tão definitivo e ameaçador; até o vernáculo incorporou o termo ATÔMICO como um superlativo absoluto, alguma coisa atômica estava infinita e transcedentalmente além e acima das outras; ATÔMICO ultrapassava o simples IMAGINÁVEL, o simples CONCEBÍVEL, era o imperativo categórico kantiano aplicado à tecnologia. Além de seu poder destrutivo imensurável, o que nos assombrava também era sua feição, por assim dizer. O que era uma Bomba atômica? Como era fabricada? Donde vinha seu poder? Essas e outras perguntas surgiam naturalmente na medida em que mais se sabia sobre seus efeitos quando das experiências no atol de Bikini, nas estepes geladas da Rússia, no arquipélago de Mururoa e até na distante e pacífica Austrália. Os noticiosos não se cansavam de descrever os incríveis e devastadores resultados sobre as populações das cidades japonesas atingidas e, também, sobre instalações, navios, aviões e prédios colocados ao alcance das explosões experimentais feitas pelos EUA, URSS, França, Inglaterra e, mais tarde, China também. Com o passar do tempo ficamos mais informados sobre as dificuldades colossais que o Projeto Manhatam havia enfrentado para fabricar as primeiras bombas, o qual teve que desenvolver, na prática, equipamentos que permitissem criar fatos que apenas a teoria dizia serem possíveis. Contudo, ainda que acabasse saindo na imprensa todas as démarches políticas e estratégicas sobre o domínio do conhecimento nuclear que permitia outras nações fabricarem a bomba, esta continuava sendo, para o homem comum, vedete indevassável ainda. De tanto se falar nela, de tanto outros países acabarem produzindo-a, a BOMBA acabou perdendo o charme de grande diva maldita; acabou levantando o véu de mistério tecnológico que a envolvia, sua fórmula passou a ser conhecida, quase banalizada.
Continuando…
ResponderExcluirHoje, praticamente qualquer país e até uma organização de grande porte, com algum esforço e dinheiro podem construí-la. Para entendermos tecnicamente como é possível que um artefato de tal poder de destruição e, talvez, de custo proibitivo, possa ser construído por países como o Paquistão (que tem a bomba) ou o Irã (que pretende ter), é necessário que comecemos pelo átomo. O átomo, para efeito didático e num conceito bem elementar, pode ser considerado a menor partícula dos elementos, a menor porção que não perde as características de um elemento. Compõe-se de um núcleo formado por nêutrons e prótons e uma “nuvem” de elétrons que envolve esse núcleo. Pois bem, o que diferencia um elemento do outro são os átomos que o compõe. Os átomos do hidrogênio, por exemplo, têm apenas um próton e um nêutron no núcleo e um elétron em órbita. Elementos outros são compostos de átomos com mais neutros, prótons e elétrons. Assim, na outra ponta da tabela periódica há os elementos “pesados”, como o urânio, - elemento natural mais pesado que existe - que tem peso atômico 238 significando que o somatório de nêutrons e prótons que formam seu núcleo é 238. Acontece que os elementos pesados, por vezes, apresentam isótopos, isto é, têm número diferente de nêutrons no núcleo o que os torna instáveis, passam a emitir nêutrons para se equilibrarem. A essa emissão de nêutrons corresponde uma liberação de energia fantástica que a ciência chama de radioatividade. Juntamente com o minério natural estável de urânio 238 existe uma pequena quantidade, na ordem de menos de um por cento, de urânio 235 altamente instável, isto é, radioativo, que emite nêutrons. É esse urânio que, teoricamente, poderia ser usado como fonte de altíssima energia, e da bomba atômica naturalmente. O processo se dá do seguinte modo: Em condições normais, o urânio 235 emite nêutrons (radioatividade) e decai para um nível mais baixo de energia, os nêutrons se perdem. Acontece que se houver outros átomos de urânio 235 por perto, os nêutrons emitidos por um átomo podem atingir os núcleos de seus vizinhos e estes, por sua vez, emitirão outros nêutrons que atingirão outros átomos que se desintegrarão gerando uma REAÇÃO EM CADEIA a qual se dá o nome de FISSÃO NUCLEAR. A fissão nuclear libera energia em forma de calor na ordem de milhões de graus, várias vezes mais quente que o sol. Para que haja a fissão, para que os nêutrons iniciais não se percam, deve existir uma quantidade mínima de urânio 235, quantidade a qual se dá nome de MASSA CRÍTICA.
Continuando…
ResponderExcluirTeoricamente, uma bomba atômica nada mais é que a reunião de uma quantidade de urânio 235, ou de outro elemento físsil, de modo a formar uma massa crítica. Como é impossível manter a massa crítica estável, o desafio da construção de um artefato nuclear está em reunir a quantidade de urânio necessária somente na hora da explosão. Assim, dentro das primeiras engenhocas nucleares existia um tubo em que numa ponta encontrava-se a metade da quantidade do urânio necessário para formar a massa crítica em forma de meia esfera, na extremidade oposta, outra meia esfera do mesmo material. Na hora aprazada para a fissão, uma carga convencional de TNT explodia arremessando uma metade sobre a outra formando uma esfera que fissionava em milésimos de segundo causando a explosão nuclear. Essas primeiras bombas, como se vê, embora tenham incorporado tecnologia desconhecida até então, eram mecanismos rudimentares. Fora o grande trabalho preliminar necessário ao desenvolvimento de pilhas atômicas que permitissem descobrir as quantias exatas de material radioativo necessário à criação de massa crítica, e as técnicas apropriadas à confecção da bomba propriamente, e ao enriquecimento do urânio, que era aumentar a porcentagem do elemento 235 numa porção de matéria; não havia grande mistério sobre como elas funcionavam, não havia computadores ou qualquer componente eletrônico de alguma complexidade no seu interior, quando muito apenas um receptor que recebia sinal externo, tudo era muito simples. Além disso, toda a teoria que envolvia o conhecimento de como chegar à fissão de elementos radioativos já era conhecida dos físicos da época e, a partir do Relatório Schmidt emitido pelo Departamento de Defesa americano em 1946, qualquer secundarista interessado passou a conhecer os passos necessários à confecção da BOMBA. Era uma questão de tempo e dinheiro para que outros países viessem a construí-la, e isso aconteceu, já de início, com alguns países europeus, a Rússia e a China, e mais recentemente, Índia, Paquistão, Israel e Coréia do Norte. Até o governo brasileiro, num surto de megalomania aguda, intencionou criar o aparelho e, para isso, mandou construir um profundo buraco no Destacamento de Xingu onde seriam feitas as primeiras explosões. Com o fim da guerra fria e o início do desarmamento nuclear, o nível de ameaça e, em consequência, do temor pelo fim da civilização, diminuiu a ponto de não mais tirar o sono da geração criada à sombra virtual do guarda-chuva atômico. Hoje, o funesto dispositivo, agora desprovido de sua aura maligna, serve apenas como tema de blog para este escriba com algum grau de morbidez, saudoso dos tempos que sofria pesadelos causados pelo pavor que a BOMBA trouxesse o armagedon. JAIR, Floripa, 25/05/09.
FABRICANDO A BOMBA
ResponderExcluirNo post anterior o enfoque foi sobre o terror que a BOMBA incutia na mente da geração que estreou no planeta juntamente com ela. Para explicarmos o que é e como funciona o artefato fizemos uma pequena digressão sobre o átomo e os primeiros movimentos no sentido de tornar a bomba viável para uso ainda na segunda grande guerra. Também falamos na “banalização” do conhecimento da fórmula simples que permite a fissão de matéria radioativa e a conseqüente explosão nuclear. Como houve menção ao Projeto Manhatam e suas dificuldades na consecução das pilhas atômicas e do artefato propriamente, aqui o objetivo é explicar como foi percorrido o longo e tortuoso caminho desde a teoria que dizia ser possível a explosão até o momento em que na localidade de Alamogordo no Novo México se deu a primeira reação explosiva, provando que teoria e prática estavam alinhadas. Para chegar ao Projeto Manhattan é preciso compreender os avanços conquistados pela física nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Entre 1919 e o início dos anos 30, os cientistas estavam começando a entender a estrutura do átomo. Em 1919, na Universidade de Manchester, Inglaterra, o físico Ernest Rutherford, da Nova Zelândia, descobriu os prótons, partículas de carga positiva localizadas no núcleo do átomo, as quais, em companhia dos elétrons, partículas de carga negativa que orbitam em torno do núcleo, formam o átomo. Contudo, os físicos não conseguiam explicar por que diversos elementos apresentavam átomos de pesos diferentes. O mistério só foi resolvido em 1932, quando James Chadwick, um dos colegas de Rutherford, descobriu o nêutron, a terceira partícula subatômica. Como o nome diz, nêutrons não possuem carga elétrica e, junto com os prótons, formam o núcleo atômico. Embora o número de prótons e de elétrons seja constante em cada determinado elemento, o número de nêutrons pode variar, passam a ter um número de massa diferente. Os átomos de um mesmo elemento, diferentes quanto ao número de massa, são conhecidos como isótopos. Nessa época, os cientistas começaram a usar aceleradores de partículas com o objetivo de criar energia a partir do bombardeio de núcleos atômicos, - os primeiros acelerados disparavam prótons e partículas alfa que, devido à carga positiva, eram repelidos pelos átomos bombardeados. Contudo, quando o físico italiano Enrico Fermi concebeu a idéia de usar nêutrons nos bombardeios, em 1934 que, sendo desprovidos de carga não eram repelidos pelo núcleo do átomo, a coisa mudou de figura. Os cientistas alemães, Otto Hahn e Fritz Strassmann, foram os primeiros a reconhecer formalmente o processo, em 1938, ao dividirem átomos de urânio em duas ou mais partes, em suas experiências. Haviam descoberto a FISSÃO NUCLEAR, termo criado por eles. O urânio, elemento natural mais pesado do planeta, foi utilizado em muitas dessas experiências iniciais, e se tornou tema de grande interesse para a física, por diversas razões. O urânio é o elemento natural mais pesado, com 93 prótons. O mais interessante quanto ao urânio, porém, não é tanto o número de prótons, nem o número elevado de nêutrons em seus isótopos. Um isótopo de urânio, encontrado na ordem de menos de um por cento no meio do urânio 238, o urânio-235, tem 143 nêutrons, e é particularmente instável, emite radioatividade em condições normais e entra em fissão induzida com grande facilidade. O mais importante é que durante a fissão de um átomo de urânio a energia liberada é na ordem de duzentos milhões de elétrons-volts, enquanto a queima comum de um átomo libera cerca de um elétron-volt apenas. As informações sobre a fissão nuclear se difundiram rapidamente da Europa para os Estados Unidos e, em 1939, vários dos principais laboratórios de Física dos EUA estavam testando a possibilidade de gerar energia com a fissão do urânio.
Continuando…
ResponderExcluirEm 1942 os EUA já haviam entrado na guerra e muitos cientistas importantes como Leo Szilard, Edward Teller e Eugene Wigner, todos europeus que haviam migrado para os Estados Unidos a fim de escapar da guerra, sentiram a necessidade de alertar o governo norte-americano sobre o risco que o mundo corria caso a Alemanha desenvolvesse armas nucleares primeiro. Assim, liderados por Einstein e Szilard escreverem uma carta ao presidente Franklin Roosevelt, descrevendo a possibilidade dos alemães virem a construir armas poderosas com material físsil O presidente, depois de consultar outros cientistas, entre eles Julius Robert Oppenheimer, deu carta branca para que o competente e disciplinador Coronel Leslie Groves – que havia supervisionado a construção do Pentágono - iniciasse o projeto para "construir o armamento que acabaria com a guerra". Daí nasceu o Projeto Manhatam, em Alamogordo, uma região seca e arenosa, habitat de escorpiões e cobras, quase deserta de gente. No início, juntando cientistas, técnicos e soldados, a população chegava a 200. Vida duríssima e sigilo absoluto. Ninguém podia telefonar para fora sem autorização. Nem sair do alojamento, um punhado de barracos levantados às pressas pelo exército em 1.944. Aí, durante 10 meses, os pesquisadores trabalharam arduamente, sem qualquer conforto mas, consta, com grande vontade e empenho. Até cidades foram construídas. Algumas saíram do nada, em locais isolados, justamente para garantir o segredo. Existem até hoje. Outras, que também permanecem, foram refeitas. Hanford, então um povoado insignificante e perdido do mundo no estado de Washington, foi invadida, em 1.943 por 25.000 trabalhadores. Em menos de um ano, construíram 250 quilômetros de ferrovias, 600 quilômetros de estradas, casas para 40.000 operários e suas famílias, e uma fábrica de plutônio, combustível nuclear como o urânio.
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ResponderExcluirAs cidades cresceram em diversos pontos do país, sempre com o mesmo fim: Construir a superbomba. Das novas fábricas, saíam peças ou combustível. Dos laboratórios, números e medidas. Quantos quilos de urânio ou plutônio seriam necessários? Como detonar a explosão no momento exato? Até que ponto o urânio comum, extraído das minas, precisaria ser misturado com o urânio-235, mais radioativo? Em resumo, os cientistas já não faziam Física pura, estavam empenhados em construir na prática aquilo que a teoria dizia ser possível. Depois de milhões de homens-hora de trabalho, milhões de dólares gastos e de superar problemas técnicos que até então cientistas nem suspeitavam que existissem, a primeira explosão nuclear da História aconteceu na madrugada chuvosa do dia 16 de julho de 1.945, numa área de testes de bombardeios do exército americano, em Alamogordo, Novo México. Uma luz dura, vinte vezes mais brilhante que a do Sol, acendeu a noite e fez o céu, o deserto e as montanhas próximas parecerem brancos como papel sulfite. Apesar da hora, milhares de pessoas, em cinco estados vizinhos, viram o flash sem ter idéia do que estava acontecendo. Para a humanidade estava nascendo: a era que seria a mais importante com relação a forma que as guerras poderiam ser travadas; o ponto de inflexão na geopolítica global onde Ocidente e Oriente definiriam áreas de influência de acordo com seu suposto poderio nuclear; e uma nova possibilidade de uso de energia nuclear para fins pacíficos. Medo do desconhecido e esperança de dias melhores passaram a coexistir de man
Bombas na Austrália
ResponderExcluirJá publiquei vários textos referentes à energia atômica, seu uso na confecção de armas nucleares, sua exploração para incrementar a guerra fria, e sobre os testes atômicos que as potências nucleares efetuaram nas mais diversas regiões do Planeta, com suas danosas consequências.
Todas as chamadas potências nucleares, nas décadas de cinquenta e sessenta, fizeram testes dessas armas mortais na atmosfera sem qualquer cuidado com o ambiente onde elas ocorriam. Os EUA explodiram dezenas de bombas no atol de Biquíni, pertencente às Ilhas Marshall no oceano Pacífico, a oeste do Havaí, com resultados tão nocivos que até hoje o meio ambiente continua alterado e o povo que lá vivia está impedido de voltar depois de mais de cinquenta anos.
Mas, acho que a pior consequência desses diabólicos testes resultou das experiências engendradas e executadas pela Grã Bretanha no território australiano. Verdadeiro crime ambiental de grandes proporções que inviabilizou a vida normal de tribos inteiras de nativos. Primeiro, é preciso que esclareça que a Austrália é um país democrático, parlamentarista, independente, integrante da Comunidade Britânica e, como tal, pertence à área de influência da Inglaterra. Sendo assim, parece, quando a Albion se viu apta a explodir seus artefatos mortais, escolheu aquele país porque possui vastos territórios desérticos, o assim chamado Outback. Habitados apenas pelos nativos, - conhecidos mundialmente por aborígenes - e por dromedários, cangurus, dingos, cobras, lagartos e emus, seres perfeitamente descartáveis segundo a ótica dos arrogantes ingleses.
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ResponderExcluirOs testes nucleares britânicos ocorreram em Maralinga entre 1955 e 1963, até hoje um lugar interditado à vida no sul da Austrália. Sete grandes testes nucleares foram realizados, com potência aproximada variando de 1 a 27 quilotons equivalentes de TNT. Para comparação, a bomba de Hiroxima tinha 20 Kt. O sítio também foi usado para centenas de experimentos menores, muitos dos quais tinham a intenção de investigar os efeitos de incêndio ou explosões não-nucleares em armas atômicas. Construíram no local simulacros de bases com instalações como hangares, alojamentos, pistas e pátios onde foram colocados aviões sobrantes da guerra como os famosos e românticos P51, por exemplo. Militares “voluntários” foram colocados a uma certa distância das explosões para aquilatar os efeitos da radiação. Não é preciso dizer que a essas pessoas não foi explicado o perigo que corriam.
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ResponderExcluirAlém dos testes maiores, um grande número de experimentos menores também foram realizados, de junho de 1955 e prorrogado até maio de 1963. Embora os testes principais fossem realizados com um pouco de publicidade, os testes menores foram feitos em sigilo absoluto. Estes testes menores deixaram um legado perigosíssimo de contaminação radioativa na área de Maralinga. O resultado dessas experiências de baixa potência se assemelha ao que acontece no caso de explosão de uma “bomba suja”. Bomba que usa explosivo convencional para espalhar material radioativo mortal ao redor, constituindo-se num artefato barato, mas de enorme e duradoura letalidade.
As séries de quatro ensaios de menor impacto foram denominadas Cats, Tims, Rats e Vixen. Ao todo, esses “estudos” incluíram 700 testes, envolvendo experimentos com plutônio, urânio e berílio. A operação Cats envolveu 99 ensaios, realizados em duas áreas, Maralinga e Emu Field de 1953 a 1961. Nos testes foram usados “gatilhos” de nêutrons, envolvendo o uso de polônio 210 e urânio, e geraram, segundo foi divulgado depois, "quantidades relativamente grandes de contaminação radioativa." A operação Tims ocorreu em 1955-1963, e envolveu 321 ensaios de urânio e de berílio, bem como estudos de compactação de plutônio. A operação Rats investigou dispersão explosiva de urânio, quando 125 ensaios tiveram lugar entre 1956 e 1960. A operação Vixen, em ensaios entre 1959 e 1961 investigou os efeitos de um incêndio acidental de uma arma nuclear, e envolveu um total de cerca de 1 kg de plutônio. E, para que acha que 1 Kg de plutônio é pouca coisa, é só lembrar que acidente com césio 137 no Brasil foi causado por apenas 0,093 quilogramas daquele elemento, e que o plutônio é milhares de vezes mais radioativo e letal que o césio. Além disso, a meia-vida do césio 137 é 30 anos, enquanto o plutônio só decai para metade de sua radioatividade em 24.100 anos.
O local foi contaminado com material radioativo com tal magnitude que uma limpeza inicial foi tentada em 1967. A Comissão Real McClelland, depois de um exame dos efeitos dos testes, apresentou o seu relatório em 1985, e constatou que o perigo de radiação significativa ainda existia em muitas das áreas de teste Maralinga. Recomendou outra de limpeza, que foi concluída em 2000 a um custo de US$ 108 milhões. Até hoje prossegue o debate sobre a segurança do local e os efeitos a longo prazo sobre a saúde da tribo aborígene proprietária daquela terra. Em 1994, o governo australiano pagou uma indenização no valor de US$ 13,5 milhões para os aborígenes, pessoas que tiveram que mudar-se de lá. Essa indenização visava apenas cobrir os efeitos nocivos sobre o terreno, nada se falou nos efeitos sobre a saúde das pessoas afetadas.
Antes da escolha, o sitio Maralinga era habitado pelos povos aborígenes Pitjantjatjara e Yankunytjatjara, para quem a área tinha um "grande significado espiritual". Muitos foram transferidos para um novo assentamento em Yulata, e foram feitas tentativas de restringir o acesso ao sitio Maralinga.
Na década de 1980 alguns militares australianos e habitantes aborígines da terra estavam sofrendo cegueira, feridas e doenças como o câncer. Eles "começaram a juntar as coisas”, percebendo que suas aflições tinham a ver com a exposição aos testes nucleares. Grupos como a Associação de Veteranos e do Conselho Pitjantjatjara pressionaram o governo, até que em 1985, este concordou em realizar uma comissão real para investigar os danos que foram causados.
O triste dessa história é que a Austrália é um país cujas forças armadas, embora modernas, são apenas simbólicas, não têm armas nucleares e nem se propõem a construir tais artefatos. E os povos nativos, os quais, por lei, não têm obrigação de servirem as forças armadas, são as maiores vítimas dessas mortais incongruências dos britânicos mancomunados com o poder público australiano que, até a década de 1980, nem sequer considerava os aborígenes como seres humanos. JAIR, Floripa, 22/09/11.
Revendo a história
ResponderExcluirBem, oficialmente, as bombas nucleares lançadas pelos americanos sobre o Japão atingiram as cidades de Hiroshima e Nagazaki nos dias seis e nove de agosto de 1945. Apenas oficialmente, porque quando se trata da segunda bomba, aquela de plutônio chamada da Fat man pelos cientistas por causa de seu formato, a verdade não é assim tão evidente.
Depois do sucesso do primeiro bombardeio que foi feito por uma aeronave B29, apelidada de Enola Gay em homenagem à mãe do piloto Paul Tibbets, aeronave pertencente ao grupo 509º de bombardeiros, sediado na base de Tinian, a segunda bomba estava programada para ser lançada na cidade de Kokura em 09 de agosto. Agora que o presidente Truman anunciara a existência da bomba, havia caído o sigilo que antecedera o lançamento da primeira bomba, de modo que todos os envolvidos nos preparativos do segundo lançamento estavam cientes das implicações inerentes ao evento. A segunda bomba havia se tornado uma espécie de pop star.
Esse “liberou geral” permitiu que jornalistas e outros interessados tivessem acesso ao pessoal que participou dos fatos, de forma que ao invés de maior clareza, o que se seguiu foi uma série de meias verdades que, somados a mudanças de última hora formaram confusões que permanecem até hoje. Por exemplo, registrou-se erroneamente que quem lançou a segunda bomba foi a aeronave Great Artiste, já que quem a pilotava normalmente era o major Charles W. Sweeney, só que nesse dia o capitão Frederick C. Bock estava pilotando a Great Artiste e o major Sweeney pilotava a Bock’s Car, a qual realmente lançou a bomba. Eles haviam trocado de avião antes da missão e, como os nomes ainda não haviam sido escritos nas fuselagens, a confusão foi fácil de acontecer.
Pois bem, meia hora antes da decolagem, o mecânico de voo do Bock’s Car informou ao Major Sweeney que a bomba de combustível do tanque auxiliar estava em pane. Isso significava que a aeronave estaria voando com menos 1135 litros de gasolina. Havia a possibilidade de troca da peça que não funcionava, mas isso implicaria em horas de trabalho, visto que para a substituição o combustível do tanque afetado, no caso o tanque central, deveria ser destanqueado antes. (Essa concepção de desenho de tanque foi modificada mais tarde pela Boeing, fabricante do B29, de modo que versões posteriores adotaram uma concepção que a troca de bombas se faria sem esvaziamento do tanque respectivo). O major Sweeney optou por realizarem a missão assim mesmo, decisão que resultou numa “carga morta” de combustível não utilizável e uma diminuição de autonomia, o quê, no decorrer da missão, influenciou no resultado.
Continuando…
ResponderExcluirEstava definido que o alvo primário do bombardeio seria a cidade de Kokura e, em caso de condições meteorológicas adversas, o alvo secundário era Nagazaki. Durante a aproximação para Kokura, as 09:45 horas, o major Sweeney já havia definido a trajetória para lançamento quando percebeu que cidade estava completamente coberta de nuvens. Em condições normais haveria possibilidade de “ciscar” para encontrar um buraco nas nuvens que permitisse o lançamento, entretanto, com combustível a menos para queimar nos tanques, uma segunda tentativa sobre Kokura estava descartada, Sweeney optou por dirigirem-se ao alvo secundário, aproaram Nagazaki. Ao se aproximarem de Nagazaki, contudo, verificaram que havia 80% por cento de cobertura de nuvens. Além disso, o mecânico de voo, Kuharek, confirmou para o major que ao retornar para a base a partir de Nagazaki, eles teriam que voar quase meia hora com “cheiro de combustível”, a aeronave não chegaria a Tinian, quando muito até Okinawa. Sweeney, decepcionado com as condições; ciente que não era admissível abortar a missão; que era impensável ter que pousar no Japão não ocupado em caso de falta de combustível no retorno; que um retorno com a bomba e um possível pouso no mar traria conseqüências inimagináveis, resolveu dar mais uma “ciscada”. Feito isso, percebeu uma fenda nas nuvens que dava condições para o lançamento. À feição daquele ditado gauchesco, “Não tem tu, vai tu mesmo” o Bock’s lançou o artefato. Pobre Urakami! A bomba destinada a Nagazaki acabara de converter em Ground Zero o centro populoso de Urakami, tanto mais densamente povoado porque ali existiam duas fábricas da Mitsubich, uma de foguetes outra de submarinos kaiten. Estrategicamente a missão foi um sucesso, não se pode dizer o mesmo operacionalmente, os milicos haviam feito lambança. No regresso, como previra Sweeney, o Bock’s Car não conseguiu chegar até Tinian e pousou em Okinawa já com o motor dois apagado por falta de gasolina.
Logo que o Japão aceitou a rendição que lhe foi enfiada goela abaixo em consequência das bombas, e os militares americanos ocuparam o país, o General Mac Arthur proibiu que os danos causados pelos artefatos fossem divulgados, ele instituiu “zonas de exclusão” que incluíam os dois Ground Zero. Sendo que Nagazaki, que não havia sido atingida diretamente, havia apenas pego a rabiola da bomba, foi oficialmente considerada bombardeada, e Urakami que sofreu impacto direto, providencialmente foi escamoteada dos relatórios oficiais. Nada mais natural que apenas os danos a Nagazaki fossem computados desde então. A cidade de Urakami deixou de existir de jure por iniciativa de Mac Arthur e de facto por ação da Fat Man, a história registra apenas aquilo que é conveniente para quem detém o poder, perdedores que se explodam, às vezes literalmente. JAIR, Floripa, 04/10/10
A dúvida
ResponderExcluirDepois que os EUA lançaram as bombas nucleares sobre Hiroxima e Nagazaki (ou Urakami, vide meu texto “Revendo a história”) em seis e nove de agosto de 1945, originou-se uma polêmica que dura até hoje. O evento era necessário para abreviar a guerra, ou foi uma demonstração de força para não deixar qualquer dúvida sobre quem dava as cartas a partir dali? Diante da declaração de Truman que a bomba era essencial para poupar centenas de milhares de vidas americanas e finalizar a guerra alguns meses antes; que os generais japoneses haviam preparado a população do país para resistir literalmente com paus e pedras até o último habitante; e que as bombas, apesar de politicamente incorretas, pois atingiram mais alvos civis que objetivos militares, teriam poupado vidas japonesas, as quais seriam eliminadas em muito maior número se houvesse invasão das ilhas mais populosas, a imprensa e muitas autoridades de diversos países caíram de pau nos americanos alegando que o Japão já estava derrotado e que o país servira apenas como campo de teste para o exército americano. Vejamos o que diz Charles Mee, escritor crítico americano: “A liderança norte-americana tinha plena consciência de que, àquela altura da guerra no Pacífico, a derrota japonesa já estava consumada. A intenção de Truman de jogar a bomba foi, mesmo, intimidar os soviéticos. Em nome desse objetivo, o presidente ignorou as ponderações do seu secretário da Guerra, Henry Stimson, que tentou inutilmente convencê-lo a facilitar a rendição japonesa. A insistência de Truman em exigir do Japão a rendição incondicional em termos humilhantes, visava prolongar os combates até que houvesse condições técnicas de lançar a bomba”. É quase certo que também existisse um viés de vingança pelo ataque traiçoeiro a Pearl Harbor.
Nós, simples mortais, sempre teremos dúvida sobre quem é dono da verdade, não nos é dada a oportunidade de conhecer todos os elementos da equação, portanto, vale o chutômetro, tanto mais calibrado o pé que executa o petardo, quanto mais se conhece sobre o assunto. Como leio tudo que me passa pelas mãos sobre a guerra, e o faço desde que consegui decifrar palavras e seus sentidos aos sete anos, tenho a presunção de que meu palpite tem validade: Dou razão a Truman.
Agora, muitos anos depois, lendo o livro “O último trem de Hiroshima”, descobri este trecho bem interessante: “Nos últimos tempos as salas de aula das escolas foram convertidas em fábricas improvisadas para suprir de armamentos os soldados do castelo de Hiroshima. Os estudantes de engenharia mais velhos tinham a tarefa de calcular como fabricar gatilhos e outras partes de armas com madeira de lei disponível mais facilmente: recuperada de vizinhanças selecionadas pelo governo que abatera as árvores para fazer clareiras de proteção contra incêndios. Nas salas de aulas os cartuchos estavam sendo substituídos por uma liga de metal de menos qualidade, feita na maior parte por telhados de lata demolidos. Projéteis estavam sendo esculpidos em mogno, “para lutar em distâncias curtas”, haviam explicado. Espingardas feitas de madeira eram confeccionadas para serem distribuídas às crianças e suas mães. Todos sabiam que as pequenas armas não seriam eficazes por muito tempo se os americanos invadissem a cidade, mas os homens que planejaram a batalha final (destaque em negrito meu) decidiram que um ou dois disparos de cada cidadão dariam conta da situação por tempo suficiente. Em outras salas de aulas os estudantes afiavam lanças de bambu.“Isto é o que acontece a uma nação que perde a guerra”, observou um médico chamado Hachiya. “Balas de madeiras e lanças de bambu”.
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ResponderExcluirAlém disso, o ministro da guerra Anami, dizia que, mesmo com uma marinha impotente e as cidades em chamas causadas pelos bombardeios diários, ele acreditava fanaticamente em uma última e grande resistência através da qual o povo do Japão infligiria perdas inaceitáveis nas forças invasoras em terra, que as repeliria; ou o povo morreria tentando e nada restaria para os americanos conquistarem, mesmo porque iriam juntos com os japoneses para o inferno.
Diante dessa determinação jumental insuflada pelas autoridades aos japoneses, minha opinião é que, tal como os homens bomba da atualidade, os habitantes do Japão daquela época haviam engravidado pela audição de toda aquela baboseira de raça superior; de que o imperador Hiroito era “o cara”; que ele detinha poderes sobrenaturais porque fora ungido por Deus; e um besteirol da mesma espécie que se estendia por gerações, então eles realmente foram poupados por Truman. As bombas foram uma bênção para os que sobreviveram, e o preço que pagaram em vidas pelo fim da estúpida guerra foi bem menor do que se os EUA tivessem desembarcado nas ilhas de Hokkaido e Honshu, por exemplo. JAIR, Floripa 15/10/10.
RÉQUIEM PARA NAGAZAKI
ResponderExcluirMissão cumprida. Bárbaros presunçosos de olhos claros que semearam, como mortalha sinistra, o maldito cogumelo sobre a cidade que dormia, com almas pesadas, impenitentes, a lhes torturar para sempre, seguem para o inferno de seus lares onde beijos dos filhos queimarão suas faces, comida de suas mesas lhes saberá amarga como fel e camas se tornarão inauditos tapetes de pregos. JAIR, Floripa, 07/12/09.
Muito obrigado pela citação, mestre Chassot. Fico feliz que meu texto esteja repercutindo em blogues de tanta qualidade como o seu. Me sinto honrado de contribuir por aqui.
ResponderExcluirUm grande abraço,
Rogério Beier
Assim como os grandes feitos não podem ser esquecidos, a bestialidade humana também não.
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