ANO
8 |
EDIÇÃO
2827
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Na semana que passou em três dias — quinta, sexta e sábado — olhei
o ‘nosso Século 20’. Fi-lo então com os óculos há História e Filosofia da
Ciência. Hoje trago algo que fez do Século 20 singular. Ele teve duas cruentas grandes
guerras mundiais. Em uma e outra a ciência mudou a dolorosa fisionomia das
guerras.
Na Segunda Guerra Mundial foi a toda poderosa bomba atômica que
acelerou com genocídio o fim de genocídios. Hiroshima e Nagasaki constituíram-se
em ícones novos indicadores do poderio bélico de potências.
A Primeira Guerra, cujo centenário de início evocamos em junho,
merece considerações, usualmente não expedidas. Neste domingo o jornalista e
filósofo Hélio Schwartsman publicou na p. A-2 da Folha de S. Paulo o texto Guerra, doença e evolução que
merece ser compartido aqui. O autor de ‘Aventura
no Afeganistão' entre outros livros, traz uma olhada não muito usual da Guerra
Mundial de 1914-18.
Guerra, doença e evolução — Por ocasião dos 100 anos da
Primeira Guerra Mundial, pude ler interessantes textos sobre a dimensão militar
e política do conflito. Lamentavelmente, não vi destacado seu aspecto
sanitário.
A Primeira Guerra Mundial, mais
especificamente seu front ocidental, foi o primeiro grande conflito em que os
generais lograram fazer com que morressem mais soldados em combate do que por causa
de doenças.
A principal arma aqui não foram gases
químicos nem metralhadoras, mas brigadas sanitárias, barbeiros e o pessoal de
lavanderia, que, jogando na defesa, faziam o possível e o impossível para
exterminar os piolhos que se escondiam nos pelos e roupas dos combatentes e são
responsáveis pela transmissão do tifo.
Embora poucos se deem conta, o tifo e
outras moléstias que têm ectoparasitas como vetor já dizimaram mais soldados do
que qualquer artefato bélico. Como mostra Jeffrey Lockwood, não foi o general
Inverno o principal responsável pela derrota de Napoleão na Rússia, mas
insetos. Estima-se que, para cada homem do grande estrategista corso morto no
campo de batalha, quatro tenham sucumbido a patógenos transmitidos por
guerreiros de seis patas.
Na Guerra Civil americana, a situação
não era muito melhor. Dois terços dos 500 mil soldados mortos foram vítimas
primárias de doenças.
A grande verdade é que nós, que
nascemos depois do saneamento básico, das vacinas e dos antibióticos, perdemos
um pouco a dimensão do verdadeiro flagelo que é a doença. Mas ela está tão
entranhada em nossa história que é um das principais forças a moldar a
evolução, não só da nossa espécie, mas de toda a vida.
Ectoparasitas são a principal hipótese
para explicar por que o homem perdeu seus pelos. Parasitas também constituem a
melhor explicação para o grande mistério da biologia, que é saber por que os
eucariontes trocaram a segurança da reprodução por clonagem pelas incertezas do
sexo.
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