ANO
8 |
EDIÇÃO
2821
|
Saudáveis são as oportunidades de nos
revisarmos. Às vezes, dizemos ou escrevemos algo que precisamos reconsiderar.
Claro que para os escritos a situação é mais
significativa. A sabedoria popular consagra: “As palavras voam, mas os escritos permanecem”. Há, todavia, os que
afirmam, colocando mais cautelas nas palavras orais, do que no texto escrito: “As palavras voam, só que não sabemos onde
pousam!”
Então, o texto escrito parece mais fácil de
ser reescrito, pois temos o que escrevemos e uma revisão pode ser mais objetiva.
No texto oral, muitas vezes, objetamos: ‘Não
foi isso que eu disse’ ou ainda, ‘não
foi isso que quis dizer!’.
Estas elucubrações, sem pretensão de originalidade,
ocorrem na esteira do que escrevi ontem. Aquela blogada foi cevada à amargura,
e por tal, talvez, trouxesse laivos de ressentimentos. Esta é razão pela qual
esposo, aqui e agora, o desejo de revisão. Devo reconhecer que fiz, então,
comparações despropositadas.
Exemplifiquei três situações de embargos
fronteiriços: a) o acesso de magrebinos à Europa; b) a passagem do México para
os Estados Unidos; e c) o cercamento de colônias promovidas pelo governo de
Israel, no território palestino. Mesmo que tivesse comentado as facilidades de
trânsito de bytes entre fronteiras se comparado com as dificuldades de trânsito
de pessoas, não poderia ter feito isonomia entre a obtenção do visto de entrada
em um país com as situações que usei como exemplo.
A contenção que se faz, quando um país exige
um visto de entrada de cidadãos de outro país (mesmo que se solicitem, então,
muitos documentos) para justificar ingresso ou para avalizar a decisão, se
compara, por exemplo, às exigências para ingressar como visitante em clube
social ou em condomínio residencial.
Dirão uns: aqui se trata de propriedades
privadas (clube ou condomínio). Tento ingressar então na esfera pública: um
campus de uma universidade pública, um palácio legislativo ou a sede de um
governo.
Nos dias atuais, não posso viajar em um
avião que faça transporte público, sem apresentar um documento de identidade
válido, mesmo que tenha comprado passagem. Hoje, não se ingressa, por exemplo,
em certos conjuntos de consultórios médicos sem uma muito criteriosa
identificação.
Assim, parece desprovida de bom senso a
afirmação que fiz ontem a guisa de síntese: “Por isso, também, é difícil se ver tão exigente e complicada a obtenção
de visto para ir a um evento científico”. Exagerei. Um mundo sem
fronteiras, como viu o astronauta presente na edição de ontem, só existirá
quando vivermos em casas sem cercas e não em bunkers ou casamatas fortificadas
como vivemos hoje nas cidades e nos campos. E isso é intrínseco em nossa
civilização, pelo menos desde o medievo, quando paliçadas faziam vez de nossas
cercas eletrificadas tão presente em nosso cotidiano.
Logo, parece “... fácil ver as exigências complicadas que se fazem para a obtenção de
visto, mesmo para ir a um evento científico!”
Curioso observar que em meu comentário anterior havia eu redigido originalmente uma opinião similar ao discorrido hoje. Fui traído pelos bugs de nossos robozinhos que ao validar minha identificação no blog apagaram meu texto. Sigo agora nessa linha. Lembrava eu das barreiras sociais que vivemos em nossas cidades com territórios demarcados por marginais, de projetos como o nosso piscinão de Ramos onde a elite "presenteia" a plebe deixando a elite feliz com suas nobres praias livres dos farofeiros. Algum tempo atrás fiz uma reflexão do porquê do sucesso das novelas da globalizada rede Globo entre os menos favorecidos. Concluí que o seu atrativo maior é dar ao imaginário popular uma vida nababesca que nunca viverão. Carrões, mansões, empresários bandidos,musas saradas, amores proibidos etc.E naquela horinha o infeliz se sente parte integrante daquela trama e vive um sonho de, pelo menos naqueles momentos, de ser o que nunca será. Afinal a vida é uma fronteira onde alternamos realidade e divagações.
ResponderExcluir