Porto Alegre * Ano 5 # 1721 |
Recém retornei de minha aula de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa com a turma de Educação Física e Filosofia. Hoje a blogada não é pré-postada. Na ‘hora da rodinha’ o Dia do índio’ recebeu uma boa discussão colonizado/colonizador. A aula com tema central ‘linguagem e poder’ marcada pela máxima ‘Do esoterismo ao exoterismo’ não foi trivial. Um jogo da Libertadores em paralelo, onde os guayaquilenhos sentiram o primeiro frio do pampa, faz justa concorrência.
Antes participei da festa de quatro anos do Antônio. A maneira como ele abraçava os coleguinhas que chegavam era comovente. Foi uma linda comemoração que reuniu crianças e adultos. Sonhava fazer um bom registro fotográfico, mas hoje as festas infantis têm uma conformação tal que as crianças ou estão vidradas em um jogo, como está o aniversariante, enquanto os avós mendigam atenção (para uma foto) ou elas literalmente voam, como se pode ver a Maria Clara em outra cena. Meu reduzido ensaio imagético mostra que adultos também brincam, e nisso a Clarissa e o Carlos são exemplo.
Judeus e cristãos vivem a semana religiosa mais significativa do ano. Para não ser acusado de laborar em preconceito com uma das três religiões abraâmicas é preciso dizer que os islâmicos não celebram a festa da páscoa. A festa do cordeiro, que me comoveu ver celebrada na Tunísia, tem outra dimensão e prometo para uma futura blogada sobre ela. Uma nota lateral: prefiro referir-me a religiões abraâmicas e não as monoteístas porque, a rigor – segundo Max Muller, orientalista alemão (1823-1900) – nem o judaísmo nem o cristianismo são religiões monoteístas – aquele é henoteista, forma de religião em que se cultua um só Deus sem que se exclua a existência de outros; e este, trinitário. Rigorosamente, apenas o islamismo é monoteísta.
Devo justificar o título da chamada principal. Na imprensa de ontem, há uma nova dimensão para reverenciar a quarta-feira santa. Aliás, sempre me instiga como se fabricam ‘com oportunidade’ as notícias. A trazida do assunto de hoje não teria sentido ser divulgada na época do carnaval ou do Natal. Ela é para esta semana, e mais, nesta semana é para hoje. Antecipo que noticia – mesmo que pareça irrelevante, oferece bons argumentos para uma data fixa para páscoa, assunto que ainda será trazido esta semana.
Mas hoje a notícia traz algo do dia da semana no qual deve ter ocorrido a ‘Ultima Ceia’. Parece ter havido confusão explicável devido à utilização de dois calendários distintos. Mas, eis a notícia completa, aditada de meus votos de uma muito boa quarta-feira, agora mais santa.
A Santa Ceia ocorreu na quarta-feira Os cristãos deveriam celebrar a Quarta-Feira Santa, e não a Quinta-Feira Santa? É o que diz, ao menos, o estudioso britânico sir Colin Humphreys, professor de Metalurgia e Engenharia de Materiais da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, para quem a última ceia de Jesus e seus apóstolos ocorreu, na verdade, um dia antes do que se imaginava.
O britânico calculou, inclusive, a suposta data do jantar: 1º de abril do ano 33. Em um novo livro, The Mystery of the Last Supper (O Mistério da Última Ceia), Humphreys explica como chegou a essa conclusão – e diz que sua “solução” resolve uma aparente inconsistência da Bíblia. Os evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas afirmam que a ceia de Jesus coincidiu com o início do Pessach, a Páscoa judaica, mas o evangelho de São João diz que foi realizada um dia antes. A explicação: tanto Jesus quanto São Mateus, São Marcos e São Lucas teriam usado como referência um calendário antigo, datado de séculos antes, dos tempos de Moisés, e não o vigente na época – este, sim, escolhido por São João. Pelo calendário dos tempos de Moisés, o início do Pessach no ano 33 caiu em uma quarta-feira.
– Os evangelhos estão cheios de exemplos em que Jesus se apresenta como o novo Moisés, e o uso desse calendário antigo iria ao encontro disso. Ao escolher a quarta-feira do Pessach, ele estava novamente se identificando explicitamente com Moisés, fazendo um paralelo (o Pessach comemora a fuga dos judeus do Egito, comandada por Moisés). Depois, Jesus morreu no dia 14 do mês de Nisan, quando, pelo calendário judaico oficial, os cordeiros do Pessach eram sacrificados. Esses são simbolismos profundos, poderosos – afirma Humphreys.
No livro, o britânico lembra ainda que, pela tradição cristã, a Santa Ceia começou pouco depois do pôr do sol de quinta-feira, e a crucificação teria sido realizada no dia seguinte, por volta das 9h. O processo contra Jesus – prisão, interrogatório e julgamentos –, porém, aconteceu em várias áreas de Jerusalém. Segundo o professor, especialistas percorreram a cidade recentemente com um cronômetro para tentar descobrir como todos os fatos citados na Bíblia poderiam ter ocorrido em tão poucas horas, entre a noite de quinta e a manhã de sexta – e a maioria concluiu que era impossível. Outra “inconsistência”: o Sinédrio, a corte religiosa judaica, estava proibida de se reunir à noite. Conclusão de Humphreys: Jesus participou da Santa Ceia na quarta, foi julgado e condenado na quinta-feira e executado na cruz na sexta-feira.
Caro Chassot,
ResponderExcluirmeus parabéns pelo aniversário do Antônio: percebe-se que o avô estava "a caracter!". Já percebi que, na maioria das vezes os adultos se divertem igual ou mais que os pequenos nos aniversários "infantis": isso é bom, faz a gente reviver um tempo que reprimimos, depois de adultos, com a desculpa que agora temos "responsabilidades".
Com relação ao oportunismo da notícia sobre a quarta-feira santa, só pode ser obra da sociedade de consumo que aproveita os eventos culturais para "faturar".
Nada deve nos surpreender nesse campo: o fundamental não é o calendário, mas o sentido da celebração e maneira como dela participamos. Tenho certeza de que isso é tácito para ti, mas fiz questão de colocar aqui para os leitores (as).
Boa quarta-feira santa para ti!
Garin
http://norberto-garin.blogspot.com/
Caro Cahassot,
ResponderExcluirExcelente post, não poderia ser mais informativo e interessante. Continuo achando o teu espaço o mais erudito da blogsfera. Parabéns.
Pai
ResponderExcluirLindas fotos do aniversario do Antonio
Saudades , estamos na Alemanha , voltando !!
O Japao estava lindo
Bernardo e Carla
Caríssimo Garin,
ResponderExcluirobrigado pelos votos pelo Antônio.
Adiro a tua tese que o fundamental é motivo da celebração e não a data. Esta como todas as outras são apenas simbólicas se nos dermos conta o quanto todos os calendários foram arbitrários/reformados.
Obrigado pelo prestígio que conferes a este blogue enquanto comentarista,
attico chassot
Meu caro Jair,
ResponderExcluirmesmo reconhecendo tua exagerada dose de generosidade, tenho o ego massageado com o dito do editor que nos oferece um blogue que – realmente – pensa.
Com agradecimentos
attico chassot
Carla & Bernardo
ResponderExcluirnora e filho queridos,
obrigado por encontrarem espaço nessa longa viagem Tóquio – Porto Alegre para visitar e deixar comentário.
Ontem no aniversário lembramos muito de vocês.
Tenham um bom retorno
attico chassot