Porto Alegre * Ano 5 # 1703 |
Uma noticia que supera a qualquer pauta para abertura desta edição. No começo da noite de ontem a Clarissa faz um anuncio: está grávida.
Minha caçula, que ainda ontem referia aqui como uma abrilina, nos traz uma boa nova: ela e o Carlos, provavelmente em novembro, concretizam o sonho da Maria Clara, que dia 26 faz cinco anos, recebendo um irmão/uma irmã.
Celebramos muito felizes a saborosa e esperada novidade.
A primeira edição sabática deste abril que se inicia cumpre a tradição, há muito instituída aqui: sábado é dia de dica de leitura. No último, excepcionalmente, a edição se transformou em diário de viagem trazendo algo bonito de Bonito. A propósito, anuncio para amanhã, evocações do último fim de semana.
Mais recentemente, quando estava envolvido, junto com leitores, com a busca de um nome para o livro de memória, que celebra o meu 50tenário surgiu a ideia de aproveitar a ideia de ‘hologramas’. Batizado o rebento, dei-me conta que um livro que tinha resenhado no ‘finado’ Leia Livro, da Secretária de Cultura do Estado de São Paulo, tinha esse nome. Volto ao livro e resenha.
Em Um ponto no holograma - A história de Vidal, meu pai é um sumarento livro, no qual Edgar Morin, um dos mais reconhecidos sociólogos pós-moderno faz uma admirável tessitura de mais de quatro séculos da historia de sua família, para nos narrar a densa história de Vidal, seu pai.
MORIN, Edgar. Um ponto no holograma - A história de Vidal, meu pai. São Paulo: A Girafa Editora, 2006, 448p. [Preço sugerido: R$ 53,00] ISBN 85-89876-97-7
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum (Paris, 8 de Julho 1921), é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês judeu de origem sefardita. Seu pai, Vidal Nahoum, era um comerciante originário de Salônica. Sua mãe, Luna Beressi, faleceu quando ele tinha 10 anos.
Ateu declarado, descreve-se como um neo-marrano. Estudou direito, história, filosofia, sociologia e economia. Em 1942, obteve a licenciatura em direito e em história e geografia.
Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa. Em 1941, adere ao Partido Comunista, «num momento em que se sentia, pela primeira vez, que uma força poderia resistir à Alemanha nazista». Entre 1942 e 1944, participou da Resistência, como tenente das forças combatentes francesas, adotando o codinome Morin, que conservaria dali em diante. A partir de 1949, distancia-se do Partido Comunista, do qual será excluído em 1951, por suas posições antistalinistas.
Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Autor de mais
de trinta livros, entre eles: Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro. Sua obra mais conhecida ‘O método’, teve seus seis volumes traduzidos e publicados no Brasil, pela editora Sulina de Porto Alegre. Esta obra tem sido referência para seminários em várias universidades brasileiras. É considerado um dos principais pensadores contemporâneos e um dos principais teóricos da complexidade. Diretor emérito de pesquisas do CNRS e fundador do Centro de Estudos Transdisciplinares da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, ambos situados em Paris, onde reside.
Edgar Morin foi o primeiro conferencista convidado pelo ciclo de palestras "Fronteiras do Pensamento 2008" que acontece no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Recordo tê-lo assistido em novembro de 1003 na Usina do gasômetro em Porto Alegre.
Não deve ser muito usual que um muito reconhecido sociólogo, antropólogo, historiador e filósofo se proponha a oferecer um livro acerca de sua família, mais especialmente de seu pai e também muito da sua, que não tem sempre as marcas da ortodoxia. Pois dia da morte de seu pai, Edgar Morin decidiu escrever um livro sobre ele. Vidal Nahoum foi um judeu sefardita, cujos antepassados remontam aos que muitos consideram o surgimento da cultura europeia.
Talvez pudesse iniciar perguntando aos meus leitores o que conhecem acerca de Salônica ou qual a identidade de salonicense. Se houve evocação às epístolas de Paulo aos tessalonicenses, a ligação está certa. Salônica (ou Tessalônica) hoje é a segunda maior cidade da Grécia; foi importante há pelo menos 20 séculos. Ela é central em A história de Vidal, meu pai a partir do século 15. Em 1492, depois da queda da Granada, o Islã é rechaçado da Europa ocidental e a Espanha, então governada pelos reis católicos, Isabel e Fernando, impõe a judeus e muçulmanos o exílio ou a conversão. As dezenas de milhares de judeus que recusam a conversão ao cristianismo se espalharam pelo mundo. Com a diáspora dos sefarditas os judeus da Espanha espalham-se em pequenas comunidades rumo à Holanda, à Provença, mais amplamente rumo à África do Norte e sobretudo ao Oriente, Império Otomano adentro. Alguns se instalam nas cidades portuárias de Istambul, de Izmir e, principalmente, de Salônica, onde 20 mil deles desembarcam.
Esses judeus formam uma pujante comunidade, que por mais de quatro séculos conserva não apenas a fé judaica, mas a o uso do ladino – língua ibérica semelhante ao castelhano falada por comunidades judaicas originárias da península Ibérica, também chamada de judeu-espanhol ou dijio –. Salônica foi, há um tempo turca, macedônia, italiana, grega e seus habitantes que usava como identidade ‘judeu salonicence’ ou ‘israelita do Levante’, e trocavam de nacionalidade com frequência.
Em 1894, Vidal Nahoum – um judeu sefardita –, pai de Morin, nasceu em Salônica, e atravessou as guerras balcânicas, a derrocada do Império Otomano, e as duas guerras mundiais. E é a partir de Vidal Nahoum e de Salônica que o historiador traça um panorama dos judeus sefarditas.
Permito-me um parêntesis [Numa simplificação: entre nós (e me refiro ao Rio Grande do Sul) os judeus se dividem em a.- asquenazis – são judeus originados da Europa Central (o chamado judeu-alemão), cuja língua é o iídiche {já referido na resenha de “O Peregrino”} idioma baseado no alto-alemão do século 14, acrescido de elementos hebraicos e eslavos; e b.- sefarditas ou sefaradins – judeu descendentes dos primeiros israelitas de Portugal e da Espanha, que falam o ladino. No RS, a comunidade asquenazi é mais numerosa que a sefaradim]
Acompanhamos na trajetória do biografado a história da Europa do Século 20, onde as duas guerras, a holocausto dos judeus e as alterações de fronteiras dão o tom a uma narrativa emocionante. Acompanhar o pai em duas guerras e depois o filho como ativista na 2ª Guerra Mundial, quando a família já vive na França é muito envolvente.
O livro é uma primorosa edição de A Girafa Editora. Há pequenas imprecisões do tipo ‘31 de novembro’ que parecem não comprometer o texto. A leitura de A história de Vidal, meu pai é facilitada por árvores genealógicas de duas famílias judias salonicenses: Nahum (ramo paterno de Edgar Morin) e Beressi (materno) e de uma cronologia detalhada de seis séculos (1391-1986). Esses dois anexos são bons facilitadores para balizamentos da narrativa, especialmente quando não se tem a desejada condição de fazê-lo por muitas horas seguidas.
É com entusiasmo que recomendo às leitoras e aos leitores deste blogue essa obra mais recente de Edgar Morim. A oportunidade de conhecermos como se deu e como se dá construções de identidades – e as lutas de dos homens e das mulheres para consegui-las, escondê-las, mantê-las – é provavelmente um dos pontos mais significativos desse livro. Também por isso vale lê-lo.
Um bom sábado a cada uma e cada um. Eu, dentro de mais um pouco, terei o privilégio de estar desse a Morada dos Afagos, por Skipe, com alunos de Prática Pedagógica III: Física no Ensino Médio na FACOS de Osório, orientados pelo José Fernando Cánovas de Moura.
Caro Chassot,
ResponderExcluirObrigado pela dica, sem dúvida lerei o livo, até porque, descendente de marranos da Península Ibérica, leio tudo que diz respeito à história dos judeus. Além disso, sou assumidamente leitor compulsivo, e meu melhor tempo é aquele que passo lendo. Abraços, e bom fim de semana.
Muito estimado parceiro Jair,
ResponderExcluirvais encontrar muito de tua história de sefaradim, que dizes ser. Por uma ancestralidade paterna ‘Rodrigues’ penso que também sou.
Para mim foi das experiências mais gostosa perambular na historia dos judeus que tiveram deixar a Espanha, tendo por guia Morin.
Votos de muito boa leitura. Encantei-me com o texto Hitler.
Um bom resto de shabath,
Bom dia, Professor!
ResponderExcluirAaaaah!
Mas que felicidade saber que mais um[a] netinho[a] está a caminho!!!
=]
E novembro??!Próximo ao senhor, ou próximo à minha pequena Ellen!!
Que maravilhaaaaaa!
Fiquei muitíssimo feliz com a notícia!
Um abençoado domingo ao senhor e aos seus!!
Querida Thaiza,
ResponderExcluirsabes quando postei a boa nova da Clarissa lembrei de tua Ellen e eis que por esses meandros insondáveis tu te rejubilas com notícia.
Como a blogada dominical foi mais tarde, tomara que voltes para ver algo bonito de Bonito e me imagino a Ellen se encantando com as piraputangas.
Um frutuoso domingo para ti e para os teus.
attico chassot
Professor Chassot,
ResponderExcluirDevo confessar que ter aula durante todo o dia de sábado não é fácil, mas agradeço a Deus por elas! Pois foi a partir da aula do professor José Fernando que tive a oportunidade de participar da discussão ministrada pelo senhor, meu estimado professor Zezinho e participação da turma de Prática Pedagógica III.
Apesar de todo o seu conhecimento, o senhor nos repassou tranquilidade e somente alguém que possui uma humildade como a sua é capaz dessa façanha.
Espero em breve poder tê-lo, mesmo que virtualmente, em nossa aula. Assim, ampliarei meus rasos conhecimentos ao ouvi-lo e vê-lo tornar claro, o que às vezes é tão obscuro quando lemos.
O seu saber alinhava as diversas culturas!
Tenha uma ótima semana.
Izabel Leal
Estimada Iza
ResponderExcluir~~ estou remetendo esta mensagem para nosso querido professor Zeca, pois não tenho teu endereço ~~,
primeiro obrigado pela generosa referência a minha estada com vocês na manhã de ontem.
Essa semana vou produzir uma blogada sobre nossa experiência, Sugiro chamar estes encontros de “Diálogos de aprendentes’.
Estou desejoso de nosso próximo encontro.
Para ti também votos de uma semana e um afago do
attico chassot