Porto Alegre * Ano 5 # 1709 |
Há momentos que somos tomados por uma esterilidade intelectual e nos sentimos impotentes de redigir um texto. De vez em vez isto me acontece. Pautara para hoje escrever sobre a experiência que tive numa Skipe-aula, no último sábado, com alunas e alunas de Prática Pedagógica III: Física no Ensino Médio na FACOS de Osório, orientados pelo José Fernando Cánovas de Moura.
A tragédia ocorrida na manhã de ontem no Rio de Janeiro, onde 11 inocentes crianças foram trucidadas por um provável fanático religioso me faz incapaz de cumprir a proposta. Postergo o assunto para a próxima semana.
A carta deixada ~~ cópia abaixo – pelo atirador Wellington Menezes de Oliveira demonstra que era uma pessoa letrada com conhecimento de rituais religiosos acerca da preparo do cadáver para o sepultamento. As diretivas que deixou se assemelham a um ritual fúnebre islâmico ou, talvez, judaico. A menção a Jesus descarta a segunda alternativa e mesmo a primeira, pois se islâmico fosse talvez se referisse a Alá e mesmo o contexto de Jesus na carta não parece ser praticante do islamismo. Independente da dominação religiosa era um fanático religioso, certamente submetido a lavagens cerebrais.
Na manhã desta sexta-feira tenho seminário de História e Filosofia da Ciência no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão onde com meu colega Norberto Garin tentaremos responder a pergunta: Por que no Oriente não houve revolução Científica? O assunto também se torna irrelevante ante a tragédia maior para a qual não temos explicação.
Logo cabe guardar apenas respeitoso luto pelos inocentes massacrados e condoer-nos com as famílias sofridas com estas inesperadas perdas.
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Integra da carta:
“Primeiramente deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas, ou seja, nenhum fornicador ou adúltero poderá ter um contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão, os que cuidarem de meu sepultamento deverão retirar toda a minha vestimenta, me banhar, me secar e me envolver totalmente despido em um lençol branco que está neste prédio, em uma bolsa que deixei na primeira sala do primeiro andar, após me envolverem neste lençol poderão me colocar em meu caixão. Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu. Preciso de visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura pelo menos uma vez, preciso que ele ore diante de minha sepultura pedindo o perdão de Deus pelo o que eu fiz rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte para a vida eterna.”
"Eu deixei uma casa em Sepetiba da qual nenhum familiar precisa, existem instituições
pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado a uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar, trabalhar para se alimentarem, por isso, os que se apropriarem de minha casa, eu peço por favor que tenham bom senso e cumpram o meu pedido, por cumprindo o meu pedido, automaticamente estarão cumprindo a vontade dos pais que desejavam passar esse imóvel para meu nome e todos sabem disso, senão cumprirem meu pedido, automaticamente estarão desrespeitando a vontade dos pais, o que prova que vocês não tem nenhuma consideração pelos nossos pais que já dormem, eu acredito que todos vocês tenham alguma consideração pelos nossos pais, provem isso fazendo o que eu pedi."
(...) foi a minha percepção tão logo acabei de ler a carta do exterminador. Vou mais além se me permite: Este rapaz destruiu o seu computador porque foi orientado para isso. Com certeza deixaria rastros e teríamos aquilo que chamamos agora de respostas. Foi um ato de terrorismo. Quanto aos detalhes de confundir Alá ou até emsmo Jesus cristo, não muda a minha visão. Eu na minha simples análise, acredito que deveriam acionar o FBI ou a CIA. Eles possuem muito mais experiênia. Bem, é o que eu penso. Obrigado pelo espaço.
ResponderExcluirÉ muito triste comprovar que a humanidade está tãO desumana, e isso tudo se pode comprovar com o comportamentoe egoísta e individual que prepondera hoje sobre o pensamento coletivo. E casos como esses nos fazem refletir sobre o que queremos para o nosso futuro e o futuro de nossos filhos e netos. Mas, o pior de tudo é saber que somos responsaveis por essa educaçao que aí está e que muitas vezes ficamos impotentes diante de tanta violência. O que fazer? JB
ResponderExcluirFaz algum tempo que tenho me perguntado....
ResponderExcluirOnde encontrar a Humanidade dos seres humanos?
Não falo apenas da Humanidade que se fez ausente neste jovem, mas aquela se esconde em cada um de nós nos pequenos momentos onde deveria se manifestar
Onde está nossa Humanidade ao considerarmos "normal" vermos seres humanos como nós na mais absoluta miséria? Onde está nossa Humanidade ao julgarmos comportamentos alheios, quando esquecemos de observar nosso próprio comportamento?
Sim, queremos um mundo melhor e mais humano, mas para isso, devemos desenvolver nossa Humanidade a cada momento.
Uso uma frase de Gandhi para um convite a reflexão: "Torne-se a mudança que você quer para o mundo"
Caro Chassot,
ResponderExcluirhavia comentado antes, mas acho que o comentário se perdeu entre as frestas da caminhada entre uma sala e outra do IPA, hoje pela manhã (coisas da internet).
O que havia mencionado era que, a questão religiosa hoje está muito fragmentada: toma-se partes da doutrina de uma religião, junta-se com elementos de uma filosofia, agrega-se pensamentos e alguma seita ainda em formação e desse caldo, monta-se uma postura religiosa. Isso é um perigo, pois não corresponde a nenhum sistema organizado.
A minha percepção sobre esse massacre é que ele faz parte da "doença" da nossa sociedade, da qual também faço parte.
Um abraço,
Garin
Muy querido Profesor Chassot,
ResponderExcluirLo que ha pasado en la escuela de Rio es una tragedia que conmueve e interpela sobre cuánto en nuestro accionar o por inacción contribuimos a que suceda. Es evidente que el joven tenía previsto suicidarse después de disparar sobre inocentes, incluso llevó un lienzo blanco que premeditamente dejó en un aula del primer piso.
Él dice: "nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão". Eso me hace elucubrar si no habrá sido violado en esa institución. Claro que no deja de ser una especulación.
Me solidarizo con la pena de todos.
Un abrazo cariñoso,
Ave Chassot,
ResponderExcluirestou perplexo e muito comovido.
Me enluto convosco em silêncio.
Não há o que ser dito. Nem explicado.
Abraços,
Guy
Muito queridas Matilde e Rejane
ResponderExcluir&
muito queridos Ronaldo, Jairo, Garin e Guy,
primeiro relevem responder tardia e coletivamente aos apreciados comentários de vocês acerca da blogada de ontem. Não vou voltar com os comentários que foi minha letargia intelectual pelo nosso enlutamento que me fez optar pela forma desta mensagem.
A trazida do Ronaldo ~~ de quem lamentavelmente não tenho endereço ~~, também em parte ratificada pela Matilde – que do querido Equador se associa a dor brasileira – nos mostra que há algo mais em termo de ‘preparativos macabros’ que não nos é dado conhecer. A não presença de drogas no cenário é intrigante.
O Garin traz dois alertas significativo: as religiões são tomadas como um todo e confundidas como religiosidade e também quanto o Wellington pertence a uma Sociedade da qual fazemos parte.
Esta dimensão de alerta `a Sociedade/Humanidade são evocadas com preocupações pela Rejane e pelo Jairo.
No momento a recomendação do Guy parece a mais conveniente: associarmo-nos a silencioso luto reverente.
Desejo a cada uma e cada um sábado reconfortante
attico chassot