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terça-feira, 12 de abril de 2011

12.- A terra é azul

Porto Alegre * Ano 5 # 1713

Este 12 de abril é marcado por uma recordação histórica: os 50 anos do voo do primeiro humano a viajar pelo espaço, em 12 de abril de 1961. O autor do feito foi o cosmonauta soviético Iuri Alekseievitch Gagarin (em russo: Ю́рий Алексе́евич Гага́рин, Klushino, 9 de março de 1934 Kirjatch, 27 de março de 1968).

Aos 27 anos de idade, Iuri Gagarin tornou-se o primeiro ser humano a ir ao espaço, a bordo da Vostok I, uma nave que pesava 4 725 quilos. A nave fez uma volta completa ao redor do planeta. Gagarin esteve em órbita durante 108 minutos e proferiu a famosa frase “A Terra é azul”.

Em 1960, Gagarin foi um dos 20 pilotos selecionados, após difíceis processos de seleção física e psicológica, para o programa espacial soviético, e acabou por ser escolhido para ser o primeiro a ir ao espaço, pela sua excelente performance nos treinos, sua origem camponesa – que contava pontos no sistema comunista - sua personalidade magnética e esfuziante, e principalmente devido às suas características físicas – ele tinha 1,57 m de altura – já que a nave programada para a viagem pioneira em órbita, a Vostok, tinha um espaço mínimo para o piloto.

Está história precisa ser olhada em feito talvez mais espetacular que aconteceu menos de quatro anos antes. Eis a notícia.

No domingo, 6 de outubro de 1957, as manchetes de praticamente todos os jornais do Planeta versavam sobre o mesmo assunto. Eis como dois jornais brasileiros abriam seus noticiários internacionais:

O Correio do Povo de Porto Alegre destacava: “O SATÉLITE ARTIFICIAL É A MAIOR VITÓRIA DA CIÊNCIA HUMANA ATÉ OS NOSSOS DIAS”. “Volta ao mundo cada 96,2 minutos. Ouvidas regularmente mensagens secretas do satélite em evolução.” “A maior velocidade atingida por engenho humano. Moscou comemora o grande evento, enquanto o satélite perfaz 28.800 km por hora”.

A Folha da Manhã [era então o nome da atual Folha de S. Paulo] abria manchetes assim: ”CONSIDERADO O LANÇAMENTO DO SATÉLITE DA TERRA COMO O PRIMEIRO PASSO PARA A CONQUISTA DA LUA” “Esperam os cientistas russos atingir esse objetivo dentro de alguns anos.” Ressaltado o acontecimento como uma vitória do ‘regime soviético’”

Na mesma primeira página da Folha, em meio às notícias das celebrações em Moscou, há a declaração de um almirante naval dos Estados Unidos que diz que o satélite artificial não erasenão um pedaço de ferro que qualquer um poderia lançar”, enquanto senadores estadunidenses lamentavam o duro golpe para o mundo livre.

O Sputnik 1, cujo nome oficial era Iskustvennyi Sputnik Zemli (companheiro do mundo, viajante da Terra) pesava 83 kg e não era maior que uma bola de futebol. Foi lançado a 4 de outubro de 1957, mas anunciado pelo Kremlin no dia seguinte, por isso a referência no box, aos jornais do dia 6. A partida foi da base russa de Baikonur, na Ásia Central, que tivera sua construção iniciada em 1955.

No texto Ensino de Ciências no começo da segunda metade do século da tecnologia [in LOPES, Alice Casimiro & MACEDO, Elizabeth (orgs.) Currículo de Ciências em Debate. Rio de Janeiro: Papirus, 2004. p. 13-44] analiso o impacto da derrota do capitalismo para o comunismo na Guerra Fria pela conquista do espaço no ensino de Ciências.

No citado texto trago esta síntese retrospecttiva: O primeiro satélite estadunidense – Explorer I – foi lançado a 31 de janeiro de 1958; 119 dias após o Sputnik-1.

Nesta cronologia, aqui se insere o feito que recordamos hoje.

Em 6 de agosto do mesmo ano G. Titov permanece no espaço por 25h18min, dando 17 voltas em um vôo sub-orbital.

O primeiro estadunidense a fazer um vôo orbital foi John Glenn, que em 20 de fevereiro de 1962, percorreu 8 órbitas em 4h55min. Ainda em 1962, outros astronautas dos Estados Unidos fizeram vôos sub-orbitais.

Outro momento emocionante na história das disputas espaciais ocorreu em 1965, quando o astronauta Edward H. White, que pilotava a Gemini 4, se tornou o primeiro humano a caminhar no espaço.

Nesta resumida nota histórica, o feito mais significativo foi em 19 de julho de 1969, quando no 33º vôo tripulado, incluindo os da URSS e dos EUA, Neil Armstrong, astronauta estadunidense, pisou pela primeira vez o solo da Lua. Minutos depois seu colega de tripulação na Apolo 11, Edwin Aldrin se torna o segundo homem a pisar na Lua.

Se os estadunidenses foram os primeiros a chegar à Lua, também foram os primeiros a ter uma grande tragédia espacial: em 27 de janeiro de 1967 a Apollo-1, pegou fogo e três astronautas morreram.

No mesmo ano, em 23 de abril, os soviéticos tiveram seu primeiro mártir: Vladimir Komarov morreu quando a Soyuz-1 se espatifou no mar, ao voltar de vôo tripulado.

A história poderia se encerrar com um último registro muito recente: a morte, em 2 de fevereiro de 2003 de sete astronautas a bordo do ônibus espacial Columbia. Esta página inglória foi a repetição, pelo menos em número de vítimas do que ocorrera com Challenger, ônibus espacial dos EUA, em 28 de janeiro de 1986, que explodiu 73 segundos após decolar.

Depois desta síntese cronológica, voltemos ao herói hoje recordado, agora ajudado pela Wikipédia: Promovido de tenente a major enquanto ainda estava em órbita, foi com esta patente que a Agência Tass soviética anunciou este espetacular feito ao mundo, que assim tomava conhecimento de que entrava numa nova era, a Era Espacial, a partir daquele momento.

Após o feito, Gagarin tornou-se instantaneamente uma celebridade soviética e mundial e passou a viajar pelo mundo promovendo a tecnologia espacial do seu país, sendo recebido como herói por reis, rainhas, presidentes e multidões por onde passava. No Brasil, foi recebido e condecorado pelo então presidente Jânio Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul.

A fama e a popularidade começaram a afetar a personalidade de Gagarin, que se viu bastante afeito à fama, e passou a beber constantemente tendo seu casamento afetado por causa disso, chegando a se ferir num acidente causado pela bebida na Criméia, em companhia de uma jovem enfermeira, em outubro de 1961. A partir de 1962, ocupou o cargo de deputado no Soviete Supremo da União Soviética até voltar à Cidade das Estrelas, o centro espacial soviético, para trabalhar no design de novas espaçonaves.

Em 27 de março de 1968, durante um voo de treino de rotina sobre a localidade de Kirzhach, ele e o instrutor de voo Vladimir Seryogin morreram na queda do MiG-15 que pilotavam, num acidente nunca devidamente explicado.

Alçado ao título oficial de Herói da União Soviética, o centro de treinamento de cosmonautas no Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão, leva hoje o seu nome. A cidade próxima à aldeia natal de Gagarin em 1968, após morte do cosmonauta, foi rebatizada na sua honra.

Em dezembro de 1993, a galeria Sotheby's, em Nova York, leiloou um grande lote de peças dos tempos gloriosos do programa espacial soviético. O uniforme usado por Gagarin foi arrematado por U$112.500 dólares.

Na minha história pessoal, o feito se insere como talvez a minha primeira ‘palestra’ como professor. Recordo que em hora cívica no Colégio Jacob Renner, em Montenegro, falei sobre o assunto. Embalando estas evocações de meu 50tenário de professor desejo a cada uma e cada um a melhor terça-feira.

Esse blogue conclama a adesão à campanha: este ano 23 de abril – o Dia Internacional do Livro – ocorre no sábado de aleluia, por tal uma sugestão: que o coelho traga livros, ao invés de ovos.

10 comentários:

  1. Caro Chassot,

    a tua blogada de hoje me fez lembrar dessa época quando ainda morava no campo e trabalhava duramente como agricultor. As notícias nos chegavam através de um tio, irmão de minha mãe, que possuia um "radinho de pilha" (aqueles de transistor) e comprava todos os números da Seleções do Reader's Digest.

    Ele gostava muito desses feitos humanos e nos contava com entusiasmo. Apontava para o universo, nas noites estreladas para mostrar os satélites (imaginava que estava vendo, certamente).

    Foi muito bom poder recordar esta época: obrigado.

    Um abraço,

    Garin

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  2. JOSÉ CARNEIRO. escreveu de Belém:
    Caro amigo prof. Chassot:

    É um prazer ler o blog do amigo pela madrugada, como faço agora. A postagem sobre o Yuri Gararin foi o fino da memorialistica. Lembro-me de tudo como se fosse hoje.

    E pulando de pinto para cachimbo, mesmo sendo colorado, prevejo um rotundo fracasso para o Falcão que, como técnico, foi um maravilhoso "pebolista".

    Grande abraço,

    José Carneiro

    PS: Ainda tem matrinchâ guardado no freezer?

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  3. Meu caro Garin,
    é bom evocar esta nossa história. A notícia do Sputnik ouvi no telefuken a válvulas da casa paterna.
    Tema para uma blogada: o quanto a ‘Seleção de Readers Digest fez a nossa cabeça pró-Estados Unidos.
    Uma boa terça-feira.
    Com estima
    attico chassot

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  4. Meu caro José,
    parceiro da madrugada no memorialismo.
    Que te parece da proposta de uma pesquisa acerca da influencia da ‘Seleções do Readers Digest’ em nossa formação política: anti comunista e anti tabagista.
    Tomara que se cumpra tuas propostas sobre Falcão.
    Em junho vou à Manaus e sonho trazer uns peixinhos. Tenho saudades do ‘Ver-o-peso’.
    Com estima
    attico chassot

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  5. Querido mestre Chassot
    Vou pedir licença para ler seu post de hoje em minha aula de Saberes Químicos Escolares. As repercussões do fato para o Ensino de Ciências merecem ser destacadas hoje... Quanto à sua proposta para os posts anteriores, sobre a influência da "Seleções", acho muito interessante. Essa revista povoou minha infância e adolescência, pois meu pai comprava mensalmente e eu, como gostava de ler, "devorava"... as influências são grandes... mas outras leituras vieram, outras ainda virão! um grande abraço e bom dia! Cris Flôr

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  6. Querida Cristhiane,
    sinto-me honrado em estar um pouco na tua aula. Não sei se conheces o texto que aludo, onde mostro a influência do lançamento do Sputnik no ensino de Ciências. Podíamos pensar em fazer com teus alunos ‘diálogos de aprendentes’ como contei na blogada de ontem.
    Este assunto de Seleções me encantaria ver pesquisado.
    Um afago carinhosos do
    attico chassot

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  7. Querido Mestrre Chassot
    A introdução à aula de hoje, baseada em seu blog, foi muito produtiva. Para a próxima aula, leremos o seu texto Alquimiando a Química. Os estudantes ficaram muito animados e honrados com a possibilidade de fazermos um 'diálogo de aprendentes'. Vamos combinar então? Seguimos conversando... um abraço: Cris flôr

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  8. Cris Flor querida,
    que notícia bonita. Renovo minha disponibilidade.
    Um afago
    attico chassot

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