Porto Alegre * Ano 5 # 1719 |
Estamos em uma semana muito especial. Este ano temos a superposição da semana santa cristã com o período da páscoa judaica. O domingo de páscoa para a maioria das igrejas cristãs pode variar possibilidade de variação é de 22 de março a 25 de abril. A definição anual da data da Páscoa (que determina a data do Carnaval, da Ascensão, de Pentecostes etc.) – ocorre sempre na primeira lua cheia do equinócio de primavera no hemisfério Norte (ou de outono no hemisfério Sul). Como o calendário lunar é independente do calendário solar vemos que essa variação é de trinta e quatro dias, ou seja, cinco semanas menos um dia. Ainda hoje na unanimidade entre as igrejas cristã e já no 2º século se iniciaram discussões que catalisaram concílios e produziram cisma nas igrejas cristãs.
Após a promulgação do calendário gregoriano em 1582, a cristandade ocidental passou a seguir um método diferente de computar a data da Páscoa do que até então era aceito. A maior parte das igrejas ortodoxas continuaram a seguir a prática antiga (alexandrina) e esta diferença permanece até hoje, a despeito de diversas tentativas de alcançar um método comum. Em 1997, o Conselho Mundial de Igrejas propôs uma reforma do método num encontro em Aleppo, na Síria: a Páscoa seria definida como sendo o primeiro domingo após a primeira lua cheia astronômica posterior ao equinócio vernal como determinado no meridiano de Jerusalém. A reforma seria implementada a partir de 2001, uma vez que naquele as datas da Páscoa no ocidente e no oriente coincidiram. Porém, ainda neste 2011, ela ainda não havia sido implementada.
Mas hoje queria deixar a páscoa cristã de lado e falar do Pessach judaico. Esta noite participo no Lar dos Velhos da comunidade israelita de Porto Alegre – acompanhando a Liba e familiares da Gelsa – da inauguração do período pascoal, participando do seder (janta) inaugural do ciclo pascoal.
De acordo com a tradição, a primeira celebração de Pessach ocorreu há 3500 anos, quando de acordo com a Torá, Deus enviou as Dez pragas do Egito sobre o povo do Egito. Antes da décima praga, o profeta Moisés foi instruído a pedir para que cada família hebreia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte de seus primogênitos.
Chegada a noite, os hebreus comeram a carne do cordeiro, acompanhada de pão ázimo e ervas amargas. À meia-noite, um anjo enviado por Deus feriu de morte todos os primogênitos egípcios, desde os primogênitos dos animais até mesmo os primogênitos da casa do Faraó. Então o Faraó, temendo ainda mais a Ira Divina, aceitou liberar o povo de Israel para adoração no deserto, o que levou ao Êxodo.
Como recordação desta liberação, e do castigo de Deus sobre Faraó foi instituído para todas as gerações o sacrifício de Pessach.
É importante notar que Pessach significa a passagem, porém a passagem do anjo da morte, e não a passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho ou outra passagem qualquer, apesar do nome evocar vários simbolismos.
Hoje é a primeira noite de pêssach, marcado pelo seder (refeição) que recorda a noite que os hebreus sacrificaram o cordeiro para marcar as portas das casas protegidas. Amanhã, terça-feira, é primeiro dia pessach. As celebrações prosseguem na quarta-feira, segundo dia.
De quinta-feira, dia 21 a domingo, dia 24, são os dias intermediários com celebrações e rituais próprios. A data da Páscoa é fixa no calendário judaico (14 de nissan) só que este não coincide com o calendário gregoriano, por aquele ser lunar e este solar. Neste período, os que seguem mais rigorosamente os ritos não consomem alimentos fermentados e sim pães ázimos (o matzah) sendo, que esta tarde, antes de começar a páscoa os alimentos fermentados são descartados e só serão consumidos de novo na terça-feira da próxima semana.
Também para aqueles que seguem com mais rigor os preceitos, vale contar que as atividades criativas normalmente proibidas nos dias anteriores, são permitidas nos dias intermediários. Segunda-feira, 25/04, é o sétimo dia de Pessach inicia-se, ao entardecer, com o acendimento das velas de Yom Tov: neste dia celebra-se milagre da Divisão do Mar aconteceu ao amanhecer do sétimo dia de Pessach. É costume permanecer acordado nesta noite, tal como os judeus antigos o fizeram. Estuda-se Torá durante toda a noite. Pessach termina após o completo anoitecer de terça-feira, dia 26 de abril.
Esses comentários acerca da páscoa judaica, tem mais significado histórico, pois são mais intensamente seguidos apenas por grupos religiosos minoritários mais ortodoxos. Para muitos hoje estas datas têm mais sentido histórico e social, como ocorre com a celebração do natal ou da páscoa no mundo cristão. Talvez se pudesse perguntar quantos cristãos não se aperceberam que ontem foi domingo de ramos ou para quantos o que ocorrerá nos próximos dias é mesmo um grande feriadão.
Em outro momento pretende-se trazer aqui algo mais acerca das discussões acerca da (in)definição da data da páscoa entre as igrejas cristãs. Por ora para os crentes, judeus ou cristãos, uma boa semana e para todos, uma frutuosa segunda-feira. Estes votos são aditados de um convite para nos lermos amanhã.
Caro Chassot,
ResponderExcluirgostei muito da descrição que construíste sobre a celebraçao do Pessach. Confesso que não acompanhei a tentativa de unificação das datas, mas seria interessante.
Sobre o final da tua blogada de hoje, também entendo que estas celebrações são realizadas cada vez menos, ou seja, por um grupo cada vez menor de seguidores.
No caso dos discípulos, houve uma passagem muito interessante: depois de uma pregação sobre Jesus como Pão da Vida, muitos dos seus seguidores o abandonaram - a mensagem era pesada demais. Advertido pelos discípulos sobre a debandada dos seguidores ele respondeu: "Por ventura não quereis também vós outros retirar-vos?" (Jo 6.67). Acho que, de seguidores autênticos, o grupo vem diminuindo até hoje.
Um abraço,
Garin
Meu caro Garin,
ResponderExcluirobrigado pelo comentário. Na madrugada lembrei-me dois detalhes que deixei de mencionar a cerca do Pessach: primeiro que a data é fixa no calendário judaico (14 de nissan) só que este não coincide com o calendário gregoriano, por aquele ser lunar e este solar. Segundo, que no período, os que seguem rigorosamente não consomem alimentas fermentados e sim pães ázimos (o matzah) sendo, que esta tarde, antes de começar a páscoa os alimentos fermentados são descartados e só serão consumidos de novo na terça-feira da próxima semana. Talvez, ainda faça uma reedição da blogada.
Parece que realmente a ortodoxia em quase todas as religiões vem sendo abandonadas.
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirVocê não imagina como fico contente em ser teu leitor. Sempre que visito este espaço absorvo algum conhecimento, alguma informação, saio um pouco menos apedeuta. Obrigado por esse magnífico conteúdo, JAIR.
Muito estimado Jair,
ResponderExcluirouvir esta declaração de um polímata como tu, agranda o elogio.
Obrigado também por ensinares também de broas a Gnomos,
Com estima
attico chassot
Querido Attico!
ResponderExcluirConcordo com Jair! Aprendemos muito sempre!
Fico feliz com o que traz tua percepção, que a ortodoxia nas religiões está sendo abandonada. Penso que o dia em que nos tornarmos realmente Humanos, não somente a ortodoxia será abandonada!
Forte abraço!
Muito querida Rejane,
ResponderExcluirobrigado por teu querido e critico comentário.
Adiro a tuas utopias,
com continuada amizade
attico chassot