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terça-feira, 5 de abril de 2011

05.- Para os leitores do tempo do bonde

Porto Alegre * Ano 5 # 1706

Esta blogada abre com um registro de uma visita muito especial: ao anoitecer de ontem, recebi aqui na Morada dos Afagos a Giovana, acompanhada de sua filha Ana Luiza. A Giovana, uma psicóloga muito bem sucedida, é minha sobrinha, filha de meu irmão Sirne (1940-2002).

O Sirne eu tínhamos uma diferença de 1 ano e 18 dias, ele sempre foi mais forte que eu, passado por mais velho. Assim ter a Giovana em minha casa por um tempo trouxe evocações não apenas de minha infância, mas de quando ela era pequena e meus pais a curtiam como a primeira neta, depois de dois guris: Bernardo e Cássio.

A Ana Luiza está na última etapa da Educação Infantil em escola Marista, também me fez evocar o meu ginásio em escola da mesma congregação religiosa, onde também estuda a minha neta Maria Clara.

Logo recebo: A Ana Luiza adorou ter ido ai e perguntou se ela pode voltar num outro dia. Já deu uma olhada no livro com o Renato e ele já deu um marcador para ela usar no livro. Está se achando a leitora! Foi muito bom termos ido ai te ver! Abraço, Giovana. Nas fotos estou com Giovana, clicado pela minha sobrinha-neta, que aparece comigo na outra foto.

Esta blogada traz mais marcas de saudade. Por razões que explico adiante, evoco os bondes que circularam em Porto Alegre até 1970. Nos anos 1958/1960 tomava quatro por dia, a cada dia, para ir do bairro São Geraldo onde morava e trabalha até o colégio Julio de Castilhos, na Azenha. Na foto um deles circulando na Azenha O que mais me encantava era ler os reclames, como eram chamadas as propagandas, das quais a mais conhecida de todas era a do Rum Creosotado. Tenho muito presente os versos, cuja autoria é a atribuída ao poeta Bastos Tigre:

Veja, ilustre passageiro
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no entanto, acredite.
Quase morreu de bronquite
Salvou-o o Rum Creosotado.

Estas evocações foram catalisadas por excelente crônica Carlos Heitor Cony de publicada na Folha de S. Paulo do último domingo, que me alegro compartir com meus leitores, aditada de votos de uma muito boa terça-feira.

Os bondes e a internet
RIO DE JANEIRO
- Parece extravagância comparar os velhos bondes, aquelas carroças puxadas por burro e mais tarde pelos cavalos-de-força da Light, com a internet, que é uma das pontas mais sofisticadas da técnica, o veiculo mais rápido da comunicação, do trânsito de ideias e sugestões que podem tornar a vida melhor.
Acho que os bondes foram os primeiros espaços coletivos da publicidade: mensagens do governo, conselhos de saúde, beleza e poupança, ofertas de melhores produtos e preços. Naquele tempo, a preocupação com a sífilis (que era syphilis) e com as doenças pulmonares predominava nos anúncios. Num deles o sujeito ia se matar, apontava a pistola para a cabeça, nisso entrava um amigo e gritava: "Não faça isso! Tome o Elixir 914!"
Famoso entre os famosos, os versinhos recomendavam o Rum Creosotado (que era Rhum) para curar bronquites: "Veja ilustre passageiro o belo tipo faceiro etc."
Durante anos eu fiquei sem saber para que servia o Regulador Xavier e muito menos o que seriam "aqueles dias" para os quais era recomendado um remédio chamado "Saúde da Mulher". Por que não a Saúde do Homem?
E o que tem tudo isso a ver com a internet? Assim como os bondes, que além de nos levar de um lugar para outro, nos ensinava a cuidar da saúde e do bolso, a internet, além de sua importância na comunicação humana, virou um penduricalho de mensagens comerciais. Mudaram apenas os produtos: em tempos de TPM, a saúde da mulher dispensa reguladores, sejam os do Xavier ou não.
A oferta maior é dirigida sobretudo aos homens, embora as mulheres sejam as beneficiárias: Viagra e aumento de pênis chegam às nossas telinhas, prometendo paraísos a todos nós, que de alguma forma já nos livramos da sífilis e da bronquite.

6 comentários:

  1. Querido mestre Chassot!
    Seu post de hoje me lembrou do projeto Viajando com Poesia do Grupo de Poetas livres de Florianópolis. Eles publicam seus poemas em adesivos colados nos ônibus da rede de transporte coletivo. Tenho saudades de quando viajava de ônibus lendo poemas. A situação é contraditória! De um lado, os ônibus estão cada vez mais carregados dos chamados "bus door", contribuindo para com a poluição visual em uma capital cada vez mais invadida por essa forma de propaganda. Por outro lado, os mesmo ônibua nos permitem viajar com mais leveza, possibilitando os devaneios de se saborear um poema. Isso me lembra muito a música A novidade, de Torquato Neto e Gilberto Gil: A novidade era a guerra, entre o feliz poeta e o esfomeado... Quanto ao post de ontem, sobre as bibliotecas, tenho que realizar a contagem, mas certamente tenho mais de duzentos livros... Meus livros são preciosos para mim, e entre eles há o "Não contem com o fim do livro "de Jean-Claude Carriere e Humberto Eco, que defendem a imortalidade desse objeto frente à invasão massiva dos e-books. Concordo, são imortais. E nada como o prazer de ler um livro, não é mesmo? Boa semana para você! Um abraço com carinho! Cris Flôr

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  2. Cristhiane muito querida,
    é bom receber comentários acerca de Floripa de uma agora juiz-forana. Este livro de Jean-Claude Carriere e Humberto Eco é no mínimo alentador de que vale resistir na defesa de nossas propriedades preciosas. A frase de Schopenhauer: "Seria bom comprar livros se pudéssemos comprar também o tempo para lê-los." Citada na edição de ontem pelo Prof. Guy também conforta: já no começo do 18 faltava tempo para ler aos intelectuais. Pensava ser tal essa uma praga pós-internet.
    Um afago com agradecimentos pela tua visita sempre querida

    attico chassot

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  3. Vamos completar o anúncio (ou reclame como se dizia naquele tempo) do Rum Creosotado:
    "veja ilustre passageiro,
    o belo sujeito faceiro,
    Que está sentado a seu lado,
    E no entanto, acredite,
    Quase matou-o a bronquite,
    Sauvou-o o Rum Creosotado.

    Abraços, JAIR.

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  4. Prezado amigo Jair,
    a versão que completa é quase aquela que coloquei na abertura. Será que hoje se aceitaria que se dissesse tal do ‘tipo faceiro’ que está sentado a meu lado?
    Obrigado pelo prestígio que dás a este blogue.
    attico chassot

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  5. Desculpe Chassot, eu quis fazer o comentário num sentido e acbou saindo em outro. Da próxima vez me policio mais e não faço besteira. Abraços, JAIR.

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  6. Meu caro colega Jair,
    não mencionei e jamais imaginarias fazê-lo, que houve besteira. Interrogo-me se hoje seria politicamente correto dizer que o cavalheiro que está ao meu lado quase morreu de bronquite.
    O teu texto acerca do transitar de livros é muito sumarento.
    Vou publicá-lo.
    Com continuada admiração,
    attico chassot

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