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sexta-feira, 15 de abril de 2011

15.- Cada um no seu quadrado

Porto Alegre * Ano 5 # 1716

E... chegamos a mais uma sexta-feira e com ela gostosos acenos de um fim de semana e nele um domingo que anuncia uma semana adjetivada como santa, que este ano na conjugação do calendário solar e lunar, nos aditou um feriado nacional na mesma.

Mas para chegar ao fim de semana, há um dia de densa programação, que prognostica emoções em cada um dos três turnos. E, talvez, algo mais em momento incerto.

Pela manhã: o seminário de História e Filosofia da Ciência onde se pretende discutir a revolução copernicana. Analisar a demorada e cruenta transição do geocentrismo para o heliocentrismo é algo que me encanta.

À tarde, participo de uma banca de qualificação no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Andrea Vieira de Vieira apresenta sua proposta de dissertação "Análise da Superação de Preconceito: Um estudo de caso" onde audaciosamente estuda preconceitos sofridos por transexual. Minha contribuição, por ser quase um alienígena no assunto, será muito mais sobre o como e menos sobre o quê.

À noite estarei na celebração do casamento do Thaíssa e do Felipe. Ela foi minha orientanda e recentemente defendeu a dissertação: ‘Cadeirante + cadeira de rodas: um (quase) Ícaro que busca a inclusão social’. Lamento que a Gelsa não possa estar comigo. Sobejam motivos para tal. Esta noite, no mesmo horário das bodas, chegam de Paris a Júlia e o Benjamin. Eles virão acompanhados do Fabrice, que será hóspede da Morada dos Afagos.

Há, ainda, algo que fez este dia muito esperado: há a previsão de hoje sair o resultado das obras selecionadas que concorrem a edital no Centro Universitário Metodista do IPA e o livro do 50tenário de professor Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto é um dos concorrentes. Claro que reprimo ansiedade.

Eis um retorno da campanha deste blogue: que o coelho traga livros, ao invés de

ovos: Amado Professor Chassot! Quero somente confirmar minha adesão à campanha sugerida pelo seu blog. Nesta Páscoa nos presentearemos com livros. Ótima sugestão, inclusive em uma turma que leciono, vamos realizar um amigo secreto de livros. Um forte abraço, Anelise, da UNIDAVI, Rio do Sul, SC

Ontem anunciei aqui, a propósito da edição de quarta-feira, ratificada ontem, que recebera um texto sobre o assunto. Ele veio acompanhado de mensagem, da qual transcrevo excerto: ‘Quanto a Dawkins, é meu pensador cientista favorito em pese essa polêmica entre departamentos diferentes: Ciência X religião. Estou enviando o texto "Cada um no seu quadrado" que publiquei no meu blog em 27/08/2010. Se você quiser poderá publicá-lo para colocar mais lenha na fogueira deste pedaço. Abraços, Jair’.

Jair Lopes trabalhou na aviação civil e no transporte de cargas por quinze anos. Hoje se encontra aposentado e reside em Florianópolis desde 1999. Seu primeiro livro “A fonte e as galinhas”, está esgotado. Escreve crônicas por diletantismo e publica livros porque entende que suas opiniões devem ser partilhadas. Orquidófilo, numismata e leitor compulsivo, gosta de resolver palavras cruzadas e enigmismo. É editor do ‘Um blog que pensa’ jairclopes.blogspot.com/

Acreditando que blogues são espaços que devem ser Ágoras com tribunas para manifestações, ofereço hoje ‘Cada um no seu quadrado’ ao adito fotos de uma muito fruída sexta-feira.

No atávico confronto entre as ideias da ciência e os dogmas da religião, com frequência, surge a acusação que os cientistas tiraram Deus das pessoas e não ofereceram nada em troca. As indagações mais racionais que os crentes em uma entidade superior fazem são: Se tudo pode ser explicado pela razão; se tudo pode ser compreendido por mecanismos lógicos de causa e efeito, onde cabem as emoções como nossa capacidade de amar, sentir dor, desespero e solidariedade? A ciência pode fornecer meios que combatam nossas dúvidas existenciais, como a religião o faz? Se não há vida depois da morte, o que a ciência nos oferece? Então, a alma não existindo, o que nos diferencia dos outros animais? Somos apenas um acidente de percurso de uma evolução cega não programada?

Realmente, se encaradas assim sem maiores reflexões, essas perguntas parecem perturbadoras. Se adorarmos a ciência e a colocarmos no altar, ela estará substituindo Deus ou qualquer entidade que represente algo místico que preenche as lacunas onde a ciência não alcança, ou não alcançou ainda. Essa perturbação da ordem, (vamos chamá-la assim) tem dois aspectos relevantes que devemos considerar: Grande maioria, mas grande maioria mesmo, dos homens de ciência acredita numa entidade superior, apenas não mistura suas convicções religiosas com suas pesquisas que adentram os mecanismos que a natureza usa para ser o que é; além disso, nosso cérebro é constituído de dois hemisférios que tem funções distintas, o lado esquerdo desenvolve raciocínio lógico, faz contas e deduções a partir de dados; o lado direito é lírico, emocional e criativo, não está preocupado com resultado da soma dois mais dois, mas gosta de poesia e arte, além de acreditar em coisas místicas.

Assim fica fácil entender que sempre existiu e sempre existirá a dualidade entre querer compreender o que se passa e atribuir o obscuro, o misterioso a algum ente de poderes superiores e não questionáveis. Alguns poucos privilegiados conseguem ser técnicos excelentes e fazer boa poesia, ter sensibilidade para música (meu amigo RRB sabe de quem estou falando) e usar o lado do direito do cérebro tanto quando o esquerdo. Mas nós, bilhões de simples mortais, não temos tal habilidade, portanto, estamos sujeitos a “embolar o meio de campo” e, onde a lógica não nos atender, passamos a bola ao inexplicável da silva a quem damos nome de Deus, ás vezes.

Tenhamos em mente que a ciência é um método de adquirir conhecimento, de descobrir regras e diretivas da natureza, não é um substituto de Deus, não exige veneração nem fé, o que não se coaduna com as teorias e fórmulas não deixa de ser cada vez mais estudado e analisado. Já a religião, desde tempos imemoriais, explora o ignoto e o medo do escuro dos homens, não tenta explicar o inexplicável, apenas gera conforto onde há angústia e traz esperanças aos desesperados. A ciência explica o passível de ser explicado e não se mete na religião, segue paralela às crenças e, quando as confronta, é apenas para aclarar alguma coisa bastante simples, exemplo: o mundo não foi feito em seis dias, não há base que sustente essa proposição.

Não há necessidade de um propósito divino para justificar a busca que ciência faz pelo conhecimento. A ciência sempre será instigante e maravilhosa, e tem a humildade de se saber limitada, incompleta, sempre buscando algo mais, mas nunca supondo que alcançou o zênite. A ciência é mestre em construir modelos que se aplicam à natureza e aumentam o conhecimento que temos dela. A ciência é excepcional em argumentar, fazer perguntas depois tentar respondê-las, nunca se furta a tentar, experimentar e divulgar o que descobriu. A religião faz parte de outro departamento da mesma empresa, não deveria confrontar a ciência, pois estaria “jogando contra” e, desse modo, diminuindo a eficiência da empresa humanidade.

E a alma? E a vida eterna? E as angústias e medos? Ora, esse é o departamento das religiões, e a ciência nada tem a dizer, por enquanto. Como diz aquela música: Cada um no seu quadrado. JAIR, Floripa, 27/08/10.

6 comentários:

  1. Caro Chassot,

    bom dia! Obrigado pela reprodução e endereço do blog do Jair: dei uma espiada e logo que tiver um tempinho vou visitá-lo.

    Gostei da sua blogada sobre "Cada um no seu quadrado". Como ele mesmo diz, gosta de dar pitacos em assuntos quen não domina: acho que isso faz parte da intencionalidade dos blogues. É o espaço da discussão e do debate... está certo.

    Uma linha da blogada dele me chamou a atenção: "Realmente, se encaradas assim sem maiores reflexões, essas perguntas parecem perturbadoras."

    No meu entendimento, todas as perguntas são perturbadoras. Se não o forem, não seriam perguntas. Confesso que o que mais provoca medo são as perguntas, desde as que parecem mais simples até às mais complexas.

    Veja bem: "comos estás, tudo bem?" Como é que a gente responde uma pergunta dessas, com sinceridade? Sempre aderimos ao lugar comum: "Tudo bem, e tu?" Intimamente sabemos que essa pode ser a resposta esperada - aquela que não perturba o sossego do perguntador, mas não é a resposta sincera.

    Aliás, gosto das perguntas complexas: me dão mais possibilidades de tecer uma reflexão.

    Boa sexta-feira e curta as bodas com toda a intensidade de prazer!

    Até mais, um abraço.

    Garin

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  2. Estimado colega Garin,
    obrigado por estarmos junto nestes púlpitos pós-moderno onde nos transmutamos em pastores blogais.
    Tanto como atores e como leitores vale lembrar tua recente postagem acerca dos lobos em peles de ovelha.
    O texto do Jair é disciplinar: cada um no seu quadrado. Concordo, desde que não cerceemos diálogos entre os quadrados.
    Sonho com utopias: parece que bastaria que cada quadrado se despisse um pouco de ‘ser o dono da verdade’.
    Quanto as perguntas realmente o exemplo trazido de uma pergunta simples parece mesmo muito complexa.
    Com expectativa para uma sexta-feira muito esperada,
    attico chassot

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  3. Caro Chassot,
    Obrigado por ceder esse espaço para meu texto. Como o tema apaixona e remete a digressões, discussões, polêmicas e "insights" os mais variados, creio que teremos chance de colher frutos das opiniões dos leitores e tornar a escrever novamente sobre Religião versus Ciência.
    Abraços e tenha um fim de semana profícuo, JAIR.

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  4. Ave Chassot,

    eis um relato de um fenômeno ocorrido na terça-feira a tarde quando dava uma oficina sobre implantação de Museus Escolares.

    Fiz uma reflexão sobre a desigualdade cruel onde um jogador de futebol ganha muitos milhões e um professor ganha pouquíssimos milhares,

    quando fui interpelado por um participante que disse: - Professor, o Ronaldinho daria uma aula, mas o senhor não jogaria como ele.

    Respondi a queima roupa: - O Ronaldinho tem nos pés uma bola, já eu (os professores) tenho nas mãos o futuro do país.

    Enfim...

    Um desabafo.

    Abraços,

    Guy

    PS: não tem a ver com a crônica de hoje, mas precisava compartilhar isto.

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  5. Meu querido amigo Guy,
    realmente há dois grandes paradoxo: trabalhos diferenciados/uteis/significativos de uns & desníveis salariais.
    Com estima e continuada admiração

    attico chassot

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  6. Meu caro Jair,
    as referências dos leitores em comentários aqui no blogue e também pessoais mostram o acerto de abrir este blogue para ti.
    Seja sempre benvindo aqui.
    Há outros textos teus em minha mira.
    Eu também sou grato

    attico chassot

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