Porto Alegre * Ano 5 # 1708 |
Foi muito bom, ainda na madrugada, teclar via Skipe, com a Carla (que já vivia o entardecer) e saber que ela e o Bernardo estão bem e que hoje floriram as cerejeiras na primavera japonesa, A blogada desta segunda-feira livros: artigo de luxo fez com que um grupo distinguido de leitores trouxesse depoimentos tanto de suas posses em livros, quanto a generosidade e doar seus livros.
Prometi, em algumas respostas a comentários, falar de minha biblioteca. Trago um excerto de um capítulo do Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto. Livro ainda será assunto nesta preparação ao 23 de abril – o Dia Internacional do Livro.
Não me julgo consumista, muito pelo contrário. Mas livros... disparam em mim o “homo possessivus”. Parece-me que é o único bem material que busco acumular. Assim, está explicado, porque elegi para falar um pouco sobre ‘a minha Biblioteca’. Esse adjetivo possessivo parece muito forte nessa caracterização do substantivo. É bem posto, pois é nela que se acumulam os meus rasgos de consumismo. Para falar de uma biblioteca, um bom indicador é referir preliminarmente o acervo. Tenho nesse 3087 volumes. Logo falo aqui acerca de uma biblioteca pequena para quem tem nos livros, há mais de meio século, seu maior ferramental de trabalho. Estes livros são todos em suporte papel. Ainda não aderi aos E-books, mesmo que tenha I-Pad. Tenho alguns livros em suporte eletrônico, mas me seduzem pouco ou nada. Tenho saudade dos tempos em que passava horas na rede lendo. O notebook não é prático para tal.
Cada livro está registrado em arquivo Access, que já uso há
mais de dez anos, onde há quinze entradas para cada livro nessa ordem: #1) o número de registro individual da obra // #2) ISBN (um muito bom indicador de busca; anuncio uma blogada acerca do ISBN). //#3) uma classificação bem ampla acerca da natureza (literatura, educação, história da Ciência, ensino de Ciência, religião, alquimia etc.) // #4) uma combinação alfanumérica que indica a estante, a prateleira e posição na prateleira // #5) título // #6) autor / #7) ano da obra //#8) editora // #9) cidade / #10) procedência: data da compra, com local ou data do presente, com nome do doador// #11) 1ª palavra chave / #12) 2ª palavra chave // #13) 3ª palavra chave // #14) Observações (autógrafos etc.) // #15) Empréstimo (quando e para quem).
Quanto à distribuição física dos livros há uma grande divisão (que aceita algumas concessões e violações). Como tenho dois pisos na Morada dos Afagos, no inferior se alojam os livros de ficção e no superior os de ‘não ficção’.
No piso inferior a locação é muito diversificada. A maior parte deles está numa peça que é uma biblioteca com bons cômodos (rede, sofá, tapetes...) para leitura. Nessa peça os livros de ficção se dividem pela localização em estantes assim: Estante #1) literatura do Rio Grande do Sul // literatura do Brasil, em prateleiras distintas. #2) literatura portuguesa // literatura hispano-americana // biblioteca infantil – esta região está com atrativos para os netos #3) literatura produzida em outros países que não as anteriores. Nessa biblioteca há uma prateleira de livros que estão catalogados sob a rubrica ’turismo’, formada por livros de viagem. Há também uma prateleira dedicada a revistas científicas. Nessa biblioteca também estão os 27 volumes de meus diários manuscritos.
Ainda na parte inferior, há algumas outras ilhas com livros. Na cozinha há alguns poucos livros
de culinária (que não são meus preferidos, pois minhas relações com o fogão são quase zero). No quarto de dormir há cerca de duas dezenas de livros classificados como ‘eróticos’, onde predominam livros de contos deste gênero.
Na sala principal há locais diferentes de livro. Aqui estão mais os livros para olhar do que os de ler. Em vitrines tenho alguns livros raros e preciosos. O meu livro mais raro é um alcorão manuscrito que se diz ser de 1680 e que adquiri
No andar superior, onde está meu ‘Scriptorium’, marcado por lindo vitral que reproduz um copista medieval e a sua relação com os livros e dois vitrais menores em homenagem a Hipátia e a Giordano Bruno, estão os ‘livros de estudo’ alojados em sete estantes.
Na #1 há obras de referências, onde descansa uma enciclopédia Larousse em trinta volumes, que foi em outros tempos muito consultada. Há vários dicionários que também perderam muito de seu uso para meios eletrônicos de consulta, com exceção de dicionário filosófico em dois volumes e um dicionário em três volumes de biografias científicas. Tenho nessa estante uma coleção de obras de jardinagens e um conjunto de livros raros reprografados, editados pela ‘Biblioteca da Xerox’. Nesta estante também tenho reproduções da ‘Enciclopédia Francesa’ e uma coletânea de diários de viagens que produzi.
Na #2 estão as obras de História e Filosofia da Ciência, América Pré-colombiana, Inquisição, Bruxaria.
Na #3 estão os livros de Religião, com destaque sobre islamismo, história da Química, história do livro e mix muito diversificado.
A #4 é exclusiva sobre Educação em suas sete prateleiras, é a no momento a que aguarda espaço suplementar.
Na #5 a maioria é formada por livros que lembram o professor de Química que fui. Há também uma boa coleção de livros acerca de ecologia e outra acerca de saberes afros.
Na #6 há duas prateleiras com obras de Química, com anais de eventos e ainda coleções de textos clássicos.
Na #7 há os livros sobre assuntos que não oferecem abrigo nas seis outras prateleiras e são de títulos mais variados. Junto ao computador, para facilitar a acessibilidade, há livros de minha autoria e aqueles nos quais sou autor de algum capítulo.
Quando, há quase dez anos, projetei essa biblioteca, não imaginava que em menos de oito anos me defrontaria com falta de espaços. Estou buscando alternativas para resolver isso.
Foi bom ter contado um pouco de minha biblioteca. Se meus leitores aceitam compartilhar meus sonhos, diria que estes em torno desta biblioteca se aninham em duas dimensões: a primeira, poder fruir internamente aqueles livros por onde tenho perambulado apenas as lombadas, especialmente quando chegar a ‘jubilação’. Lembro da frase trazida pelo Prof. Guy Barros Barcelos na segunda-feira, atribuída a Arthur Schoppenhauer: "Seria bom comprar livros se pudéssemos comprar também o tempo para lê-los." Realmente sempre compramos livros para ler quando... sei lá quando será este tempo. A segunda, que pudesse oferecer a um número grande de pessoas, especialmente a uma comunidade mais carente, o acesso ao meu acervo. Sonho que um dia esta biblioteca possa ser doada para uma escola, se então, ainda se desejar livros em suporte papel.
É doloroso imaginar, mas talvez estes meus tesouros serão um dia tão inservíveis como a Enciclopédia Mérito em vinte volumes que há mais de dez anos doei para o ITerra do MST. Talvez meus livros sejam moídos para fazer não sei o que...
Esse blogue conclama a adesão à campanha: este ano 23 de abril – o Dia Internacional do Livro – ocorre no sábado de aleluia, por tal uma sugestão: que o coelho traga livros, ao invés de ovos.
Com votos de uma muito boa quinta-feira convido para um encontro amanhã. Espero contar, então a experiência do sábado passado, com a Skype-aula Morada dos Afagos<>FACOS, em Osório.
Caro Chassot,
ResponderExcluira tua biblioteca é constituida de um considerável acervo: uma tentação para um deixar-se levar pelo tempo... Como não tenho algo assim, seguidamente perco a noção do tempo numa livraria...
Já passaste por esta experiência? Quando se vê já estão quase fechando. Há uma vantagem: a gente pode "espiar" toda a sorte de produção, desde a literatura até os tomos mais técnicos.
Tem algumas livrarias que dá até para a gente tomar um cafezinho com pão de queijo... aí já é demais.
Um abraço,
Garin
Meu estimado colega Garin,
ResponderExcluirquero em breve tê-lo em minha casa para veres ao via isso que tentei descrever um pouco hoje. Claro que nos bibliófilos amamos livrarias. Curto um bom sebo também. Falar sobre sebos daria uma blogada preparativa ao dia internacional do livro.
Obrigado pela aula de bloggrafia que me deste.
Com estima e crescente admiração
attico chassot
Bom dia Professor!
ResponderExcluirDepois daquela nossa conversa acerca dos livros em lugar dos ovos de páscoa, me empolguei e fui fazer uma contagem dos meus aqui em casa.
Hoje voltei aqui no teu blog e...3087 livros?!
E eu aqui empolgada com meus poucos 602!!
kkkkkkkkk!!!
Tudo bem, tudo bem!
Eu ainda chego lá!
=D
Minha felicidade maior foi perceber que destes [momentâneos]602 livros, 155 são todos do meu filho! E ele tem apenas 5 anos!
.
Bom, um óóótimo sábado ao senhor e aos seus!
=]
Muito querida Thaiza,
ResponderExcluirfaz uma regra de três rápida e veras que quando chegares aos 71 teus 602 superarão em muito os meus 3087.
Ontem compramos 3 x 2 livros para presente aos três netos abrilinos e 7 x1 livros como pascoa aos sete netos.
A Ellem ainda tem avos? A sugestão de hoje eh um excelente regalo.
Muito bom fim de semana para ti e teu clã
attico chassot
Sim, sim!
ResponderExcluirTem avô e avó, meus pais; e avó, mãe de meu marido.
Ainda tem uma bisavó![mãe de minha mãe!]
=]
Dei uma espiadinha na sugestão!
hehehe!
[]'s
Thaiza querida,
ResponderExcluirabençoado teu privilégio de ainda teres uma das avós.
Curte-a!
Leia-a!
Copie-a!
Permito-me lembrar aquela frase: Quando morre um velho é como uma biblioteca que queima.
Um afago do
attico chassot
Chassot,
ResponderExcluirFantástica essa sua biblioteca, mesmo que não esteja ao alcance dos demais mortais, creio que você construiu um acervo que valoriza a arte de ler e "curtir" livros. Parabéns!
Meu muito estimado Jair,
ResponderExcluirtu sabes que tu balançaste meu ser possessivo com tua generosidade.
Teu textos tem me encantado.
Haja disciplina e espírito de pesquisa,
attico chassot