ANO
8 |
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EDIÇÃO
2684
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Morreu nesta
segunda-feira, dia 10 de fevereiro, aos 82 anos, o sociólogo e teórico da
cultura Stuart Hall, a quem chamavam “o avô do multiculturalismo”. De origem
jamaicana, mas radicado no Reino Unido desde 1951, Hall influenciou o debate
acadêmico e político na esquerda britânica ao longo de mais de meio século e
foi um dos grandes responsáveis pelo acolhimento universitário dos estudos
culturais, bem como pelo alargamento da disciplina às questões de raça e gênero.
“A obra de Stuart
Hall influenciou várias gerações de teóricos da cultura e da política,
incluindo a atual” e “as suas análises continuam ainda hoje a ser profundamente
importantes quer para acadêmicos, quer para ativistas políticos de esquerda”,
afirmou o sociólogo e teórico da comunicação Peter Golding, responsável pelas
áreas de investigação e inovação na universidade inglesa de Northumbria.
Para o
historiador Geoff Eley, Hall “foi o pensador crítico mais importante da
esquerda que emergiu da efervescência dos anos 1960 e 1970”. Também numa
declaração escrita, o professor da universidade estadunidense de Michigan disse
que Hall “combinou de modo muito lúcido” as “mais difíceis áreas da alta teoria”,
o “senso comum”, o “alcance visionário”, a “precisão da análise política
contemporânea” e “um espírito excepcionalmente generoso em todas as formas de
comunicação”.
O impacto da obra
de Hall, e em particular os seus textos sobre questões de raça, gênero,
sexualidade e identidade, ultrapassou largamente os círculos acadêmicos. E o
mesmo se pode dizer dos seus estudos dos anos 1970 sobre discursos dos meios de
comunicação social, que mostraram as ligações entre mídia e preconceito racial,
como Encoding and Decoding in the
Television Discourse (1973).
Este último tinha
por base “uma tentativa inovadora de começar a teorizar a produção, a
circulação e a recepção de ideias, imagens e significados gerados no seio dos
meios de comunicação de massas contemporâneos”, explica Geoff Eley, “à medida
que são recebidos e negociados por indivíduos e coletivos”.
Nos anos 1980,
foi um dos principais colaboradores do jornal Marxism Today, cuja crítica do thatcherismo influenciou líderes
trabalhistas como Neil Kinnock ou Tony Blair, mas nos últimos anos mostrava-se
cada vez mais pessimista em relação à esquerda britânica e ao Partido
Trabalhista em particular. Numa entrevista dada há dois anos ao diário The Guardian, afirmava: “A esquerda está
em apuros: não tem ideias e não tem uma perspectiva própria e autônoma”.
Nascido em 1932
em Kingston, no seio de uma família jamaicana de classe média, Hall mudou-se
com a mãe para o Reino Unido em 1951, tendo estudado, como bolsita, na
universidade de Oxford. Socialista, esteve ligado, com outros intelectuais
marxistas.
“Ele era um professor extraordinário — não
apenas na sala de aula, no auditório e no mundo institucional da universidade,
mas no sentido mais amplo da pedagogia pública e política”, sublinha Geoff
Eley. O “espírito de amplo calibre” e o ecletismo colocaram-no “acima dos
debates muitas vezes ásperos e destrutivos entre a esquerda intelectual”.
Eley lembra que
Hall era capaz de “pensar simultaneamente dentro de uma ampla variedade de
tradições de pensamento contemporâneo, demonstrando ao mesmo tempo e de forma
concreta o valor de tentar construir e sustentar uma conversa não-sectária”.
Apesar da
aposentadoria, continuou suas atividades públicas na Inglaterra e no exterior,
onde seu trabalho tinha repercussão crescente. Esteve no Brasil em 2000 para
uma série de conferências e teve traduzida a coletânea de ensaios “Da diáspora — Identidades e mediações
culturais” (Editora UFMG, organização de Liv Sovik) e o livro “A identidade cultural na pós-modernidade”
(DP&A Editora).
Em 2013, John
Akomfrah realizou um documentário sobre a vida de Hall e o seu legado
intelectual, intitulado The Stuart Hall
Project. Stuart Hall deixa viúva a historiadora Catherine Hall.
Apoiado em http://www.publico.pt/cultura/noticia/stuart-hall
Professor Chassot,
ResponderExcluirComo estudiosa de estudos multiculturais, soube, pelo seu blogue, da morte daquele que mais tenha contribuído no meu doutorado no ensino das Ciências!
Obrigado pela sua continuada parceriA
Limerique
ResponderExcluirFalece sociólogo e teórico genial
Que ao brilhantismo somou grau
Lutou pela igualdade
Vamos sentir saudade
Do fecundo e humano Stuart Hall.
Todos temos uma historia de vida para contar, mas inegavelmente alguns de nós mudam e norteiam o curso dos acontecimentos. Morre o sociólogo, mas suas teses são eternas. Como se diz, "não veio aqui a passeio"...
ResponderExcluirUma grande perda, sem dúvida. Ficam as ideias, suas obras. Estas, para a eternidade.
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