ANO
8 |
ANNENASSE
– França
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EDIÇÃO
2680
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Quando planejamos férias, é usual esquecer variáveis —que
mesmo usualmente presentes — podem produzir alterações em planos. Na manhã de
ontem, de repente, tivemos um plano foi abortado. Estava na agenda irmos a
Genebra para visitarmos a sede da ONU e conhecer o Museu da Cruz Vermelha.
Estávamos um tempo na parada, quando
soubemos que havia uma paralização de ônibus. As razões não são muito
diferentes daquelas que fazem que porto-alegrenses vivam dificuldades com o
transporte coletivo: protestos contra as péssimas qualidades de trabalho.
A segunda-feira, depois do extenso fim
de semana em Berna, parecia não comportar uma caminhada até a fronteira para
tomar ônibus suíços.
Primeiro fiz uma pequena circulada por
uma pequena cidade vizinha: Ambily, que fica ao norte de Annemasse, com cerca
de 6 mil habitantes. Seu lema Parvula sed
non minima que pode ser traduzido como ‘A menor (cidade da Alta-Savoia,
estado onde estamos), mas não qualquer. De Ambily registro algo que me parece
significativo. Em uma praça, uma pequena caixa de livros (na foto), servindo de
local de troca. Leva-se um livro e deixa-se outro em troca. Realmente Ambily,
pode ser a menor, mas não é uma cidade qualquer.
Resolvemos fazer um dia de preparação
para volta. Afinal, em outras ocasiões já comentei aqui os ensinamentos
colhidos de Michel Onfray, um filósofo francês, que
nasceu em 1959, em Argentan, no seio de uma família
de agricultores normandos. Fez doutorado em Ciências Política e
Jurídica. Lecionou Filosofia, no ensino secundário durante 20 anos em
um liceu em Caen. Descrente do modo como se ensina Filosofia aos alunos, em
2002, fundou a Universidade Popular de Caen, uma
universidade gratuita e heterodoxa, cuja concepção se assenta nos
princípios do seu manifesto La communauté philosophique, que
busca voltar às raízes do humanismo ocidental. Onfray defende que não
há Filosofia sem Psicanálise e os seus escritos celebram o
hedonismo, a razão e o ateísmo. Volto, agora a um de seus livros.
ONFRAY, Michel. Teoria
da viagem, poética da geografia. [Théorie
Du Voyage (Libraire Générale Française, 2007)] Tradução Paulo Neves. Porto
Alegre: L&PM, 2009. 112 p. 21 cm. ISBN 978-85-254-1918-7
Onfray parte do relato de Caim e Abel — o agricultor e
pastor —, no livro fundante da civilização judaico-cristã quase nos inquirindo:
Qual é a origem do desejo da viagem? Porque nos sentimos mais nômades
(como Abel) ou sedentários (como Caim)? Porque somos impelidos para
o movimento constante, a deslocação, ou amamos o imobilismo e as
raízes? Porque mantiveram alguns povos a sua marcha inexorável,
pastoreando os seus rebanhos? E porque se dedicaram outros a um
só lugar, onde cuidaram dos seus campos? A energia que anima
estas formas de vida tão distintas, estes dois arquétipos, é a mesma
que anima o resto do universo, e que as combina obscuramente em
cada um de nós.
Onfray em sua Teoria
da viagem estuda a viagem em três momentos: o Antes; o Durante; e o Depois.
Para cada desses momentos traz oportunas teorizações. Na verdade a viagem
começa muito antes de partirmos, nos rituais de programarmos e fazermos
roteiros. Mas também começa terminar antes. Sinto que a nossa está começando a
terminar. Em muitos momentos, já anseio pelo meu cotidiano na Morada dos Afagos.
Este dia chuvoso e frio, com programação abortada foi ideal para tal. Mas nesta
terça-feira, último dia antes de começar a voltar, temos muito planejado.
Com certeza Onfray jamais suportou o "imobilismo". Viagem poderia ser sinônimo de conhecimento.
ResponderExcluirBoa Viagem mestre. De volta para o seu recanto.
Limerique
ResponderExcluirLimerique
Lá como aqui trabalhador se atreve
Como tão bem Chassot o descreve
"Transportes parem!
Até nos pagarem"
Na Europa também existe greve!
Eu acrescentaria um quarto estagio as viagens, o qual as torna eternas, as lembranças
ResponderExcluirAbraços
Ao Mestre Chassot: E que Deus acompanhe voces nessa volta. Bom retorno. Um abraço Ley.
ResponderExcluirMuito estimada Ley!
ResponderExcluirObrigado pela compania!