ANO
8 |
J
E R U S A L É M
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EDIÇÃO
2670
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Em quase 2,7 mil edições deste blogue, esta que escrevo,
literalmente no shabath, talvez seja das mais difíceis de redigir. Divido, uma
vez mais, esta blogada em dois momentos, um e outro emocionantes.
O
primeiro, ter ido aos territórios ocupados Palestina e visto uma
dolorosa realidade que parece quase insolúvel. Outro, ter vivido o início do shabath mais emocionante de minha
vida. Um e outro tecem esta blogada.
Desde que organizávamos nossa viagem, havia um desejo de realizarmos um ‘tour político’. Um destes, trazia um anúncio como: Todo mundo conhece acerca da situação muito difícil que os territórios
palestinos estão passando. Por esta razão, o nosso trabalho é mostrar ao mundo
os eventos e os fatos reais sobre o que está acontecendo na Palestina. Faça um
pequeno tour em nossa visão, e contate-nos se você está planejando visitar a
Palestina.
Atendemos à sugestão. O Ismael, cedo, abriu o jogo a nós dois e a
quatro italianos que compunham a nosso grupo: “Mais que guia turístico, sou
militante político. Vou mostrar a realidade palestina, não aquela descrita por judeus, com quem convivemos muito bem, mas aquela produzida pelos sionistas israelis!” A foto reproduz um cartaz em 'check-point' para ingressar na Area A, uma das três nas quais é dividida a região ocupada. Essa área, diferentemente das outras duas, onde o Estado de Israel tem controle inclusive da distribuição da água e fronteiras. Só não controlam ar, no dizer de Ismael.
Mesmo com todo ‘desconto’ à militância de Ismael, vivemos
momentos dolorosos. Não vimos solução para o conflito do Oriente Médio.
Na Palestina em resumo vimos: construção de milhares de
moradias de muito boa qualidade para colonos israelis (aqui a expressão 'colonos israelis' deve ser vista como cidadãos urbanos, profissionais liberais e trabalhadores de diferentes ramos, sem nenhuma conotação com trabalhadores rurais); erguimento de quilômetros de
muros, separando palestinos e os fazendo viver em guetos em territórios que
ocupam há milênios.
Uma situação dolorosamente complexa. Há algumas fotos que
fiz na tarde de ontem.
Assim, parece ser impossível sonhar com nenhuma de duas
situações no Oriente Médio: dois países: um israeli e
outro palestino. Ou um único país co-gestionado
por israelis e palestinos. Uma e outra das alternativas, agora, parecem
utópicas.
Gostaria apenas de dizer aos meus leituroes que a cada dia os palestinos veem seus territórios usurpados pelo
aumento de ‘colonos’ que são implantados por Israel, para assegurar maiores territórios
que aqueles que foram definidos pela ONU em 1948.
Voltamos muito tristes. Talvez a mais dura realidade: a
guetização dos judeus que vimos na quinta-feira no museu do Holocausto ocorre
agora em 2014.
Retornados da Palestina, ficamos onde o tour começara: em
um hotel na Jerusalém árabe. Buscamos a porta de Damasco e entramos, mais uma
vez, na cidade velha. Parecia que tínhamos saudades da cidade, tão curtida na
última quarta-feira. Estávamos em uma região que não conhecíamos. Assim, como pela manhã
víramos levas de islâmicos indo a mesquitas para iniciar o dia de guarda, agora eram
milhares de pessoas buscando o mesmo destino que nós: o Muro das Lamentações.
Tivemos
sorte de chegar minutos antes do início do shabath (= ao por do sol). Nos
separamos, pois há um imenso setor só para homens, e uma parte bem menor para mulheres.
Portando um quipá, misturei-me com centena de homens, a
maioria religiosos, para chegar ao Muro.
Também fiz meu bilhetinho: Paz para o Oriente Médio e o coloquei,
devota e emocionadamente em uma das frestas do muro. Algumas fotos do anoitecer
de ontem.
Minutos mais tarde, me reencontrei com a Gelsa. Então, o
acesso ao Muro era quase impossível. Milhares de pessoas tomavam a imensa explanada.
Elas rezavam, cantavam, dançavam. Algo indescritível, pela emoção que me causou.
Em mais de uma vez fui
advertido de não usar a máquina fotográfica, pois o shabath já tinha começado. Por
tal, também não se podia usar telefones e fones de ouvido e também fumar. A
surpresa maior: depois de vencer labirínticas ruelas, passar pelo bairro armênio,
vencer imensas escadarias do quarteirão judaico, chegamos à Jaffa street para tomar o
trem e encontramos um aviso: serviço
encerrado. Também ônibus, lojas e restaurantes não funcionavam. Estamos no shabath. Um
shabath que tem um gosto muito amargo.
Ao ler tais relatos e, de forma simultânea, pensar em conceitos/expressões como humanidade, desumano, religião, radicalismo, fundamentalismo, esperança, Deus, tento imaginar como é presenciar tudo isso?
ResponderExcluirSomos, mesmo, criaturas de Deus?
Saúde, mestre, para viver outras emoções.
Grande abraço.
Esse é um dos melhores exemplos de intransigência humana, de até que ponto o radicalismo pode chegar. Por aqui, em nossa terrinha, a emissora líder emplacou uma cena de final de novela emblemática com o primeiro beijo gay em horário nobre. Me perdoem os "moderninhos", mas ainda me sinto chocado ao expor os meus a esse tipo de cena dessa forma forçada. Devemos aceitar nossas diferenças, mas não podemos impor nossos pontos de vista como fazem aos palestinos.
ResponderExcluirUm recado ao Mestre; estás "trabalhando" mais nessas férias do que o normal, e suas blogadas estão com um quê de "Indiana Jones"...
Abraços
Em tempo, como voltas-te para o hotel?
ResponderExcluirMeu caríssimo Antônio!
ResponderExcluirVoltamos a pé!
Hoje, por causa do shabath não havia possibilidade de ter leite quente!
A estima e a amizade para vocês do
attico chassot desde Jerusalém
Chassot,
ResponderExcluirestás um perfeito ashkenazi com este quipá.
Que Javé atenda teu pedido.
Abraços,
Guy
PALESTINOS
ResponderExcluirSegundo uma visão histórica, os árabes são um povo único, assim como o são os judeus, os kosovares ou os índios do Novo Mundo. O que há é que árabes habitam vários países do Oriente Médio em virtude de divisões territoriais artificiais impostas pelos colonizadores ingleses, franceses e outros, com fito maquiavélico de “dividir para governar”. Nesta ótica é estranho excluir do povo árabe, os palestinos, assim como não faz qualquer sentido “criar” judeus russos, judeus alemães ou qualquer outra denominação. Afinal, antes da criação do estado de Israel, os povos (árabes, judeus e cristãos) que viviam na região a consideravam parte da Síria. Aliás, até o próprio Arafat concordava com uma visão panarábica, palavras dele: “A Palestina é apenas gota no oceano árabe, nossa nação é a nação árabe”.
Por outro lado, têm-se que levar em conta que ao ser criado o “Mandato Britânico” após a primeira guerra mundial, os britânicos arrancaram um grande naco da Síria e criaram a Jordânia a qual deram de presente a rei Abedullah que havia lutado ao lado deles contra os turcos que dominavam a região há seiscentos anos. Quando a ONU dividiu o que restou da Palestina entre judeus e árabes, estes se recusaram a criar uma nação árabe porque entendiam (entendem ainda) que essa nação inclui o estado de Israel e que judeus não têm direito a um estado, são estrangeiros que invadiram aquele espaço e devem retornar seus países de origem. Aqueles mesmos países que os expulsaram e exterminaram por que eles não faziam parte de seus povos. Seria risível se não fosse extremamente dramático, historicamente incorreto e genocídio anunciado.
Desde a criação de Israel até 1967, os árabes que deixaram a região viveram na margem oeste do Mar morto e eram administrados pela Jordânia, e os que viviam na Faixa de Gaza eram administrados pelos egípcios, mas, até aquela data, não falava em palestinos, só quando, após a guerra dos seis dias quando Israel passou a administrar essas duas regiões o termo palestino foi então usado. A Síria, o Egito e a Jordânia haviam se recusado a criar um estado palestino para acolher esses deslocados e passaram então a reivindicar que só seria viável a criação de um estado se Israel desaparecesse.
Ora, o estado de Israel é uma realidade, como então seus vizinhos impõem a condição de seu desaparecimento puro e simples para a viabilidade de uma pátria para os palestinos, que são árabes?