ANO
8 |
ANNEMASSE
FRANÇA
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EDIÇÃO
2665
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UMA EVOCAÇÃO FUNÉREA Mesmo a mais de 10 mil km distante
do chão onde vivo, a abertura desta segunda-feira não poderia ser diferente.
Evocar a terrificante tragédia ocorrida há um ano em Santa Maria, quando 242
jovens morreram na boate Kiss. A solidariedade aos sofridos familiares e o
pedido de justiça para os responsáveis ditam — mais fortes — os sentimentos de
hoje.
Depois desta pavana fúnebre, anuncio
que a blogada desta segunda-feira é tecida em dois tempos: o ontem e o hoje. Trago dois momentos destas férias, motivado por manifestações
de leitores que estão curtindo estes comentários de um viajor.
O ontem: Depois de dias caniculares em Porto Alegre, com temperaturas
de 40ºC, vivemos agora temperaturas negativas que ensejam passear por lindos
espaços cobertos de neve. Neste domingo fomos a Taninges, um lugarejo com cerca
de 3 mil habitantes, a meia hora de Annemasse e então a sua estação de esqui, subindo
os Alpes, por mais uns 20 minutos para chegar a Pras de Ly, a 1.500 metros de
altitude. Ali vivemos por algumas horas envolvidos por neve.
Foram momentos indizíveis para alguém
que vive onde nevar é algo exótico, mesmo que não fosse a minha primeira estada
em meio à neve. Mais do que descrever emoções, algumas fotos narram algumas
horas deste domingo, onde como ontem, o almoço foi algo muito típico da região:
crepes. Uma vez mais meu francês me traiu. Vi no cardápio ‘galettes’ e imaginei
ser galeto, algo adequado à fome de uma manhã ‘esquiando’, mas os crepes estavam
maravilhosos e adequados à fome.
A propósito, iniciei falando nas
transições térmicas, se dizia na semana passada, antes de nossa viagem, que Porto
Alegre atingia a terceira temperatura mais altas Planeta. Meu descrédito, ante
esta farolice muito gauchesca, ratificou-se ao consultar dados mais fidedignos
em pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_recordes_clim%C3%A1ticos. Estamos distantes destes recordes.
Agora, o hoje: nosso último dia de estada pré-viagem ao Oriente Médio, será
em Genebra. Há muitas razões para uma segunda-feira genebrina. Vou destacar apenas
duas muito particulares. Uma que busco em uma
história um pouco mais distante, outra que evoca dias atuais.
Um pequeno recorte histórico: A Reforma
Protestante influenciou Genebra. Enquanto Berna favoreceu a introdução do novo
ensino e exigiu a liberdade de pregação, a católica de Friburgo, em 1511,
renunciou a sua lealdade com Genebra. Em 1532, o bispo católico da cidade foi
obrigado a abandonar a sua residência, para nunca mais voltar. Em 1536, os genebrinos
se declararam protestantes e proclamaram sua cidade uma república.
O líder
protestante João Calvino residiu em Genebra de 1536 até sua morte em 1564
(exceto no período de seu exílio de 1538 a 1541) e se tornou o líder espiritual
da cidade. Genebra tornou-se um centro de atividade protestante, produzindo
obras como o Saltério de Genebra, embora houvesse muitas tensões entre Calvino
e as autoridades civis da cidade. Embora a cidade propriamente dita
permanecesse um reduto protestante, uma grande parte da diocese histórica
retornou ao catolicismo no início do século 17. Na ilustração o Mural aos reformadores.
Agora algo contemporâneo: Ainda, na
semana passada, quando já estávamos aqui, cerca de quarenta chanceleres
participavam de Genebra difíceis negociações de paz para conflito sírio. Isto nos
faz sentir um pouco como se fôssemos parte da história e das muitas decisões
históricas são tomadas em Genebra.
A
cidade suíça de fato tem uma forte tradição quanto o assunto é negociar a paz. Após
os horrores da Primeira Guerra Mundial, Genebra foi escolhida - com pequena
margem sobre Bruxelas - como sede da então recém-criada Liga das Nações, órgão
cuja missão era impedir a eclosão de um novo conflito.
As
expectativas quanto à Liga eram enormes na época, explica David Rodogno,
historiador no Instituto Graduado de Genebra. “(Isso) porque muitos líderes
internacionais achavam que a 1ª Guerra seria a última. Então 1919 e 1920, os
primeiros anos da Liga, eram certamente anos de esperança."
Tradição
de Genebra em negociações remete à época em que cidade abrigou a Liga das
Nações. Mas o órgão não conseguiu impedir a Segunda Guerra. Em vez disso,
tornou-se a "casa" da ONU na Europa, e as negociações de paz se
tornaram frequentes.
Os
motivos são variados: a neutra Suíça é um país-sede aceito por todos; e, numa
questão mais prática, o voo para Genebra é fácil tanto de Moscou como de
Washington.
Negociadores
comemoram acordo nuclear iraniano em Genebra, em novembro de 2013. Por conta
disso, é raro encontrar um diplomata que não tenha se hospedado em hotel genebrino
em algum momento da carreira. "(Henry) Kissinger, (Andrei) Gromyko,
(Ronald) Reagan, (Mikhail) Gorbachev... e mais recentemente, os diálogos sobre
o programa nuclear iraniano", diz um gerente de hotel. "Se essas
paredes falassem, teriam muito a dizer."
Como
uma importante cidade global, Genebra com quase 200 mil habitantes é, ao lado
de Nova York, o centro mais importante da diplomacia e da cooperação
internacional em razão da presença de inúmeras organizações internacionais,
fazendo de Genebra sede de diversos departamentos e filiais das Nações Unidas,
da Cruz Vermelha e da UNESCO — fazendo com que a cidade tenha a alcunha de
"Cidade da Paz", uma vez que lá foram assinadas diversos tratados em
prol da paz mundial, incluindo, o durante a Convenções de Genebra que dizem,
sobretudo respeito ao tratamento de não-combatentes de guerra e Prisioneiros de
Guerra.
Genebra é considerada um
dos mais importantes centros financeiros do mundo, estando, segundo estudos de
2010, à frente de Tóquio, Chicago, Frankfurt e Sydney segundo empresa
especializada, e em terceiro lugar na Europa, depois de Londres e Zurique. Um
exame feito por agência de consultoria em 2009 a classifica como a terceira
cidade com maior qualidade de vida no mundo (e na Suíça, superada somente por
Zurique). Em 2011, foi considerada a quinta cidade mais cara para se viver no
mundo. E nesta Genebra que viveremos um pouco nesta segunda-feira.
Quem conhece a história tem consciência de ser-no-mundo.
ResponderExcluirBrilhante o resgate histórico.
Hora do 'recreio'.
Grande abraço a este belo casal.
O meu comentário hoje "pega uma carona" nos providenciais informes de nossos robozinhos internéticos. Sendo assim diz a Wikipédia - O Priorado de Sião foi fundado oficialmente como uma associação francesa em 20 de julho de 1956 na vila de Annemasse.3 . O pedido de autorização de constituição foi efetuado em 7 de Maio de 1956, na Sub-Prefeitura de Polícia de Saint-Julien-en-Genevois (Alta Saboia), mediante uma carta assinada pelos quatro fundadores: Pierre Plantard (1920-2000), André Bonhomme, Jean Deleaval e Armand Defago.
ResponderExcluirA sede social estava estabelecida na casa de Plantard em Annemasse. O texto de constituição, conforme consta no Journal Officiel, número 167, segundo Pierre Jarnac, é o seguinte: "25 juin 1956. Déclaration à la sous-préfecture de Saint-Julien-en-Genevois. Prieuré de Sion. But: études et entr'aide des membres. Siège social: Sous-Cassan, Annemasse (Haute-Savoie)."
A escolha do nome faz referência a uma região da cidade Annemasse denominada Mont Sion, onde os fundadores se reuniam frequentemente. A sociedade também fazia uso da sigla CIRCUIT que significa em francês Chevalerie d'Instituições Règles et Catholiques d'Union Independente et Traditionaliste (Cavalaria da Instituição e Regra Católica e de União Independente Tradicionalista).4.
Peço perdão pelo extenso texto, mas achei muito interessante o Mestre estar passeando em solos tão ricos de história.
Abraços ao jovem casal.
Meu caro Antônio Jorge,
Excluirprimeiro agradecimentos pelo saudações ao jovem casal. Não sabia nada desta ligação de Annemasse com esta sociedade que restauraria aqui 'o Priorado de Sião'. Viajo amanhã de madrugada, casualmente para outra Sião, Volto aqui no dia 6, talvez encontre alguém que conheça algo.
obrigado pela parceria itelectual.
Amizade do
achassot
Querido Attico,
ResponderExcluirque tua estadia possa ser excelente e prazerosa. Aproveite bastante.
Gostei de mais!
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