ANO
8 |
em fase de transição
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EDIÇÃO
2642
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Dentro da
proposta de blogadas serendipitosas, nos emocionamos neste sábado com alguém
que prestou grandes contribuições à humanidade. Seu nome está mais associado a
um ‘exame’ ou um ‘teste’ para detecção de câncer que é rotina na vida das
mulheres do que à sua história muito significativa.
Geórgios Nicholas Papanicolau (1883-1962) nasceu
em Coumi, uma vila grega. Formou-se médico de família em Atenas e foi estudar
na Alemanha em Iena, Friburgo e Munique. Nesta cidade fez doutorado em Medicina em 1910.
Sua vida profissional foi, então, interrompida pela convocação para a guerra
dos Balcãs. Após ter servido seu páis na guerra, resolveu fazer malas em 1910 e
migrar, porque achava que os Estados Unidos eram a terra das oportunidades.
Mas, ao chegar a Nova York, só conseguiu vender tapetes. Levou um ano até conseguir
trabalho como assistente de laboratório na Universidade Cornell. Ali,
Papanicolau foi professor. Em 1923, ele estudava as mudanças provocadas pelos
hormônios no útero. Para isso, analisava as secreções uterinas de pacientes.
Foi então que viu uma amostra diferente, cheia de células deformadas. Ela
pertencia a uma paciente com câncer. O pesquisador grego fez o mesmo exame em
outras doentes e concluiu que aquele tipo de análise diagnosticava tumores.
Escreveu um artigo de mais de 100 páginas sobre o assunto e distribuiu o texto
durante um congresso médico, em 1928. Mas nenhum colega se entusiasmou com a
leitura.
No final do
artigo, após descrever o novo teste para o câncer uterino pré-invasivo ele
previu: “Uma compreensão melhor e uma
análise mais precisa do problema do câncer resultará no uso deste método. É
possível que sejam desenvolvidos testes análogos para reconhecer câncer em
outros órgãos. Creio que tais métodos poderão ser desenvolvidos no futuro”. O
dr. Pap cumpriu sua própria previsão — aquela observação ao acaso, que ele
reconheceu ser uma questão de sorte (Roberts, p. 170, citado dia 2) — chegou a
ser aplicado ao cólon, rim, bexiga, pulmão, estomago, próstata, mama, seio
nasal e até ao cérebro.
Há mais de
meio século (em 1962), o Journal Medical
World News, no obituário do Dr. Papanicolau, escrevia: “Há 25 anos, o câncer uterino era o maior causador de mortes de mulheres estadunidenses, hoje, de acordo com a
Sociedade Americana do Câncer, 180 mil mulheres estão curadas e muito bem de saúde,
cinco anos após o tratamento, principalmente, em consequência do exame do esfregaço”
(Roberts, p. 169).
Hoje o exame
Papanicolau é reconhecido no mundo inteiro como um dos maiores triunfos da
medicina. E... por tal ao Dr. Pap a gratidão expressa nesta postagem sabática.
O que impressiona é a indiferença logo após o anúncio de magnânina descoberta. Será próprio da ciência ou tem a ver com época, o contexto e outras peculiaridades???
ResponderExcluirBom primeiro findi deste, badalado e esperado 2014, ano que ora começa a engrenar...
ResponderExcluirArma poderosa
Geórgios Papanicolau, o médico grego
Considerado é hoje o pai da citologia
Pesquisador que sem nenhum sossego
Brilhou pelo que sustentou de ousadia
Câncer de útero aparecem aos milhões
Mas têm arma as mulheres modernas
As quais lhes atenuam as preocupações
Porque o teste Papanicolau as governa
Mulheres atuais com simples exame
Enxotam essa doença simplesmente
Se tornarem essa prática seu ditame
E seguirem o conselho corretamente.
Pois Papanicolau forneceu ao certame
O meio que ainda salvará muita gente.
Muito querido Mestre Chassot!
ResponderExcluirMais um superblogada serendipitosa (acho que acertei na primeira vez que uso esta palavra!)
É emocionante saber que o Dr. Pap, mesmo tendo que vender tapetes, continuou tendo no horizonte salvar vidas.
Oportuna a lembrança do comentarista-poeta Jair: Dr. Papanicolau é considerado o "Pai da citologia".
Valeu o sábado, Mestre,
Laurus Loureiro Lima
Triste é constatar, como já comentado pelo nosso amigo leitor Vanderlei, como a comunidade científica tem o péssimo hábito de só dar o reconhecimento póstumo.
ResponderExcluirTriste é constatar, como já comentado pelo nosso amigo leitor Vanderlei, como a comunidade científica tem o péssimo hábito de só dar o reconhecimento póstumo.
ResponderExcluirAve Chassot,
ResponderExcluirbela escolha no assunto da blogada. Endossa a epistemologia Kuhniana, de que a "ciência normal" tende a rejeitar algo que não esteja fundamentado nos paradigmas correntes, mas, ao passar do tempo, ocorrem revoluções. Uma revolução não precisar ser grandiosa, pode ocorrer, como diz Fourez, uma pequena revolução, que transforme um paradigma que não é fundamental.
Usarei o exemplo deste brilhante cientista em minhas aulas de Seminários neste ano letivo. Lecionarei Biologia, como de costume, e Seminários de pesquisa, cujo livro texto provavelmente será "A Ciência através dos tempos"…
Abraços