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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

14.— UMA VEZ MAIS: SABERES PRIMEVOS


ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2652

Uma nota lutuosa: Quase ao final da tarde de ontem, bombeiros localizaram, depois de mais de 50 horas de buscas, o corpo de Inácio Welter, esposo da Cristiane, evocada aqui ontem. O sepultamento deve ocorrer hoje em Picada Café, em horário ainda não definido, quando da postagem desta edição. À querida Cristiane, uma vez mais, a ratificação de solidariedade e de carinho.
 Nesses dias pré-férias, quando há agendas prenhes ávidas de parição, fica mais complexo trazer uma blogada mais palatável — ou pelo menos original — para o blogue. Estou preparando um texto ‘A pesquisa de saberes primevos catalisando a indisciplinaridade’. Uma vez faço deste blogue sementeira (ou, para ser mais ‘químico’ balão de ensaio de texto em gestação.
Lembro que há alguns anos, o Prof. Nélio Bizzo conduzindo-me da USP ao aeroporto, depois de uma banca de aluno seu, contou-me uma historieta:
“Em um barco havia um homem com cerca de 30 anos,
acompanhado de seu filho de 5 anos e de seu pai de 80 anos. O barco soçobrava. Só o jovem pai sabe nadar. Ele pode salvar apenas um. Quem ele salva? O menino? O velho?”
BIZZO, Nelio; CHASSOT, Attico; ARANTES, Valéria Amorim (Org). Ensino de Ciências: Pontos e Contrapontos, 192p. São Paulo: Summus, 2013. ISBN 978-85-323-0891-7
Conto esta historieta quando motivo a busca de saberes populares para fazê-los saberes escolares e acerca da valorização de saberes detidos por mais velhos, muitas vezes em risco de extinção. Para os estudantes será natural que o jovem pai salvasse o menino. Afinal ele, diferente de seu avô tem toda uma vida pela frente. Todavia, na cultura africana, onde esta historieta tem sua matriz, o natural é que o velho fosse salvo, por um único argumento: ele é o detentor de conhecimentos que são muito preciosos para toda a comunidade.
Mais recentemente, passei a nominar os saberes populares também de saberes primevos, na acepção daqueles saberes dos primeiros tempos; ou saber inicial ou saber primeiro. É preciso dizer que não se trata de uma simples troca de adjetivo. Há aqui uma postura política, marcada de quanto a opção por um adjetivo como primeiro ou primevo não desqualifica tanto um saber, como quando dizemos saber popular. Mesmo que nesse texto, em algumas vezes, tenha ainda referido 'saberes populares' isto é consentido, até para dar a atenção para essa diferença. (Sete escritos sobre Educação e Ciências, 2008, p. 198).
Mas agora surge um novo questionamento. Uma interrogação: — assim como a Escola, nestes primeiros anos do Século 21 perdeu ser o lócus do saber e ao invés de se perguntar ao professor se pergunta a Google — Lá na comunidade que nos legou esta historieta, ainda se precisa de velhos para serem depositários do saber? Ou o professor Google / o médico Google / o pastor Google sabem tudo e muito mais.
Retomo minha tese de ensinar menos. Talvez pudéssemos pensar em deixar as informações para serem passadas pelo professor Google Sabe-tudo e os conhecimentos para a preciosa Wikipédia. A escola, com umas poucas informações, trabalharia alguns conhecimentos e com estes poderia construir saberes. Parece que então teríamos espaço para exercitar a transdisciplinaridade, isto é, transgredir as fronteiras que engessam as disciplinas e, talvez, avançar até a indisciplinaridade (= negar a existências das disciplinas, esta invenção da modernidade).

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    Respostas
    1. SOLUCIONÁTICA
      Perigo de morte a todos naquele grotão
      Encurralados os três no interior do mato
      Pois espreitando faminto estava um leão
      Pai, o menino, o avô com medo de fato

      Como fazer? Alguém seria sacrificado
      Para que se salvassem os outros dois
      Seria o avô querido ou o filho amado?
      Qualquer solução dor causaria depois

      O pai, aos céus, fazia pungente oração
      Pedindo resposta para tal problemática
      Porque parecia inviável qualquer opção

      Não via como podia empregar uma tática
      Mas de repente ouviu-se a voz do ancião:
      Salvem o menino, ele sabe informática!

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    2. Muito prezado Jair -- um polímata que se fez poeta!
      Sei que poetar não é facil. As musas nisto não foram generosas comigo.
      Não basta amealhar rimas. Tu a cada dia fazes isso a partir de mote que te chega no quase acaso, nos assuntos que eu e outros bloguistas te preopõem.
      Hoje fizeste uma espetacular releitura da historieta africana que traduz com precisão a valorização do conhecimento não importando a perda do saber.
      Fantástico teu soneto.
      Há alguns anos acompanho tuas tecituras. Penso que hoje te superaste.
      Obrigado por teu poema.
      A admiração do
      attico chassot

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  2. A reforma do ensino é problema antigo, urgente e polêmico. Infelizmente a solução passa por decisão política, sempre atrelada à mãos engessadas por terceiros interesses, Darcy Ribeiro que o diga onde estiver, se estiver. O educador já não é mais avaliado pelo seu potencial de ensino, e sim obriga-se ser um pop star, mera mercadoria para atrativo de consumo, inverteram-se os valores, estagnaram-se os resultados.
    Abraços

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  3. Ensinar a aprender a saber. Eis o grande desafio.
    O problema passa pela questão: É do interesse dos possuidores do controle do ensino que se aprenda a aprender(pensar, refletir, criar)? Se quer um indivíduo, pessoa, cidadão emancipado, mais independente?
    E vamos aos livros e, também, na busca dos saberes primevos.
    Grande abraço!

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