ANO
8 |
em fase de transição
|
EDIÇÃO
2652
|
Uma nota lutuosa:
Quase
ao final da tarde de ontem, bombeiros localizaram, depois de mais de 50 horas
de buscas, o corpo de Inácio Welter, esposo da Cristiane, evocada aqui ontem. O
sepultamento deve ocorrer hoje em Picada Café, em horário ainda não definido,
quando da postagem desta edição. À querida Cristiane, uma vez mais, a
ratificação de solidariedade e de carinho.
Nesses dias pré-férias, quando há agendas
prenhes ávidas de parição, fica mais complexo trazer uma blogada mais palatável
— ou pelo menos original — para o blogue. Estou preparando um texto ‘A pesquisa de saberes primevos catalisando a
indisciplinaridade’. Uma vez faço deste blogue sementeira (ou, para ser
mais ‘químico’ balão de ensaio de texto em gestação.
Lembro que há
alguns anos, o Prof. Nélio Bizzo conduzindo-me da USP ao aeroporto, depois de
uma banca de aluno seu, contou-me uma historieta:
“Em um barco
havia um homem com cerca de 30 anos,
BIZZO, Nelio; CHASSOT, Attico; ARANTES, Valéria Amorim (Org).
Ensino de Ciências: Pontos e Contrapontos, 192p. São Paulo: Summus, 2013. ISBN
978-85-323-0891-7
Conto esta
historieta quando motivo a busca de saberes populares para fazê-los saberes
escolares e acerca da valorização de saberes detidos por mais velhos, muitas
vezes em risco de extinção. Para os estudantes será natural que o jovem pai
salvasse o menino. Afinal ele, diferente de seu avô tem toda uma vida pela
frente. Todavia, na cultura africana, onde esta historieta tem sua matriz, o
natural é que o velho fosse salvo, por um único argumento: ele é o detentor de
conhecimentos que são muito preciosos para toda a comunidade.
Mais
recentemente, passei a nominar os saberes
populares também de saberes primevos,
na acepção daqueles saberes dos
primeiros tempos; ou saber inicial ou saber primeiro. É preciso dizer que não
se trata de uma simples troca de adjetivo. Há aqui uma postura política, marcada
de quanto a opção por um adjetivo como primeiro
ou primevo não desqualifica tanto um
saber, como quando dizemos saber popular.
Mesmo que nesse texto, em algumas vezes, tenha ainda referido 'saberes
populares' isto é consentido, até para dar a atenção para essa diferença. (Sete escritos sobre Educação e
Ciências, 2008, p. 198).
Mas agora
surge um novo questionamento. Uma interrogação: — assim como a Escola, nestes
primeiros anos do Século 21 perdeu ser o lócus do saber e ao invés de se
perguntar ao professor se pergunta a Google — Lá na comunidade que nos legou esta historieta, ainda se precisa de
velhos para serem depositários do saber? Ou o professor Google / o médico Google
/ o pastor Google sabem tudo e muito mais.
Retomo minha
tese de ensinar menos. Talvez pudéssemos pensar em deixar as
informações para serem passadas pelo professor Google Sabe-tudo e os
conhecimentos para a preciosa Wikipédia. A escola, com umas poucas informações, trabalharia alguns conhecimentos e com estes poderia
construir saberes. Parece que então
teríamos espaço para exercitar a transdisciplinaridade, isto é, transgredir as
fronteiras que engessam as disciplinas e, talvez, avançar até a
indisciplinaridade (= negar a existências das disciplinas, esta invenção da
modernidade).
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSOLUCIONÁTICA
ExcluirPerigo de morte a todos naquele grotão
Encurralados os três no interior do mato
Pois espreitando faminto estava um leão
Pai, o menino, o avô com medo de fato
Como fazer? Alguém seria sacrificado
Para que se salvassem os outros dois
Seria o avô querido ou o filho amado?
Qualquer solução dor causaria depois
O pai, aos céus, fazia pungente oração
Pedindo resposta para tal problemática
Porque parecia inviável qualquer opção
Não via como podia empregar uma tática
Mas de repente ouviu-se a voz do ancião:
Salvem o menino, ele sabe informática!
Muito prezado Jair -- um polímata que se fez poeta!
ExcluirSei que poetar não é facil. As musas nisto não foram generosas comigo.
Não basta amealhar rimas. Tu a cada dia fazes isso a partir de mote que te chega no quase acaso, nos assuntos que eu e outros bloguistas te preopõem.
Hoje fizeste uma espetacular releitura da historieta africana que traduz com precisão a valorização do conhecimento não importando a perda do saber.
Fantástico teu soneto.
Há alguns anos acompanho tuas tecituras. Penso que hoje te superaste.
Obrigado por teu poema.
A admiração do
attico chassot
A reforma do ensino é problema antigo, urgente e polêmico. Infelizmente a solução passa por decisão política, sempre atrelada à mãos engessadas por terceiros interesses, Darcy Ribeiro que o diga onde estiver, se estiver. O educador já não é mais avaliado pelo seu potencial de ensino, e sim obriga-se ser um pop star, mera mercadoria para atrativo de consumo, inverteram-se os valores, estagnaram-se os resultados.
ResponderExcluirAbraços
Ensinar a aprender a saber. Eis o grande desafio.
ResponderExcluirO problema passa pela questão: É do interesse dos possuidores do controle do ensino que se aprenda a aprender(pensar, refletir, criar)? Se quer um indivíduo, pessoa, cidadão emancipado, mais independente?
E vamos aos livros e, também, na busca dos saberes primevos.
Grande abraço!