ANO
8 |
ANNEMASSE
França
|
EDIÇÃO
2663
|
A edição deste primeiro sábado desta série de relatos de
um bloguista curtindo as férias-2014
é uma assamblage. Aprendi essa palavra em rótulos de vinhos. No Vale
dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, um enólogo explicou-me que consiste de vinho
formado pela reunião controlada de dois ou mais varietais em proporções
estudadas. Aqui
a assamblage se faz com dois pequenos recortes desta jornada ferial.
Aproveito meu estar nesta conurbação
franco-suíça para evocar cada um dos dois países, cujas fronteiras, aqui, são
quase obliteradas. Da França vem um relato pessoal de ontem e o flavor suíço traz a repercussão de
manifestação planetária.
Um dos atrativos de nossas viagens são
sempre mercados e feiras. Mais uma vez há que encontrar marcas da história ancestral
da humanidade, onde estes artefatos foram/são formadores de espaços culturais.
Por mais de duas horas vivemos na feira ao céu aberto das sextas-feiras de
Annemasse.
Sintetizar emoções amealhadas então é
difícil. Talvez, o destaque principal é uma identificação que faz a maioria dos
pontos de venda distinguidos: Agricultura
biológica. Mesmo sabendo da imprecisão da expressão (equívoco igual à
expressão usual no Brasil: Agricultura orgânica),
pois toda a agricultura (mesmo com sementes transgênicas ou com defensivos
tóxicos) é orgânica ou biológica.
Aqueles que vendem produtos marcados
etiquetados como de Agricultura biológica
têm, na maioria das vezes, mais duas características que são muito
significativas: uma, os comerciantes
são os próprios produtores; outra, são
alimentos para localívoros [detalhe na edição desta terça-feira]. Isto me fez evocar meu filho André que se envolve na produção de alimentos por meio de uma Agricultura saudável.
Frutas, hortaliças, temperos,
embutidos e queijos estão entre os produtos mais ofertados e em todos há referências
à procedência. Há variedades de diferentes produtos: por exemplo, de batatas,
tomates (conheci o chamado ‘coração de boi’), alfaces. Há dezenas de tipos de
queijos (se diz que a França tem mais de 300 variedades desta sua iguaria típica),
inclusive um famoso queijo da Abadia de Tamié produzido monges trapistas desde
1132. A Abadia Notre Dame de Tamié, que fica perto Albertville, na Savoia, na
distante de Annemasse.
Dentre o muito que poderia destacar
da feira algo que também me impressionou foi a qualidade das caminhonetes usadas
pelos produtores para trazer e expor seus produtos.
Ainda deste meu dia em Annemasse uma emocionante
referência: conheci, em monumento público, um pouco da história de Miguel
Servet (Villanueva de Sigena, Espanha, 29 de setembro de 1511 — Genebra, 27 de outubro
de 1553). Ele foi teólogo, médico e filósofo aragonês, humanista,
interessando-se por assuntos como astronomia, meteorologia, geografia,
jurisprudência, matemática, anatomia, estudos bíblicos e medicina. Servet foi o
primeiro europeu a descrever a circulação pulmonar. Participou da Reforma
Protestante e, posteriormente, desenvolveu uma cristologia não-trinitariana.
Condenado por católicos e protestantes, foi preso em Genebra e queimado na
fogueira como um herege por ordem do Conselho de Genebra, presidido por João
Calvino. Já agendei um blogue especial sobre Michel Servet.
A composição
suíça da assamblage é mais inóspita e amarga. Paradoxalmente, mesmo estando
aqui, não estou mais perto da estação
turística de Davos, que meus leitores brasileiros que acompanham mais
uma edição do Forum Econômico Mundial. Talvez, até mais longe, pois meu acesso
a jornais franceses se faz de maneira penosa para mim, por limitações idiomáticas,
mesmo que o francês fosse a língua de meus antepassados, que migraram do cantão
suíço de Friburgo para serem agricultores no vale do Caí, no Rio Grande do Sul.
Mas alguns informes que também
circulam em jornais brasileiros merecem ser trazidos: Apenas 85 pessoas no
mundo detêm 46% de toda a riqueza produzida no planeta, segundo um novo
relatório, divulgado no Fórum Econômico de Davos. O documento realça a
incapacidade de políticos e líderes empresariais em deter o crescimento da
desigualdade econômica.
Em outro relatório, divulgado na
semana passada, o Fórum Econômico Mundial já abordava a desigualdade e a
concentração de renda no mundo como o mais sério risco de danos políticos e
instabilidade na próxima década. Na segunda década do século 21 confirma-se,
integralmente, a Lei Geral da Acumulação Capitalista formulada assim em O Capital, do economista Karl Marx: “À
medida que diminui o número dos potentados do capital que usurpam e monopolizam
todas as vantagens deste período de evolução social, cresce a miséria, a
opressão, a escravatura, a degradação, a exploração, mas também a resistência
da classe operária”.
A Organização Internacional de
Trabalho (OIT), em linha com a miséria causada por um sistema global
intrinsecamente injusto, mais de 200 milhões de trabalhadores estão
desempregados no mundo. Apenas a União Europeia tem mais de 30 milhões de
pessoas sem emprego e 127 milhões vivendo na pobreza extrema. Na França, mil
empregos são destruídos por dia e cinco milhões estão sem trabalho. Na América
Latina e Caribe a taxa de desemprego entre os jovens é de 13,7%, ou 22 milhões;
na Espanha, 56%, e na Grécia, 61%. Ainda de acordo com a OIT, 73 milhões de
jovens estão desempregados e este índice continua crescendo.
Na Alemanha, um dos maiores
exportadores do mundo e país mais rico da União Europeia, 30% da população
vivem abaixo da linha de pobreza e 7,45 milhões de trabalhadores têm
“miniempregos”, nos quais o trabalhador recebe 450 euros (R$ 1.200) por mês.
Caso esses trabalhadores fossem somados à população desempregada, o desemprego
pularia de 7% para 24%.
Na principal cidade dos Estados
Unidos, Nova York, 50 mil trabalhadores moram em abrigos porque seus empregos
são de baixa remuneração e na Espanha, até junho de 2013, 20 mil famílias foram
despejadas de suas casas.
Esta evocação a Davos, não só traz um
sabor amargo, mas faz evocar as lutas de “Um
outro mundo é possível” das edições da última virada do século do Fórum
Social Mundial. Parece somos perdedores...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMeu caro professor!
ResponderExcluirRealmente são dados que nos fazer refletir sobre muitos aspectos. Incluindo a vida humana, ciência, enfim, sobre o SER.
Fico pensando naquele ditado popular de que o "Sol nasceu para todos".
Então, apenas 85 precisam de tanto sol assim?
Continue nos brindando com as benesses deste magnífico "passear".
Um carinhoso 'quebra-costela'.
JUSTIÇA SOCIAL
ResponderExcluirEm foco perversa economia mundial
Que garante concentração da riqueza
Remunera descabidamente o capital
E remete a grande maioria à pobreza
Os muito ricos se tornam milionários
Os mais pobres só carregam o piano
São como pequenos riachos tributários
Que engrossam rio que forma oceano
Algum dia haverá justiça nessa luta
Aquele que trabalha será reconhecido
Melhor remunerada será sua labuta
E desse pobre, vida terá algum sentido
Ele até comerá a parte boa da fruta
E agruras desta luta terá esquecido.
Pai
ResponderExcluirQue Ótimo Aproveita !
Saudades dos nossos domingos !
Bernardo Carla MA Bêtania
Tal qual teu herdeiro o Bernardo, evoco-te; aproveita!
ResponderExcluir