ANO
8 |
em fase de transição
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EDIÇÃO
2643
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Dentro da
proposta que se traçou aqui no dia 2, neste domingo se traz alguns comentários
acerca do quanto o uso de dopamina no tratamento de Mal de Parkinson teve
lances serendípicos. As duas situações de prevenções vistas aqui na sexta-feira
(varíola) e ontem (cânceres) evidenciaram quantas milhares de vida foram
poupadas. Hoje não será diferente.
Os
significativos avanços da bioquímica, na segunda metade do século 20, e das neurociências,
mais recentemente, são responsáveis não apenas pela extensão da expectativa de
vida, mas também pelo aumento do bem estar aos portadores de doenças
incuráveis.
No final da
década de 40, do século passado o cirurgião Henri Laborit buscava uma droga
para diminuir ansiedade de seus pacientes em cirurgia, mesmo antes da anestesia.
Pensou num anti-histamínico, pois os pacientes liberavam histamina por tensões
pré-operatórias. Ao usar clorpromazina surpreendeu-se com a “quietude eufórica”
de seus pacientes. No final da década de 50, o uso foi expandido para paciente
com esquizofrenia grave e doentes puderam ser retirados de asilos, onde eram
mantidos em camisas de força e celas acolchoadas e passaram viver uma vida
produtiva quase normal.
Então, houve outra
descoberta. Uma dosagem excessiva da clorpromazina causava sintomas semelhantes
ao Mal de Parkinson (Roberts, p. 244, citado dia 2). Verificou-se então, sem
que esse fosse o objeto de investigação, que quem morria desta doença tinha uma
ausência quase total de dopamina no cérebro. A solução parecia ser aparentemente
simples: repor dopamina no sistema nervoso central. Primeiro isso era feito por
injeções. Recentemente há alternativa razoavelmente prática, por via oral, mas
não de maneira direta.
Faço a seguir
considerações acerca de medicação razoavelmente recente. Não sou farmacêutico nem médico, logo o que trago aqui a seguir é
apenas uma tentativa de mostrar avanços significativos nesta área. Não estou fazendo recomendação — muito
menos — prescrição.
Os dois
parágrafos seguintes são um pequeno excerto transcrito da extensa bula do
medicamento: Prolopa® BD comprimido de 125 mg. Princípio ativo: cada comprimido
de Prolopa® BD contém 100 mg de levodopa (L-dopa) e 28,5 mg de cloridrato de
benserazida (equivalente a 25 mg de benserazida).
“A dopamina, que age como neurotransmissor no
cérebro, não está presente em quantidades suficientes nos gânglios da base, em
pacientes parkinsonianos. A levodopa ou L-dopa (3,4-diidroxi L-fenilalanina) é
um intermediário na biossíntese da dopamina. A levodopa (precursora da
dopamina) é usada como uma pró-droga para aumentar os níveis de dopamina, visto
que ela pode atravessar a barreira hematoencefálica, enquanto que a dopamina
não consegue. Uma vez dentro do Sistema Nervosos Central (SNC), a levodopa é metabolizada
em dopamina pela L-aminoácido aromático descarboxilase.
Após sua
administração, a levodopa é rapidamente descarboxilada à dopamina, tanto em
tecidos extracerebrais como cerebrais. Deste modo, a maior parte da levodopa
administrada não fica disponível aos gânglios da base e a dopamina produzida
perifericamente frequentemente causa efeitos adversos. É, portanto,
particularmente desejável inibir a descarboxilação extracerebral da levodopa.
Isso pode ser obtido com a administração simultânea de levodopa e benserazida,
um inibidor da descarboxilase periférica.”
Uma síntese de/para
leigo: a dopamina é responsável pela ativação de sinapses (=ligações)
cerebrais. Deficiências da mesma determinam que o cérebro não emita comandos
(ou o faça de maneira deficiente) para o corpo executar com competência certas
ações do corpo. Esta é uma das características do parkinsonismo. Ocorre que se
houver reposição de dopamina, esta não consegue vencer barreiras para chegar ao
cérebro. Assim, para reposição da mesma é usada uma droga (L-dopa) que consegue
chegar ao cérebro e ali se converter em dopamina. Para inibir que esta
transformação ocorra antes de chegar ao cérebro a medicação consiste numa
mistura de L-dopa com benserazida, que inibe a transformação (indesejada) da
L-Dopa em dopamina antes de esta chegar ao cérebro.
Quando se lê o
que esta acima, é preciso encantar-se com a Ciência! Agora, pode-se morrer com Parkinson, mas não
morrer de Parkinson, como ainda recentemente.
Minha irmã tem parkinson e usa prolopa
ResponderExcluirMuito estimado Professor Chassot,
ResponderExcluirli atentamente seu blogue deste domingo. Emocionei-me. Resolvi postar um comentário. Embora leitor de vários blogues que aprecio, nunca escrevi comentários.
Hoje o senhor me fez quebrar silêncios. Quase no fim de 2012, tive diagnóstico de Mal de Parkinson. Primeiro apavorei-me. Ou melhor, primeiro neguei. Minha mulher — ah! Essas mulheres chatas/maravilhosas que empurram maridos aos médicos! — insistia que eu consultasse um neurologista. Eu dava aquela desculpa de um estúpido: “Queres que eu vá buscar uma doençaque não tenho?”
O que eu sentia? Parecia que poderia responder com duas letras: ML. Eu me sentia um Marcha Lenta. Em tudo. Para não ser exagerado: Um ML em quase tudo. Descer de um carro em ML. Colocar o cinto de segurança em ML. Afivelar a cinta em ML. Colocar os sapatos em ML. A caligrafia esmaecia. As linhas desalinhavam. As letras se apequenavam. Ficavam ilegíveis. No digitar parece que não houve alteração: sempre fui (e sou) um ML modelo galinha catando de milho.
Há um ano tomo Prolopa. Hoje esqueci que sou Parkinsoniano. Vivo uma vida normal. Também ouvi e tenho presente o que senhor ensina, pode-se morrer com Parkinson, mas não se precisa viver com Parkinson.
Obrigado por, pela primeira vez, contar algo muito pessoal em público.
Professor Jorge Salcedo
Professor Chassot,
ResponderExcluiresqueci de contar algo MUITO importante:
o Prololapa compro mensalmente (60+30 comprimidos, para garantir a injesta de três comprimidos diários) com quase 90% de desconto nas farmácias ligadas ao SUS.
Salcedo
PS.: Já tinha lido e relido aquela imensa bula, mas sua explicação no blogue está muito mais clara. Se vê que senhor é professor de Química.
"Essa" ciência salva vidas.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirPortanto, morrer sim, de Parkinson não
Pois no fim do túnel existe um clarão
A ciência absoluta
Abraçou essa luta
A Parkisonianos deu-lhes novo chão.