ANO
8 |
em fase de transição
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EDIÇÃO
2651
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Não é possível
abrir esta edição sem fazer uma referência à imensa tristeza que se abateu
sobre a Gelsa e em mim na madrugada deste domingo. Recebemos a notícia que Inácio
Welter, 44 anos, sofrera afogamento, no começo da tarde de sábado, em um
grande e profundo açude na localidade de Tainhas, na divisa de São Francisco de
Paula e Cambará do Sul, na região dos Aparados da Serra. Ele é esposo da
Cristiane Backes Welter, e estava com ela e os dois filhos pequenos em um passeio
com colegas. Cristiane foi aluna de doutorado da Gelsa e foi minha aluna no
Mestrado. Foi, também, uma eficiente secretária do Programa de Pós Graduação em
Educação da Unisinos nos quatros anos que estive na coordenação do mesmo. Por
ser Cristiane uma mulher batalhadora e uma pessoa muito querida, temos por ela,
há vários anos, uma grande admiração e muito carinho. Durante o domingo vivemos
a expectativa, não concretizada, da localização do corpo, para que a família e
os amigos pudessem iniciar uma mais concreta e dolorosa despedida.
Esta blogada
se tece na esteira da edição dominical no amealhar coincidências a partir da
mesma. Escrevia então que todo meu conhecimento acerca de Benjamin Franklin —
autor do mote oferecido à reflexão dominical — se resumia a seu invento tão
importante ainda hoje: o para-raios, por meio de experimento audacioso com
cauda de uma pandorga para demonstrar que o raio era um sistema eletrizado.
No exato
momento em que escrevia aquela edição, na manhã de sexta-feira, Porto Alegre estava
sob uma imensa tempestade elétrica e pelo menos dois raios foram atraídos pelo
para-raios de meu prédio. Como tenho meu gabinete de trabalho no último piso
(quase) vi os raios caindo, quando o troar chegou dar a impressão de que
edifício tremia.
Alguém, mais rigoroso,
poderá perguntar se os raios caíram ou subiram. Aqueles que referi, e a grande
maioria dos raios que vemos, certamente caem. Mas há raios ascendentes. Alguns
raios sobem, em vez de descer à Terra.
Os raios ascendentes
são considerados artificiais (o da foto — da revista Ciência Hoje — é um destes), porque dependem de construções humanas
para ocorrer. Acontecem em locais altos com alguma estrutura metálica. Quando
uma nuvem passa por um lugar assim, atrai as cargas elétricas do solo. Nesse
momento, a estrutura metálica, que pode ser uma torre de transmissão de sinal
de TV ou um arranha-céu, por exemplo, funciona como uma espécie de canal para
toda a carga elétrica ir do solo até o céu e… acontece um raio ascendente. Esses
raios são bem raros — apenas 1% dos raios sobem em vez de descer.
Atualmente, o
Brasil é o país que apresenta o maior índice de raios por ano – cerca de 70
milhões –, especialmente na estação mais quente do ano. Em segundo lugar, está
a República do Congo com 45 milhões de raios por ano e os Estados Unidos, em
terceiro lugar, com a queda anual de 30 milhões de raios. No caso do Brasil, a
justificativa pode estar associada à grande extensão territorial.
Os raios são
um fenômeno comum em regiões tropicais, e sendo o Brasil o maior dos países
tropicais, é normal que ele seja um dos mais atingido. A região centro-sul é a
que apresenta maior incidência, principalmente o sul do Mato Grosso do Sul.
Entre 2005 e
2008, houve um aumento de 102,7% na incidência de raios no país. Uma hipótese
para o aumento constante desses números está sendo estudada pelos cientistas do
INPE em parceria com a NASA. Segundo eles, o aquecimento global pode estar
contribuindo para o fenômeno. Isso ocorreria porque, com mais raios, mais
florestas são incendiadas, aumentando o efeito estufa. Esses incêndios
liberariam mais dióxido de carbono - CO2, aumentando o número de
raios e alimentando o ciclo. Os cientistas acreditam que, a cada grau de
aquecimento da temperatura terrestre, a incidência de raios aumente de 10% a
20%.
Ainda quando
escrevia sobre o invento de Benjamin Franklin tomava conhecimento que pelo menos três pessoas morreram e 15 ficaram feridas na última
quinta-feira em balneário argentino, situado na província de Buenos Aires, pela
queda de um raio. Os mortos são dois homens e uma mulher, enquanto entre os
feridos há dois em estado grave que foram transferidos ao hospital local. As
primeiras versões sobre o fato indicaram que o raio caiu na praia, em um setor
de barracas, onde os turistas tinham se refugiado perante a iminente chegada de
uma tempestade elétrica.
Esta é uma edição que fala de dor. Nela a imensa
solidariedade à Cristiane e aos seus familiares.
Nesse momento de perda e dor, de fragilidade diante das manifestações violentas da natureza, é que nos damos conta de como somos impotentes diante do universo. A vida nos leva as pessoas queridas nos momentos mais imprevisíveis e das mais diversas formas. Resta-nos a fé em uma força maior para encontrar algum senso do que é justo, ou pelo menos a esperança de que aquele que se foi esteja em melhor lugar.
ResponderExcluirAbraços
Muito querido colega e amigo Antonio Jorge,
Excluirquando comparo dois dos óculos para ohar o mundo: 1) aquele usado pelos que usam as religiões ancoradas na fé; 2) o os que se servem da ciência marcada pelo racionalismo, não posso de deixar de reconhecer a vantagem (leia-se: conforto) que detêm os que usam o primeiro dos óculos.
Não tivesse outro argumento, tomaria apenas o excerto final de teu comentário: a expectativa de que os que partiram estejam em um melhor lugar.
Está a síntese confortadora para uma pessoa de fé.
Ontem acompanhei um pouco diferentes manifestações endereçadas a enlutada Cristiane. As mensagens dos que têm fé parecem ter mais bálsamo a oferecer.
Obrigado por teu autêntico comentário.
A admiração do
attico chassot
Segundo especialistas no assunto, a Religião tem início na "morte. Ou, "com a morte". Pela ausência da certeza da resposta da filosófica e fundamental questão: Para onde vamos?
ResponderExcluirRaios, Para-Raios. Realmente, a natureza é complexa, porém decifrável.
Boa semana.
RAIANDO
ResponderExcluirEstaí uma coisa curiosa simplesmente
Benjamin Franklin empinando papagaio
Mostrou de maneira bastante inteligente
A potencialidade elétrica do ruidoso raio
Esse polímata, filósofo, cientista amador
Que no seu tempo dominou a sapiência
Era estudioso que tudo fazia com rigor
E atuou no desenvolvimento da ciência
Se apenas pára-raios e fizesse mais nada
Um grande prócer mesmo assim seria
Pois tinha uma fabulosa mente iluminada
Além de criatividade e muita ousadia
Ben Franklin, Da Vinci daquela quadra
Na séria da ciência colocava poesia.
Ao nosso Grande Mestre chassot: Quando um amigo se vai é sempre uma perda irreparável. Quanto aos raios de qualquer forma atitudes e cuidados simples,podem evitar prejuizos e acidentes. Um forte abraço Ley
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