ANO
8 |
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EDIÇÃO
2655
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De vez em vez,
recebemos pedidos que se atravessam em nossas agendas de maneira impiedosa.
Alguns são pertinentes: um parecer
para um artigo, que fora pedido há tempo e nos esquecêramos e era ‘para ontem’;
nos sentimos moralmente obrigados a atender. Outros são impertinentes; não raro, pessoas que nem conheço escrevem: “Professor,
fiz um artigo para uma disciplina do Mestrado e queria sua opinião!”. Entre
estes dois exemplos, há uma gama de pedidos, alguns dos quais nos desconcertam
e tiram o foco de outras produções.
No domingo,
recebi uma longa mensagem do qual trago alguns excertos:
Caro
Professor,
Boa noite.
Meu nome é
[...] e pertenço ao Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências Naturais –
GPECieN da Universidade [...] e, em uma das suas linhas de pesquisa,
desenvolvo, juntamente com o outros colegas do grupo, o projeto A História da
Educação Química no Brasil: dos Questionamentos de uma Ciência à Consolidação
de Grupos de Pesquisa e seus Estudos na Área.[...]
Dentre os
diversos instrumentos de pesquisa que utilizo no sentido de compreender a
historicidade destes grupos, um deles se configura na análise dos primeiros
artigos publicados no contexto da Educação Química. Evidentemente, em função do
recorte da pesquisa, que contempla as produções a partir de 1980, alguns textos
não estão disponíveis para nossa consulta.
Nesse
sentido, gostaríamos de saber se seria possível obtermos a sua colaboração em
nossa pesquisa através da disponibilização dos textos abaixo listados [segue
lista de artigos]. Atenciosamente
De plano pensei ser fácil atender a solicitação.
Se soubesse previamente o tempo que me envolveria na busca, não teria começado.
Os artigos citados, mesmo que da era computador, pertence a uma fase anterior a
1996, quando, pela segunda (e última vez) perdi tudo, por uma exigência de
reformatação do disco rígido, quando não tinha cópias. Agora, tenho quase tudo
já armazenado na nuvem do Google. São outros tempos.
Mas a singular solicitação me ensejou a procurar
muita produção em suporte papel. Tenho em minha biblioteca dois setores de
revista. Nem tudo estava acessível como sonhado e fiz muitas buscas. Houve
surpresas inesperadas, pois nem lembrava de muitos artigos.
Preliminarmente, a mais fabulosa constatação: dos
170 itens publicados no banco
bibliográfico AIC [livros, capítulos de livros, artigos em revistas (e alguns
de jornais), publicações em anais de congressos, contos etc.] 163 (96%) pertencem
a era pós-computador.
Tenho apenas sete publicações da era ‘máquina de escrever
(onde inclui a dissertação de mestrado, 1976, datilografada por duas secretárias).
Só este dado daria um estudo de caso suis generis. Não estou contabilizando as
publicações eletrônicas como as mais de 2,6 mil edições do blogue, só possível
na era dos computadores.
Um dos escritores mais influente e produtivo: Karl
Marx (1818-1883) foi contemporâneo da invenção da máquina de escrever com
teclado. Não sei se chegou a usá-la. Sempre me imagino o que ele teria
produzido se houvesse então já os modernos processadores de textos,
facilitadores, por exemplo, de inserção de notas de rodapé, tão presentes em ‘O
Capital’.
É indescritível o conforto que temos hoje na
produção de nossos textos se compararmos há menos de 30 anos passados. Meu
primeiro computador é de 1988. Antes meus escritos pertenciam a era pré-PC. (PC
= Personal Computer, como se chamavam os primeiros computadores de mesa em
oposição aos gigantescos ‘cérebro eletrônicos’ que ocupavam uma sala, e tinham
menos recursos que um smartphone atual).
Mas a busca solicitada, como disse catalisou, além
da reordenação de prateleiras e atualização do banco bibliográfico, muitas descobertas.
Vou destacar onze produções não acadêmicas, todas da primeira metade das 170
antes referidas. Citá-las aqui pode me desmerecer no meio acadêmico. Elas
traduzem também um período distinto de minha vida. Estão citadas
cronologicamente e abstenho-me de comentá-las ou justificar a (quase) heterodoxia
das mesmas no meu currículo:
A descoberta de Rodrigo. Família Cristã. p. 66-67, Ano 46, num.
538 outubro 1980.
Memórias de uma banca de concurso. Revista da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul p. 03-05, Ano 2, num. 4 Fev/Mar 1984.
Viagem à Lua. Ciência
Hoje das crianças. SBPC p. 03-05, Ano 2, n. 11, 1989 ISSN 1303 2064.
Um professor de 3º grau ‘ensinando’ na pré-escola. Gente de Ciência, mas gente... Revista
de Ensino de Ciência. FUNBEC p. 71-72 Setembro de 1984.
Uma foice longe da terra ou o outro lado da moeda. Jornal do DCE UFRGS Porto
Alegre. N.3, última página, abril 1991.
Volta, Re-volta, sem revolta. Adverso – Revista da Adurgs. Porto
Alegre, p. 08-10, ano II N.2, maio 1991.
Uma sexta-feira (ainda) santa p. 51-63.
In Concurso Botos do Rio Tramandaí.
Porto Alegre / Tramandaí: Universidade Federal do Rio Grande do Sul /
Prefeitura Municipal, 1992.
A moto voadora. Ciência Hoje das crianças. SBPC p. 22-23, Ano 5, n. 27, 1992 ISSN
1303 2064.
Cubeiros: uma profissão que (felizmente) não existe mais p. 115-125, In D’ÂNGELO, Ana Lúcia Velhinho. Histórias de Trabalho. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1995.
O MST e a Educação. Folha de S. Paulo p. 3.8, 12 ago. 1996.
A Educação e a Luta pela Terra. Diário Indústria e Comércio, Santa Catarina,
p.3, 18 out.1996.
Uma nova Escola para novos tempos. Fé e Trabalho, Nova Petrópolis p.21-24,
n.59 Jul.2001.
Prezado Mestre Chassot, em defesa dos impertinentes adito meu comentário. O que ocorre é que um bom escritor envolve seus leitores de tal forma que no elo do entendimento nasce uma verdadeira relação de admiração e cumplicidade.Mestres como o senhor são formadores de opinião. Passamos, nós leitores, a defender idéias, conjugar pensamentos e realmente alguns se excedem em seus pedidos. O senhor não imagina os acalorados debates que tenho nos nossos cafés culturais, provenientes de suas blogadas. Mas olhe pelo lado bom, o quanto prazeroso foi rever velhos escritos, momento que talvez o Mestre tenha aproveitado para analisar sua própria evolução, suas mudanças de conceitos, seu amadurecimento em relação à dúvidas etc. Tenho certeza de que muitos almejam essa honra de ter sua obra avaliada por um sábio do seu galardão. Ossos do ofício...
ResponderExcluirAbraços
Acrisolando
ResponderExcluirMuitos ouvem e poucos tocam o flautim
Então seguidores atrás do flautista vão
Como ratazanas abandonando Hamelin
Seguindo hipnotizados naquela procissão
Ótima fábula criada pelos irmãos Grimm
Traduz um modelo do formador de opinião
Pois grande maioria não opina, só diz sim
Enquanto líderes regendo orquestra vão
Ao examinarmos como é na vida real
Percebemos aquele que diz a que veio
E o restante que somente dá seu aval
Portanto o mestre como um rei do rodeio
Deixa no Planeta sua perene marca afinal
Mostra que não veio ao mundo a passeio!
Caro Mestre.
ResponderExcluirFiquei muito lisonjeada com a sua publicação no blog e constrangida com todo o trabalho que um simples e-mail pôde te causar.
Volto a te escrever a cerca dos artigos para pesquisa sobre a História da Química. Meu nome é Dioni Angelin e pertenço ao Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências Naturais – GPECieN da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS.
Ainda, durante a pesquisa surgiram mais dois textos dos quais não conseguimos ter acesso pelo contato com os editores das revistas. Se não for muito incômodo gostaria de saber se o senhor poderia enviá-los.
Agradeço novamente a disposição em colaborar neste trabalho de pesquisa,
Abraços.