Aqueles de nós que se envolvem com História e Filosofia
da Ciência criam seus gurus. Ouvirmos falar deles sempre é emoção.
Ontem, nos encantamos com um coetâneo (Zygmunt Bauman).
Hoje, também, produto de leituras domingueiras. trago uma figura quase mítica: Nicolau Copérnico
(1473-1543). Ele viveu em um dos períodos mais singulares da História — a
transição do medievo para os tempos modernos — descoberta da América, Reforma
Protestante (data que será celebrada, aqui, amanhã).
Apresento Copérnico traído escrito por Marcelo Gleiser é
professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de
"Criação Imperfeita". Gleiser
tem sido, com bastante frequência, trazido neste blogue.
No excelente artigo publicado na Folha de S. Paulo, de domingo 28OUT2012, se observa que, mesmo tendo
dedicado seu grande tratado ao próprio papa, provavelmente não era a Igreja
Católica que ele temia.
Antes de trazer o texto comentário sobre as duas
ilustrações: uma é a capa (tomada da Wikipédia) de seu revolucionário livro: “De revolutionibus orbium coelestium” —
central no artigo aqui reproduzido — que esteve no index até 1835. A outra é
uma foto do monumento a Copérnico, no bosque João Paulo 2º (Bosque do Papa) em Curitiba.
Conheço vários monumentos ao polonês mais famoso (em Porto
Alegre, há um na frente do Planetário, que descobri recentemente e que parece
ser o que estava em frente ao auditório Araújo Viana).
Este da capital do Paraná,
edificado com a colaboração da colônia polonesa, é o que mais me encanta pela
sua beleza e imponência.
Agora, o texto anunciado.
Nos séculos 16 e 17, o que você pensava sobre o Cosmos
podia lhe custar a vida; se não a vida, ao menos a liberdade e a integridade
física. Imagine viver numa sociedade na qual o arranjo dos céus, por fazer
parte da interpretação teológica da Bíblia, era determinado não pela ciência,
mas pela fé. Essa era a época em que viveram Copérnico, Galileu e Johannes
Kepler, os pioneiros da chamada Revolução Copernicana.
Copérnico trabalhava para a Igreja Católica na Polônia
como uma espécie de administrador local. Mas, embora houvesse estudado medicina
e jurisprudência, seu interesse real estava nos céus.
Em 1500, todos acreditavam que a Terra era o centro do
Cosmo e que o Sol, a Lua e os planetas giravam à sua volta. Em 1510, Copérnico
escreveu um pequeno tratado propondo algo inteiramente diferente: o Sol era o
centro e a Terra girava à sua volta, tal como todos os planetas.
Ele resolveu testar a recepção da ideia distribuindo o
trabalho para alguns intelectuais e membros do clero. Ao contrário do que
muitos pensam, a Igreja Católica não tinha ainda uma posição oficial contra o
sistema heliocêntrico (o Sol no centro). Quem se manifestou contra Copérnico
foi Martinho Lutero: "Há aí um astrônomo que diz que a Terra gira em torno
dos céus. O tolo acha que vivemos num carrossel". Fora isso, nada de muito
dramático ocorreu com Copérnico e seu tratado.
Apesar de sua fama crescente como excelente astrônomo,
Copérnico só foi publicar sua grande obra, o resumo do trabalho de toda a sua
vida, em 1543.
Alguns afirmam que ele temia os outros astrônomos, pois
sabia que seus dados não eram dos melhores: construiu seu sistema usando
medidas astronômicas tiradas por Ptolomeu em 150 d.C. e por astrônomos árabes
durante a Idade Média — Copérnico era mais um arquiteto do que um observador.
Talvez se preocupasse também com os luteranos, que
avançavam em seu domínio na Europa Central. Mas quando, devido à insistência de
seu único pupilo, Rheticus, ele termina o tratado, Copérnico o dedica ao papa!
Certamente não era a Igreja que ele temia.
Na época, publicar um livro significava passar um tempo
junto com o editor, acertando todos os detalhes. Como era já bem velho,
Copérnico manda Rheticus para Nuremberg de modo a tomar conta disso.
Só que o rapaz era homossexual e acabou sendo expulso da
cidade. Na pressa, deixou o manuscrito aos cuidados de Andreas Osiander, um
teólogo luterano conservador.
Péssima escolha. Osiander, representando o pensamento de
sua igreja, acrescenta um prefácio anônimo ao livro, dizendo que o sistema ali
proposto era apenas um modelo matemático que ajudava no cálculo das posições
planetárias, nada dizendo sobre o real arranjo dos céus, que permanecia
geocêntrico.
Nesse meio tempo, Copérnico sofre um derrame e só recebe
as provas do livro na cama. Segundo os relatos, ao ler o prefácio,
compreendendo a dimensão da traição de Osiander, Copérnico morre no mesmo dia.
Apenas em 1609 é que Kepler desmascara a traição, argumentando que Copérnico
jamais teria escrito tal coisa. Copérnico morreu traído, mas é imortalmente
celebrado como um dos heróis da história do pensamento.
O curioso no relato é constatar que até Lutero, homem reconhecidamente sábio e de mudanças, teve seus momentos de asneiras. Interessante também é o registro de mais um retrocesso na história fruto do preconceito. Se não tivessem expulsado o rapaz, teríamos ganhado alguns anos em evolução.
ResponderExcluirAbraços
Antonio Jorge
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