Há um pouco mais de uma semana (QUA17OUT) contei aqui de uma experiência de
uma conversa de almoço na UNICAMP onde eu era o único que lia (ou assinava)
jornal em suporte papel. Senti-me da ‘idade da pedra’. A curiosidade levou-me
querer saber quem lê os quase 700 jornais diários pagos que circulam no Brasil.
Na página da Associação Nacional de Jornais [www.anj.org.br] há informações preciosas e assim não as trago aqui. No
meu imaginário, por exemplo, seria um hábito masculino. Não! É praticamente
igual o percentual entre homens e mulheres.
Nos meios jornalísticos é quase senso comum apontar a imprensa
como um 'grande poder' dentro do Estado. É quase indiscutível a sua importância
atual. Dificilmente se pode avaliar todo o seu prestígio.
Carlos Heitor Cony, no meu juízo um dos mais
categorizados cronistas hodiernos — diz que em realidade, é missão da imprensa
continuar a educação do povo até uma idade avançada. Se aceitarmos isso, há que
convir quanto ele falha nisso. A manipulação acerca do desfecho da novela na
semana passada é um exemplo de deseducação (Contracapa da Ilustrada da Folha de S.
Paulo, 21SET12).
Para Cony (idem), “os leitores de jornais podem ser
divididos em três grandes grupos: 1º, o dos que acreditam em tudo que leem; 2º,
o daqueles que já não mais acreditam em coisa alguma; 3º, o dos que submetem
tudo o que leem à crítica para chegarem a um julgamento seguro.
O primeiro grupo é muito mais numeroso que os outros.
Compõem-se da grande massa do povo e, por isso mesmo, da parte intelectualmente
mais fraca da nação. Não pode ser designado por classes, mas pelo grau de
inteligência.
A esse grupo pertencem todos os que não nasceram para ter
pensamento independente ou não foram educados para isso e que, em parte por
incapacidade e em parte por falta de vontade, acreditam em tudo que lhes é
apresentado em letra de fôrma. A essa classe também pertencem os preguiçosos
que podem pensar mas, por mera indolência, agradecidos, aceitam tudo o que os
outros pensam, na suposição de que esses já chegaram a essas conclusões com
muito esforço.
Para toda essa gente, que representa a grande massa do
povo, a influência da imprensa é fantástica. Eles não estão em condições, por
falta de cultura ou por não o quererem, de examinar as ideias que se lhes
apresentam. Assim, a maneira de encarar os problemas do dia é quase sempre
resultado da influência das ideias que lhes vêm de fora.
Essa situação pode ser vantajosa quando os
esclarecimentos que lhes são dados partem de uma fonte séria e amiga da
verdade, mas constitui uma desgraça quando têm sua origem em pulhas e
mentirosos.
O segundo grupo é muito menor quanto ao número. Em parte
é composto de elementos que, de começo, pertenciam ao primeiro grupo e que,
depois de amargas decepções, passaram para o lado oposto, e não acreditam em
mais nada que lhes seja apresentado em forma impressa. Esses têm ódio a todos
os jornais, não os leem ou irritam-se contra tudo o que neles se contém,
convencidos de que neles só se encontram mentiras e mais mentiras. É difícil
manobrar com esses homens, porque para eles a própria verdade é sempre vista
com desconfiança.
O terceiro grupo é de todos o menor. Compõe-se dos
espíritos de elite que, por naturais disposições intelectuais e pela educação,
aprenderam a pensar com independência, que, sobre todos os assuntos, se
esforçam por formar ideias próprias e que submetem todas as suas cuidadosas
leituras a um crivo pessoal para daí tirar consequências.
Esses não lerão nenhum jornal sem que as ideias recebidas
passem por um exame. A situação do editor não é nada fácil.
Para os que pertencem a esse terceiro grupo, o erro que
um jornal possa perpetrar oferece pouco perigo e é de muita significação.
No decurso de sua vida, eles se acostumaram a ver, com
fundadas razões, em cada jornalista, um patife que, só por exceção, fala a
verdade. Infelizmente, o valor desses tipos brilhantes jaz apenas na sua
inteligência e não no número, o que constitui uma infelicidade em uma época em
que a maioria e não a sabedoria vale tudo!"
Acrescentaria ao relato do Mestre um comentário que acredito expressivamente inerente. A imprensa é parte da cadeia capitalista. Nem tudo que é bom, culto e verdadeiro é venal. Ai começa a derrocada. Na caça insana ao lucro manipulam-se verdades, se torcem os fatos, fabricam-se escândalos. E ao povo o "pão e circo" é o providente santo Graal. É impressionante constatar como as fofocas sobre a vida particular das personalidades da telinha mágica interessam tanto a um grande segmento da população. Nas manifestações culturais como a música o quadro é o mesmo, bastam grunidos, movimentos eróticos e está pronta uma melodia de sucesso nacional e até mundial. Basta olhar uma criança ensaiando ainda os primeiros passos, ao ouvir tais melodias balança o corpinho reconhecendo a canção. Caminhamos a passos largos para uma bestialidade mundial.
ResponderExcluirAbraços
Antonio Jorge