Nesses dias — de maneira continuada — somos lembrados de eleições.
Não aquelas que ocorrem no próximo domingo, em algumas cidades brasileiras,
onde há segundo turno. Estão mais na vitrine — pela sua indiscutível importância
— aquelas do próximo dia 6 de novembro, ditas como ‘a eleição americana’. Se,
americanas porque só nos é permitido torcer nelas e não votar? Somos também
americanos.
Aliás, torcida — nada mais que um pensamento mágico [¿o
que muda com o meu torcer?] — com sabor de decepção, quando vejo que o ‘meu
candidato’ (que até ganhou o Nobel da Paz) tem como um dos seus principais
trunfos ter caçado e morto Bin Laden.
Mas desejo, retomar algo acerca de que já escrevi algumas
vezes. A imprensa brasileira e mesmo
de outros países
latinos emprega
o vocábulo (tanto
substantivo como
adjetivo ) americano , para indicar
nascido nos Estados
Unidos, ou algo
desse país . Por
doutrinação (ou
assimilação ) este
uso ocorre mesmo
entre a maioria
dos falantes , mesmo
aqueles que
são críticos ,
logo atentos
com suas
falas , mesmo
que qualquer
bom dicionário
da língua portuguesa registre estadunidense.
O Aurélio define corretamente ,
mas remete a norte-americano
(que diz ser
nascido nos Estados
Unidos, excluindo aqui os mexicanos há muito vítimas
de espoliações maiores
por seus
vizinhos , dos quais
são separados uma por
uma cerca eletrificada – e os
canadenses).
O Houaiss mesmo que dicionarize corretamente
estadunidense, coloca como sinônimo de americano ou norte-americano
(é este dicionário
que me
lembra que os esquimós
da Groenlândia e do Canadá são norte-americanos e eu
acrescento que aqueles
do Alasca – o maior e menos densamente
povoado dos 50 estados
–, também são
americanos , ou
mais precisamente
norte-americanos , e também
são estadunidenses, desde
a boa compra do Alasca feita
da Rússia, em 1867, por
cerca de cinco
centavos de dólar por
hectare ).
Muito provavelmente, a grande maioria os leitores deste texto
sejam americanos , mas
quase nenhum estadunidense. Lateralmente
vale dizer que em espanhol há o gentílico
estadounidense (mas ,
os jornais espanhóis usam amiúde , americano e norte-americano ; e, para distinguir : sudamericano). Em
italiano, statunitense (ou nordamericano). Em
francês , o mais
corrente é américain; mesmo
estando dicionarizado: étatsunien
e étatsunisien, sendo que estes dois gentílicos não são quase usados. Em
alemão : o mais
usado é Amerikaner, Nordamerikaner (Südamerikaner, para
fazer a distinção ),
todavia no idioma
de Goethe há a forma US-Amerikaner para melhor
caracterizar os nascidos nos
EUA.
O uso do gentílico americano por estadunidense parece a tradução
da prepotência desta nação , fazendo do gentílico
continental algo
de sua posse .
É quase natural
o desconhecimento na imprensa e pelo comum das pessoas
do gentílico estadunidense. Afortunadamente eles
não se apoderaram, ainda ,
do gentílico que
nos é tão
caro : latino-americano .
Aliás , na xenofobia
estadunidense, cada vez
mais se dificulta a entrada
de latino americanos
no Estados Unidos.
Perguntei, há quase 10 anos, em
pesquisa empírica
realizada entre universitários
do curso de pedagogia ,
na disciplina de Metodologia
de Ensino de Ciências ,
dias após o desastre com o
Colúmbia, em 02/02/03, qual a nacionalidade
dos astronautas que
morreram no acidente com ônibus espacial dos Estados
Unidos. Nenhum dos 45 estudantes de pedagogia
referiu que houvesse estadunidenses entre os mortos .
Fiz o mesmo levantamento
com um
grupo de mestrandos
e doutorandos do Programa
de Pós Graduação
em Educação
da UNISINOS e quando comentava com os mesmos o
fato de nenhum
ter referido norte-americano
ou americano ,
foram unânimes em
afirmar que isso fora resultado exclusivo
de discussões que
tiveram em seminários
no Programa e que
antes não
conheciam a existência do etnônimo estadunidense.
No meu laborar em utopias desejaria ver os gentílicos americano e norte-americano usados por
quem de direito .
Sejam eles estadunidenses, e nós brasileiros ,
sul-americanos , latino-americanos ,
americanos .
Uma curiosidade que vejo em nossa sociedade é em relação ao jeans. O uso deste tecido surgiu no camponês americano, ou melhor estadunidense, lá o clima frio e o trabalhar em meio a vegetações e animais peçonhentos torna este grosso tecido ideal para tal. Agora como em nosso país tropical, dentro de nossas cidades esta idumentária fez tanto sucesso? Da mesma forma que vejo uma juventude a cantarolar grunidos transmutados em canções de língua inglesa. Nada entendem, nada falam. Recentemente ouvi de uma professora universitária de nossa língua, que preferia os filmes legendados. Fiquei a pensar; como uma pessoa pode preferir ficar entre ler e assistir a um filme do que ouvi-lo no idioma que compreende?
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Caro Chassot,
ResponderExcluirEsse é um assunto que há muito eu queria discutir, e acho que é chegada a hora. Independente de algum ranço xenófobo de tua parte, ou de suposta arrogância daquele povo que vive nos EUA, podemos lembrar algo e fazer analogia:
Nome do Brasil: República Federativa do ‘Brasil’; gentílico de quem aqui nasce: ‘Brasileiro’.
Nome dos EUA: Estados Unidos da ‘América’; gentílico de quem lá nasce: ‘Americano’.
Outra observação: Se eles devem ser chamados de ‘estadosunidenses’, então nós deveríamos ser chamados de ‘eepublicafederativenses’, não é mesmo?
Descobri em minha recente viagem ao México que o nome oficial daquele país é: Estados Unidos Mexicanos, vulgo México, e lá eles todos se denominam ‘mexicanos’ e não ‘estadosunidenses’.
Sim, os americanos são arrogantes, mas não acho que eles queiram se apossar do gentílico de nós todos americanos. É só lembrar que “Gaucho” é todo aquele povo dado a lidas no campo que habita o Uruguai, parte do Paraguai, parte da Argentina, Oeste catarinense e oeste do Paraná, no entanto, vocês aí, “riograndenses”, se autodenominam gaúchos e nós não reclamamos.
Abraços gauchescos, JAIR.