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sábado, 27 de outubro de 2012

27.- HÁ QUE SEMEAR LIVROS A MANCHEIAS



Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2278
Chegamos a um fim de semana. Mesmo sem viagem a semana foi densa em atividades no Centro Universitário Metodista do IPA. Além de aulas de Teorias do Desenvolvimento Humano em duas turmas, na terça-feira tive a fala “Um fim de tarde com Ciência” para docentes do curso de Enfermagem. Ontem, à noite, desenvolvi o tema "Criação ou transformação do conhecimento: como se dá o conhecimento científico?" em seminário da Profa. Marlis Morosini Polidori, no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Esta manhã, tenho duas falas: uma “O gênero da Ciência” no seminário Educação e Inclusão que partilho com o Prof. José Clovis de Azevedo; outra: Sala de aula: limite ou transgressão? em parceria com o Prof. Jeferson Dutra, no Encontro de formação continuada de Docente do IPA.
Em uma reunião de trabalho, quando era professor de outra Universidade, usei lateralmente a expressãoEla dissemina...’ e imediatamente recebi o protesto de uma muito competente (e não radical) linguista. Argumentava: Se semente é o resultado da fecundação do óvulo pelo sêmen, a inseminação, a disseminação, a semeadura são ações masculinas que envolvem colocação do esperma. Logo não parece correto referirEla dissemina...’ podendo todavia dizerEle dissemina...’. Parece quase certo que essa observação não deve ter a adesão nem dos linguistas mais ortodoxos. Penso queexagero. Há um tempo referir-se a um homem como histérico, podia ser objeto de uma vaia, até porque se acreditava quea histeria era uma doença nervosa que, supostamente, se originava no útero, caracterizada por convulsõeshoje a psicanálise define a histeria comoneurose na qual as moções pulsionais sofrem especialmente recalque e são inconscientemente traduzidas em sintomas corporais” e a psiquiatria comoneurose que se exprime por manifestações de ordem corporal, sem que haja qualquer problema orgânico funcionalHoje se fala até em histeria coletiva e, certamente, nesse universotambém homens.
Mas trago esse preâmbulo sem me ater à discussões epistemológicas, pois queria falar de outra semeadura. Não vou discutir as sementes que não são sementes. Hoje quero falar de disseminar livros, ou como pregava Monteiro Lobato “há que semear livros a mancheias”. Linda essa metáfora lobatiana de semear livros. E essas sementes são do tipo crioulas ou caipiras, logo fecundas. Não são daquelas híbridas que a biopirataria torna estéril em uma segunda geração e que foram várias vezes objeto de comentários aqui.
Quero falar de um seminário – e vou de novo a etimologia de semente e aqui seminário é ‘canteiro onde se semeiam vegetais que depois serão transplantados’que faz semeadura de livros. Refiro-me à sementeira de leituras, que quer ser a cada sábado este blogue, honrando uma tradição que começou em 4 de abril de 2009, por sugestão do leitor Marcos Vinicius Bastos, então meu aluno no curso de História do Centro Universitário Metodista do IPA.
Neste mês de outubro, abri pelo menos uma dúzia de palestras e aulas homenageando (como fiz aqui em 02OUT12) o renomado historiador britânico de esquerda Eric Hobsbawm, cuja obra influenciou estudantes e políticos por toda a Europa e em outras partes do mundo, morreu em um hospital público de Londres na segunda-feira, dia 1º aos 95 anos. Ele semeou livros a mancheia.
Queria, nesta homenagem, dentre dezenas destacar um: Pessoas extraordinárias: Resistência, Rebelião e Jazz. (São Paulo: Paz e Terra, 1998, 432 p. ISBN 83-219-0319-7) ele contempla pessoas cujos nomes são conhecidos apenas pelos parentes e pelos vizinhos.
É desta forma, aparentemente pouco convidativa, que o ilustre historiador, nos convida para conhecer, por exemplo, a história de um sapateiro ou de um mineiro que chegou a prefeito de sua cidadezinha.
As pessoas extraordinárias desfilam no sumarento livro em quatro passarelas distintas: 1) a tradição radical, com 10 capítulos, onde conhecemos, por exemplo, o nascimento de um feriado: primeiro de maio. 2) camponeses, com três capítulos, sobre a ocupação de terras por camponeses. 3) história contemporânea, com 5 capítulos, onde conhecemos sobre o Vietnã e a dinâmica das guerrilhas e Maio de 1968. 4) Jazz, com oito musicais capítulos, dos quais um sobre Billie Holiday.
Espero que o aperitivo trazido tenha seduzido leitores. Para mim foi muito bom retomar o livro para com ele desejar o melhor sábado a cada uma e cada um.

2 comentários:

  1. Caro Mestre Attico, além da proveitosa indicação sabática, fiquei feliz com a justa menção a Monteiro Lobato. Como muitos, iniciei na vida o gosto pela leitura através de seus contos infantis. Vejo agora "críticos" educadores a querer banir tão bela obra dos bancos escolares. Uma segunda opção seria editá-la. Eu pergunto, pode-se editar um clássico? Que gabarito tem estes doutos senhores para editarem Monteiro Lobato? Como já dizia minha avó, "são engenheiros de obras prontas".

    Abraços

    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    Porque o livro cultura semeia
    Quem não costuma ler tartamudeia
    Então esse é o fato
    Pois já dizia Lobato:
    Há que semear livros a mancheias.

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