Sábado imprensado entre feriado e domingo é atípico. Isso
determina um falar de leituras diferente. Já contei aqui de uma leitora de Manaus
que comprou meus livros e depois me enviou primorosa avaliação crítica.
Pois foi Elvira França que inspirou a manchete e forma
destas dicas sabáticas. “Apesar do senhor ter falado para mim que o
livro das memórias era o último a ser lido, quando do autógrafo dos sete livros
que eu comprei em Manaus, não resisti e já comecei a lê-lo, talvez encantada
pelo desenho da capa e pelo fato do senhor ter dito que seria uma leitura mais
leve. Eu queria conhecer o estilo e posso lhe dizer que ler seu livro é
como chupar drops Dulcora na infância. Não sei se o senhor tinha esse drops no
Rio Grande do Sul. Era um drops quadradinho de diferentes sabores.
Vinha embalado em papel colorido, de acordo com a cor dos drops, e dentro
cada um deles era embrulhado em papel celofane. Alguns eram mais gostosos que
outros, e então eu sentia aquela expectativa de abrir e fazer uso dos drops até
chegar na cor preferida”.
Como ainda estamos na safra dos Prêmios Nobel ofereço
como dica sabática de leitura alguns dropes nobélicos.
· Ontem, às 6 horas, ainda no taxi, deixando a rodoviária,
depois de chegar de Frederico Westphalen, conheço a decisão de outorgar o
Prêmio Nobel da Paz à União Europeia. Assim como em 2009, ao laurear Obama, nos
seus primeiros meses de governo, este ano, uma vez mais, a Paz foi achincalhada. Qual
o horizonte da Suécia — que nem faz parte da União Europeia? Dar uma esmolinha
à comunidade de nações falidas ou aplaudir aos usuais aliados dos Estados
Unidos que disseminam guerras pelo Planeta.
· Vale recordar
que Prêmio Nobel foi instituído por Alfred Nobel (1833-1896), químico sueco, em
seu testamento. Milionário por sua descoberta da dinamite, Alfred vinha de uma
família de grandes cientistas que ganharam e perderam fortunas em vida por suas
patentes, especialmente de explosivos. Ao falecer, seu irmão Ludwig foi
confundido pelos jornalistas com Alfred. Assim, Alfred teve a estranha
experiência de ler seu próprio obituário, que alardeava a morte de um
ganancioso cientista que fizera fortunas com uma invenção que promoveu a guerra
e a morte de centenas de pessoas. Alguns biógrafos justificam a natureza do
testamento de Alfred Nobel por esse episódio. Acredita-se que, ao deparar-se
com o que pensavam de sua vida e trabalho, Alfred tomou uma atitude,
reproduzida em testamento, para que este tipo de obituário não pudesse ser
escrito novamente.
· Para quem
quiser conhecer mais sobre os bastidores que envolvem o processo de escolha dos
laureados nas diferentes categorias, inclusive com as injunções políticas, vale
recomendar o excelente romance O prêmio
de Irwing Wallace, com 844 páginas, escrito em 1962. Há uma edição em língua
portuguesa do Círculo do Livro, S.A. de São Paulo. Há uma edição da Record de
783 p. Mesmo sendo uma obra de ficção traz uma muito boa pesquisa acerca do
tema. Foi dos melhores romances que li. Bons tempos que se lia romances desta
espessura.
· O meu livro A ciência através dos
tempos é um livro que tem quase 20 anos — sua primeira edição é de 1994 —,
com várias revisões e reedição e duas diferentes formatações. Ele se constitui
em um dos primeiros textos de História da Ciência em língua portuguesa em um só
volume e pode ajudar a entender algo de Prêmios Nobel. Há pelo menos uma
singularidade que me apraz registrar: este livro tem sido texto usado nas
séries finais do ensino fundamental, no ensino médio, em cursos de graduação
(licenciaturas, Direito, Economia...) e em mestrados e doutorados.
· Já que estou
fertilizando meus cultivares, como minha blogada de ontem poderia inferir uma
torcida para retificação de minha tese, permito-me destacar aqui um livro muito
feminista: A Ciência é masculina? É sim, senhora! Partindo do princípio de que
não somos assim por acaso, são analisadas três vertentes que nos constituíram
como humanos no mundo ocidental: a grega, a judaica e a cristã. A análise das
(des)contribuições destas três raízes nos fizeram uma sociedade machista, na
qual a Ciência não faz exceção. Ao se destacar a presença de algumas mulheres
cientistas – Hipátia, Marie Curie, Margareth Mead – se traz duas hipótese para
possível superação do machismo na Ciência: uma histórica e outra biológica.
Faço do meu comentário uma justa apologia a literatura de Attico Chassot.É uma leitura envolvente que agrada aos mais ecléticos gostos. De fácil compreensão sem deixar de conter um rico vocabulário. Altamente didática, porém fugindo aquele estereótipo cansativo e maçante de algumas obras educativas. Em seus blogs diários faço de minha primeira refeição um autêntico "café cultural" com direito a salutares debates com meus filhos.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Salve estimado Antônio Jorge!
ResponderExcluirSaber-me lido de uma maneira tão reverente nos dejejuns familiares na linda Niterói me faz não cair na tentação — que as vezes atravessa — de suspender as blogadas diárias.
Emocionados afagos a ti e aos teus
attico chassot
Limerique
ResponderExcluirA Academia de Ciências controla
A que cientista dará uma esmola
Mas com mente aberta
Ela nem sempre acerta
Parece que este ano pisou na bola.