Como anunciei ontem, hoje e também amanhã e sexta-feira,
pretende ser central aqui a trazida de alguns excertos da entrevista concedida
à Zero Hora pelo físico brasileiro
Marcelo Gleiser que está na Universidade Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) como
conferencista principal do 13º Simpósio Internacional IHU – Igreja, Cultura, Sociedade (A
Semântica do Mistério da Igreja no Contexto das Novas Gramáticas da Civilização
Tecnocientífica), iniciado ontem em São Leopoldo.
O
fracionamento da entrevista decorre de sua extensão. Agora as primeiras três
perguntas.
Zero Hora –
Quando se discute a relação entre ciência e religião no universo acadêmico, o
polo religioso é sempre o mais frágil. Nos últimos 50 anos, porém, a posição da
ciência tem sido muito questionada. Como o senhor vê hoje a posição da ciência
diante da religião?
Marcelo Gleiser – Não existe uma posição da ciência em relação à religião. Existem posições de cientistas em relação à religião, e essas posições são muito diferenciadas. Num extremo, você tem os novos ateístas, como Richard Dawkins, Daniel Dennett e outros, que acham que ser religioso é ser louco ou estar completamente iludido em relação ao real. Eles fazem um ataque bastante agressivo em relação à fé. No outro extremo, você tem cientistas que são perfeitamente religiosos e veem em seu esforço científico uma aproximação com Deus, se forem judeus, cristãos ou muçulmanos, ou com uma espiritualidade que pode ser budista, hinduísta etc. Para eles, quanto mais aprendem sobre o universo e a natureza, mais se aproximam de Deus. Entre essas duas posições extremas, você tem uma porção de outras posições. No meu caso, vejo essa cruzada antirreligiosa que certos cientistas estão fazendo como uma completa perda de tempo, que não vai levar a nada e ignora o papel essencial que a religião tem na sociedade e em nossa cultura. As pessoas sabem muito pouco sobre história, filosofia e menos ainda sobre o espírito humano para entender o quanto a fé é importante na vida das pessoas. É muita presunção de certos cientistas achar que a ciência pode, dentro da posição dela, acabar com o papel da religião na vida das pessoas. Isso é um absurdo, por vários motivos. Entre eles, e é algo que vai ser assunto do meu próximo livro e vou abordar na minha conferência, o fato de que a ciência também tem limitações na sua concepção e no seu funcionamento.
Marcelo Gleiser – Não existe uma posição da ciência em relação à religião. Existem posições de cientistas em relação à religião, e essas posições são muito diferenciadas. Num extremo, você tem os novos ateístas, como Richard Dawkins, Daniel Dennett e outros, que acham que ser religioso é ser louco ou estar completamente iludido em relação ao real. Eles fazem um ataque bastante agressivo em relação à fé. No outro extremo, você tem cientistas que são perfeitamente religiosos e veem em seu esforço científico uma aproximação com Deus, se forem judeus, cristãos ou muçulmanos, ou com uma espiritualidade que pode ser budista, hinduísta etc. Para eles, quanto mais aprendem sobre o universo e a natureza, mais se aproximam de Deus. Entre essas duas posições extremas, você tem uma porção de outras posições. No meu caso, vejo essa cruzada antirreligiosa que certos cientistas estão fazendo como uma completa perda de tempo, que não vai levar a nada e ignora o papel essencial que a religião tem na sociedade e em nossa cultura. As pessoas sabem muito pouco sobre história, filosofia e menos ainda sobre o espírito humano para entender o quanto a fé é importante na vida das pessoas. É muita presunção de certos cientistas achar que a ciência pode, dentro da posição dela, acabar com o papel da religião na vida das pessoas. Isso é um absurdo, por vários motivos. Entre eles, e é algo que vai ser assunto do meu próximo livro e vou abordar na minha conferência, o fato de que a ciência também tem limitações na sua concepção e no seu funcionamento.
ZH – Quais
seriam essas limitações?
Gleiser – Certos cientistas que escrevem para
o público, como Stephen Hawking, Bryan Greene e outros, ficam tão empolgados
com certas ideias científicas que esquecem de onde elas vêm e quais são seus
limites filosóficos e metafísicos. Existe muita distorção sobre o que a ciência
pode fazer e já fez quanto à explicação de questões fundamentais, também
tocadas pela religião, como a origem do universo, da vida e da mente. Dizer que
a ciência entende a origem do universo é uma grande bobagem. A ciência tem
teorias que explicam uma porção de coisas maravilhosas sobre o universo, e
todos devemos ter muito orgulho delas. Mas a gente ainda não entende a origem
do universo, e eu, particularmente, nem sei se a gente conseguiria, dentro do
processo científico, entender.
ZH – Os EUA, onde o senhor está radicado, assistem à tentativa de interferência de setores religiosos na pesquisa e no ensino de matérias científicas. Como vê esse fenômeno?
ZH – Os EUA, onde o senhor está radicado, assistem à tentativa de interferência de setores religiosos na pesquisa e no ensino de matérias científicas. Como vê esse fenômeno?
Gleiser – Aqui, essa questão, infelizmente, é
muito politizada, e não deveria ser. Principalmente durante o governo George W.
Bush, quando a direita religiosa foi ao poder, houve várias medidas que
interferiam na liberdade de pesquisa científica. Isso causou indignação na
maior parte da comunidade acadêmica, que não aceita interferência religiosa na
pesquisa científica. Proibir pesquisa com células-tronco porque estão sendo
extraídas de fetos é algo inaceitável. Quando isso acontece, parece que estamos
voltando ao início do século 17, quando a Igreja foi atrás de Galileu. Por
outro lado, é óbvio que a pesquisa científica sempre tem um aspecto moral que
não podemos deixar de lado. Temos de pensar sobre as implicações sociais,
culturais e morais da pesquisa científica, e isso é verdade tanto no mundo da
engenharia nuclear quanto no da engenharia genética. A questão da clonagem de
humanos, que é extremamente complexa, desperta contrariedade na maioria
absoluta da comunidade científica. Não existe nenhum uso médico disso. Se você
quer ter filhos, há outros procedimentos e você não vai querer ter um filho que
tenha o código genético igual ao seu. Dizer que a pesquisa com células-tronco
interfere na vida dos fetos é uma besteira porque muitos dos embriões
utilizados em clínicas de fertilização in vitro são descartados depois de algum
tempo, e junto com esses embriões vão as células-tronco que poderiam ter sido
usadas e não o foram. Ninguém está tirando a vida de ninguém. Além disso, hoje
em dia há outros modos de obter células-tronco que não recorrem a embriões.
Você tem de acoplar sempre a discussão sobre a implicação moral da pesquisa de
ponta dentro do quadro político e social, e também como uma questão de ética
científica. O cientista não é imune a essas questões éticas, muito pelo
contrário – ele e ela devem refletir sobre a implicação ética do que estão
fazendo. Por outro lado, o Estado também tem de tomar muito cuidado se for
interferir no processo de descoberta e de pesquisa e científica a partir de uma
moral que é calcada em religiões antiquadas.
Já Comte em sua teoria positivista errou em prever o fim da religião com o surgimento do estado moderno. Por ironia, acabou louco e fundando sua própria religião. A insignificância da espécie humana é diametralmente oposta a sua megalomania.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirA religião não tem que ditar normas
Quando trata de ciência e suas formas
Ciência tem feitos seus
Que não descartam Deus
Então padres cuidem de suas plataformas.