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sábado, 6 de outubro de 2012

06.- NÃO SE EXTINGUE O NARRADOR DO NOSSO SÉCULO 20



Ano 7***         M A N A U S       ***Edição 2257

Já vivo o terceiro dia desta minha jornada manauara. Ontem dois destaques: à tarde, duas bancas na UEA, completando o total de cinco aqui, em menos de dois meses; à noite, no Bosque da Ciência/Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas INPA, abertura solene do Fórum Raddici, onde o destaque foi excelente palestra do Prof. Dr. Ricardo Alexino Ferreira, da ECA-USP. Tive também a alegria de autografar dezenas de meus livros.
O central para mim, hoje, é a palestra “Divulgação Científica para Educação em Ciências” no encerramento do I FÓRUM DE EDUCAÇÃO, DIVULGAÇÃO E DIFUSÃO EM CIÊNCIAS NO AMAZONAS [www.forumraddici.com/]. Minha viagem e estada aqui é suportada pelo Fórum Raddici.
Mesmo que nestes dias receba aqui inúmeras provas de acarinhamento, hoje por dever de ofício honro a tradição sabática de falar em livros e nome não poderia ser outro: ERIC J. HOBSBAWM (1917-2012)
Este blogue, na sua edição desta terça-feira abriu sua edição com um registro lutuoso: o renomado historiador britânico de esquerda Eric Hobsbawm, cuja obra influenciou estudantes e políticos por toda a Europa e em outras partes do mundo, morreu em um hospital de Londres nesta segunda-feira, aos 95 anos.
Talvez ele seja o historiador que mais tenha influído em minha formação. lembro quando emocionado, assisti uma fala sua, na década de 1992 em Porto Alegre — a foto é de então dele junto aos leões que existem nas escadarias do Paço Municipal.
A notícia me fez triste. Lembrei-me, que os que morrem se perpetuam por que contamos sua história e lemos suas obras. Assim falei dele na aula que de na UAM na segunda-feira, nas turmas de Teorias do Desenvolvimento Humano  e também na fala de encerramento do evento no INPA. Estou muito desejoso de ler seus livros, especialmente aquele que mais cito e que tem passagens que refiro de memória: “A era dos extremos: o breve século XX”.
Esta semana a imprensa brasileira veiculou várias matérias acerca de Hobsbawm. Destaco uma excelente, alertada por meu querido ex-aluno de mestrado Edmar Galiza e que está no Observatório da Imprensa: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/interprete_incansavel_do_seculo_20
Desta — de autoria de Elias Thomé Saliba é livre-docente em História pela Universidade de São Paulo, professor titular de Teoria da História na mesma universidade e veiculado no dia imediato ao passamento — brindo excertos aos meus leitores.
O perfil do bom historiador não pode se parecer nem com o carvalho nem com o cedro, por mais majestosos que sejam, e sim com um pássaro migratório, igualmente à vontade no ártico e no trópico – e que sobrevoa ao menos a metade do mundo.” Ao escrever isso em 2002, Eric J. Hobsbawm talvez estivesse descrevendo a própria trajetória, que se encerrou na manhã de segunda-feira, dia 01 de outubro DE 2012.
Nascido em Alexandria em 1917, de família judaica – pai do East End londrino e mãe da Áustria dos Habsburgos –, passou a infância em Viena, ficou órfão aos 14 anos e foi morar em Berlim com uma tia, entrando para o Partido Comunista alemão (KPD) ainda no fim do curso ginasial. Após a ascensão de Hitler, foi para Londres onde concluiu os estudos secundários. Em 1936, na febre da Front Populaire em Paris, perambulou na carroceria de um caminhão do cinejornal do Partido Socialista; depois cruzou a fronteira para a Catalunha, logo no início da Guerra Civil espanhola.
Nos anos da Segunda Guerra Mundial integrou a divisão do Exército britânico que cavava trincheiras, atuando ainda como tradutor no setor de inteligência militar. Quando concluiu seus estudos, pagou o aluguel escrevendo uma coluna semanal sobre jazz no New Statesman – com o pseudônimo de Francis Newton (textos depois reunidos no livro História Social do Jazz). Em 1962, em sua segunda visita a Cuba, serviu até de tradutor para Che Guevara.
[...]
“Fui um antiespecialista em um mundo de especialistas, um intelectual cujas convicções políticas e obra acadêmica foram dedicadas aos não intelectuais”, escreveu em Tempos Interessantes – livro que virou um paradigma de como deveriam ser escritas todas as autobiografias. Apesar do seu precoce – e nunca explicitamente abandonado – engajamento comunista, sempre assumiu um olhar historiográfico desenraizado e pouco afetivo. Definia-se como “um historiador pertencente a minorias atípicas, imigrante na Grã-Bretanha, inglês entre centro-europeus e judeu em toda parte – sentindo-se anômalo até entre os comunistas”, reconhecendo-se apenas na frase definidora que E. M. Forster utilizava para definir um poeta: “Ele ficava num ângulo ligeiramente oblíquo em relação ao universo”.
[...]
Um humorista inglês brincou, certa vez, definindo a escola de historiadores marxistas de Hobsbawm como os Graal”. Com a morte de Hobsbawm desaparece um dos mais brilhantes historiadores de nossa época e talvez o último daquela primeira geração de marxistas, para os quais a Revolução de Outubro – uma espécie de Graal – era referência central no horizonte político. Marca também o desaparecimento de um dos últimos historiadores que colaram de tal forma sua trajetória de vida com a história pública, que elas parecem indistinguíveis. “O sonho da Revolução de Outubro ainda está em algum lugar dentro de mim, assim como um texto apagado no computador lá permanece, à espera dos técnicos que o recuperem dos discos rígidos”, confessou Hobsbawm. E em lacônica resposta à tirada humorística, concluiu: “Porque se desistirmos do Graal, desistiremos de nós mesmos”.

3 comentários:

  1. Ilustro meu comentário hoje com uma pequena historieta. "Em uma queda de avião morreram, dentre outros, um famoso escritor de contos eróticos e um famigerado assaltante. Foram ter os dois com São Pedro o qual lheu-les as sentencas. -Tu assaltante, passarás dez anos no purgatório, e tu escritor pornográfico passará duzentos anos." Inconformado com tamanha disparidade o escritor foi questionar o porque de sua pena tão grande, enquanto um perigoso bandido tinha uma tão leve. Respondeu-lhe então São Pedro. - Os males causados pelo bandido resumiram-se na existência dêle, já as tuas idéias influenciarão gerações através dos teus livros.

    Abraços

    Antonio Jorge

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  2. Olá!!!!Feliz em encontrá-lo, desde Manaus... apetitou-me o título de sua fala; despertou minha imaginação.
    Quanto ao "nosso" historiador... já está e permanecerá em cada um de nós; travei um encontro folhando e percorrendo seu livro "A era dos extremos", que nos acompanha há um bom tempo - diálogo saudoso!!!!
    Obrigada por mais esta partilha!!!!

    Forte abraço!!!!
    Sandra

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  3. Limerique

    Nascem homens que mudam a história
    Eles traçam sua própria trajetória
    São anchos de ideais
    Mostram-nos os quetais
    Hobsbawm ao mundo trouxe glória.

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