Ano
7*** M A N A U S ***Edição
2257
Já vivo o terceiro dia desta minha jornada manauara. Ontem
dois destaques: à tarde, duas bancas
na UEA, completando o total de cinco aqui, em menos de dois meses; à noite, no Bosque
da Ciência/Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas INPA, abertura solene do
Fórum Raddici, onde o destaque foi excelente palestra do Prof. Dr. Ricardo
Alexino Ferreira, da ECA-USP. Tive também a alegria de autografar dezenas de
meus livros.
O central para mim, hoje, é a palestra “Divulgação Científica para Educação em
Ciências” no encerramento do I FÓRUM DE EDUCAÇÃO, DIVULGAÇÃO E DIFUSÃO EM
CIÊNCIAS NO AMAZONAS [www.forumraddici.com/]. Minha
viagem e estada aqui é suportada pelo Fórum Raddici.
Mesmo que nestes dias
receba aqui inúmeras provas de acarinhamento, hoje por dever de ofício honro a
tradição sabática de falar em livros e nome não poderia ser outro: ERIC J. HOBSBAWM
(1917-2012)
Este
blogue, na sua edição desta terça-feira abriu sua edição com um registro
lutuoso:
o
renomado historiador britânico de esquerda Eric Hobsbawm, cuja obra influenciou
estudantes e políticos por toda a Europa e em outras partes do mundo, morreu em
um hospital de Londres nesta segunda-feira, aos 95 anos.
Talvez ele seja o historiador que mais tenha influído em
minha formação. lembro quando emocionado, assisti uma fala sua, na década de 1992
em Porto Alegre — a foto é de
então dele junto aos leões que existem nas escadarias do Paço Municipal.
A notícia me fez triste. Lembrei-me, que os que morrem se
perpetuam por que contamos sua história e lemos suas obras. Assim falei dele na
aula que de na UAM na segunda-feira, nas turmas de Teorias do Desenvolvimento
Humano e também na fala de encerramento
do evento no INPA. Estou muito desejoso de ler seus livros, especialmente
aquele que mais cito e que tem passagens que refiro de memória: “A era dos extremos: o breve século XX”.
Esta semana a imprensa brasileira veiculou várias
matérias acerca de Hobsbawm. Destaco uma excelente, alertada por meu querido
ex-aluno de mestrado Edmar Galiza e que está no Observatório da Imprensa: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/interprete_incansavel_do_seculo_20
Desta — de autoria de Elias
Thomé Saliba é livre-docente em História pela Universidade de São Paulo,
professor titular de Teoria da História na mesma universidade e veiculado no dia imediato ao passamento — brindo
excertos aos meus leitores.
O perfil do
bom historiador não pode se parecer nem com o carvalho nem com o cedro, por
mais majestosos que sejam, e sim com um pássaro migratório, igualmente à
vontade no ártico e no trópico – e que sobrevoa ao menos a metade do mundo.” Ao
escrever isso em 2002, Eric J. Hobsbawm talvez estivesse descrevendo a própria
trajetória, que se encerrou na manhã de segunda-feira, dia 01 de outubro DE
2012.
Nascido em
Alexandria em 1917, de família judaica – pai do East End londrino e mãe da
Áustria dos Habsburgos –, passou a infância em Viena, ficou órfão aos 14 anos e
foi morar em Berlim com uma tia, entrando para o Partido Comunista alemão (KPD)
ainda no fim do curso ginasial. Após a ascensão de Hitler, foi para Londres
onde concluiu os estudos secundários. Em 1936, na febre da Front Populaire em
Paris, perambulou na carroceria de um caminhão do cinejornal do Partido
Socialista; depois cruzou a fronteira para a Catalunha, logo no início da
Guerra Civil espanhola.
Nos anos da
Segunda Guerra Mundial integrou a divisão do Exército britânico que cavava
trincheiras, atuando ainda como tradutor no setor de inteligência militar.
Quando concluiu seus estudos, pagou o aluguel escrevendo uma coluna semanal
sobre jazz no New Statesman – com o pseudônimo de Francis Newton (textos depois
reunidos no livro História Social do Jazz). Em 1962, em sua segunda visita a
Cuba, serviu até de tradutor para Che Guevara.
[...]
“Fui um
antiespecialista em um mundo de especialistas, um intelectual cujas convicções
políticas e obra acadêmica foram dedicadas aos não intelectuais”, escreveu em
Tempos Interessantes – livro que virou um paradigma de como deveriam ser
escritas todas as autobiografias. Apesar do seu precoce – e nunca
explicitamente abandonado – engajamento comunista, sempre assumiu um olhar
historiográfico desenraizado e pouco afetivo. Definia-se como “um historiador
pertencente a minorias atípicas, imigrante na Grã-Bretanha, inglês entre
centro-europeus e judeu em toda parte – sentindo-se anômalo até entre os
comunistas”, reconhecendo-se apenas na frase definidora que E. M. Forster
utilizava para definir um poeta: “Ele ficava num ângulo ligeiramente oblíquo em
relação ao universo”.
[...]
Um humorista
inglês brincou, certa vez, definindo a escola de historiadores marxistas de
Hobsbawm como os Graal”. Com a morte de Hobsbawm desaparece um dos mais
brilhantes historiadores de nossa época e talvez o último daquela primeira
geração de marxistas, para os quais a Revolução de Outubro – uma espécie de
Graal – era referência central no horizonte político. Marca também o
desaparecimento de um dos últimos historiadores que colaram de tal forma sua trajetória
de vida com a história pública, que elas parecem indistinguíveis. “O sonho da
Revolução de Outubro ainda está em algum lugar dentro de mim, assim como um
texto apagado no computador lá permanece, à espera dos técnicos que o recuperem
dos discos rígidos”, confessou Hobsbawm. E em lacônica resposta à tirada
humorística, concluiu: “Porque se desistirmos do Graal, desistiremos de nós
mesmos”.
Ilustro meu comentário hoje com uma pequena historieta. "Em uma queda de avião morreram, dentre outros, um famoso escritor de contos eróticos e um famigerado assaltante. Foram ter os dois com São Pedro o qual lheu-les as sentencas. -Tu assaltante, passarás dez anos no purgatório, e tu escritor pornográfico passará duzentos anos." Inconformado com tamanha disparidade o escritor foi questionar o porque de sua pena tão grande, enquanto um perigoso bandido tinha uma tão leve. Respondeu-lhe então São Pedro. - Os males causados pelo bandido resumiram-se na existência dêle, já as tuas idéias influenciarão gerações através dos teus livros.
ResponderExcluirAbraços
Antonio Jorge
Olá!!!!Feliz em encontrá-lo, desde Manaus... apetitou-me o título de sua fala; despertou minha imaginação.
ResponderExcluirQuanto ao "nosso" historiador... já está e permanecerá em cada um de nós; travei um encontro folhando e percorrendo seu livro "A era dos extremos", que nos acompanha há um bom tempo - diálogo saudoso!!!!
Obrigada por mais esta partilha!!!!
Forte abraço!!!!
Sandra
Limerique
ResponderExcluirNascem homens que mudam a história
Eles traçam sua própria trajetória
São anchos de ideais
Mostram-nos os quetais
Hobsbawm ao mundo trouxe glória.