14.- CIÊNCIA, ESPIRITUALIDADE E SAÚDE

Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2265

Esta domingueira começa com um ERREI acerca da edição de ontem. Na verdade cometi dois erros em uma mesma frase, quando criticava a atribuição do Nobel da Paz à União Européia. Escrevi: Qual o horizonte da Suécia — que nem faz parte da União Europeia? A Suécia pertence a UE. O Prêmio Nobel da Paz é escolhido e outorgado pelo Parlamento norueguês e a Noruega não pertence a UE. Quando a Fundação Nobel foi criada a Suécia e a Noruega eram uma União desde 14 de janeiro de 1814. Esta se desfez uma forma pacífica a 13 de agosto de 1905, ficando à Noruega a decidir o laureado pelo Nobel da Paz. Valeu consertar o equivoco.

Hoje, em função de viagem que tenho à noite, perco a oportunidade, há muito programada, de ir com netos a algo que se faz moda: despedir-se do Olímpico. Não tenho muita assiduidade a estádios, mas lamento não estar lá hoje.

Mesmo que haja tradição de fazer aos domingos blogadas ‘leves’ trago hoje um tema muito dominical, mas muito controvertido, acerca do qual, tenho sido muito cético. Mas se até placebo cura, em algumas situações, porque não experimentar. Assim ofereço um texto de conhecido e respeitado médico, publicado na página de opinião da Zero Hora de 11OUT12.

Ciência, espiritualidade e saúde, por Fernando Lucchese * Um seminário com este tema, promovido pela Santa Casa, movimentou Porto Alegre recentemente. Mil e trezentas pessoas lotaram o auditório e outras 1,5 mil, infelizmente, não tiveram acesso. Dias antes, o assunto foi abordado no programa Conversas Cruzadas, da TVCOM, conduzido pelo jornalista Cláudio Brito. A pesquisa interativa realizada durante o programa propôs a seguinte pergunta: “Você acredita que a espiritualidade influi sobre a saúde?”. A resposta foi afirmativa para 94% dos 500 telefonemas recebidos. O confronto entre ciência e fé tem estado em pauta em décadas recentes. Os médicos, pela essência da profissão, sempre preferiram se posicionar ao lado do ceticismo científico à espera de evidências que os fizessem mudar de posição. Progressivamente, estas informações começam a surgir.

Harold G. Koenig, MD, Director, Center for Spirituality, Theology and Health, Professor of Psychiatry & Behavioral Sciences O psiquiatra americano Dr. Harold Koenig, da Universidade de Duke, foi palestrante em nosso seminário em Porto Alegre. Com 40 livros e 300 artigos publicados, na recente entrevista para as páginas amarelas de Veja, Harold Koenig caracteriza bem o papel da religião no tratamento. Cita alguns estudos realizados em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, mostrando que os que seguem uma religião têm menos complicações, ficam menos tempo internados e pagam contas hospitalares mais baixas. Do mesmo modo, doenças relacionadas ao estresse, como os distúrbios cardiovasculares e hipertensão, parecem ser mais sensíveis a uma disposição mental de cunho religioso.

A polêmica não será resolvida rapidamente. Mas os pacientes buscam esperança para seus problemas de saúde. Estamos desenvolvendo no Hospital São Francisco de Cardiologia da Santa Casa uma nova linha de pesquisa que busca relacionar as influências da espiritualidade sobre a doença cardiovascular em indivíduos submetidos a cirurgias cardíacas e infartos. Mais de 300 pacientes em vésperas de serem operados do coração e quase uma centena de cardiologistas responderam a um questionário. O resultado foi surpreendente: 70% dos pacientes gostariam que o médico falasse sobre religião com eles, mas apenas 15% dos médicos o fazem. Como veem, ainda há um longo caminho pela frente. Pelo interesse e aceitação de um número crescente de médicos, estou convencido de que cabe à nossa geração assumir a responsabilidade de estudar e divulgar com seriedade este tema, sempre procurando atender às necessidades e apelos de nossos pacientes.

*Cirurgião cardiovascular e diretor do Hospital São Francisco de Cardiologia da Santa Casa.