Esta
edição abre com um registro lutuoso:
o renomado
historiador britânico de esquerda Eric Hobsbawm, cuja obra influenciou
estudantes e políticos por toda a Europa e em outras partes do mundo, morreu em
um hospital de Londres nesta segunda-feira, aos 95 anos.
Hobsbawm recebeu a consagração da crítica com uma obra de
quatro volumes sobre a Europa nos séculos 19 e 20, que foi traduzida para 40
línguas. Suas memórias, que foram best-seller, elencaram os momentos cruciais
na história europeia moderna nos quais ele viveu.
Hobsbawm nasceu em uma família judia em Alexandria,
Egito, no ano da Revolução Russa, em 1917, e cresceu em Viena e Berlim, antes
de mudar-se para Londres durante a adolescência, em 1933, enquanto Hitler
ascendia ao poder na Alemanha.
Talvez ele seja o historiador que mais tenha influído em
minha formação e lembro quando emocionado, assisti uma fala sua, na década de
90 em Porto Alegre. A notícia me fez triste e com uma homenagem a quem se
perpetua entre nós com suas obras abri minha fala na UAM, ontem.
A
partir de hoje (dia 2) até sexta-feira (5), será realizado na Universidade Vale
do Rio dos Sinos (Unisinos) o 13º
Simpósio Internacional IHU – Igreja, Cultura, Sociedade (A Semântica do
Mistério da Igreja no Contexto das Novas Gramáticas da Civilização
Tecnocientífica). O simpósio tem como pano de fundo o reconhecimento de que as
transformações decorrentes da grande revolução que se processa no campo da
ciência e da técnica têm um impacto tão profundo na cultura e na sociedade que
caracterizam nossa época como uma civilização tecnocientífica.
Um dos
palestrantes do evento será o brasileiro Marcelo Gleiser assume a delicada
tarefa de estender pontes entre os dois lados. Graduado em física pela PUC do
Rio e doutorado em física teórica pelo King’s College, de Londres, esse carioca
de 53 anos acredita que o entendimento entre as partes é o caminho natural.
“Ciência e fé devem coexistir” resume.
Radicado nos
Estados Unidos — desde 1991 é professor do Dartmouth College, uma das mais
renomadas universidades estadunidenses —, onde o fundamentalismo cristão
desempenha um papel político de primeira grandeza, Gleiser sabe que nem sempre
é possível evitar choques. Ele se opõe com vigor às tentativas de setores
religiosos de definir a agenda científica. Discorda, porém, daqueles que, do
alto das cátedras e dos fundos públicos e privados de financiamento à pesquisa,
pretendem vingar Adão e expulsar o Criador do Paraíso do conhecimento.
Gleiser
concedeu entrevista a Zero Hora sobre os temas a serem debatidos. Amanhã, quinta
e sexta-feira este blogue apresentará excertos de significativas discussões
trazidas pelo renomado cientista.
Antes, porém
vale ouvir, acerca do evento Cleusa Maria
Andreatta, Coordenadora do Programa Teologia Pública do Instituto
Humanitas Unisinos:
Em diversas
áreas de conhecimento, como também em diferentes âmbitos da organização de
nossa vida em sociedade, cada vez mais se reconhece que a tecnociência vem
reconfigurando as condições de possibilidade de nosso viver em sociedade de tal
forma que pode ser um problema central de nosso tempo. Essa revolução profunda
e silenciosa vem transformando, num nível de radicalidade até hoje
aparentemente desconhecido na história, as intenções, as atitudes e os padrões
de conduta que tornaram possível historicamente o surgimento da cultura humana
e, portanto, das razões que asseguram a viabilidade das sociedades e do próprio
predicado da socialidade.
Esse contexto
sociocultural vem transformando, profunda e radicalmente, não só a ideia de
Deus na cultura contemporânea como também põe em questão as condições, as
possibilidades e a relevância de todo discurso teológico na sociedade em que
vivemos na forma como tem se desenvolvido até o presente momento.
Essa
reconfiguração dos horizontes de sentido da vida humana na contemporaneidade
coloca em questão a capacidade da Igreja ser escutada e fazer-se entender na
sua interlocução com a cultura contemporânea, bem como a atualidade, o
significado e a pertinência dos seus discursos, linguagens, signos e símbolos
teológico-religiosos diante do contexto cultural que marca a sociedade atual.
Destaca-se,
nesse sentido, o desafio de analisar criticamente a semântica que ajudaria hoje
a instituição eclesial a dialogar com as mulheres e os homens da sociedade
contemporânea, no ambiente cultural por ela formado. Assim, o simpósio reunirá
cientistas, teólogos e pesquisadores de diferentes áreas com o objetivo de
debater em perspectiva transdisciplinar a semântica do Mistério da Igreja no
contexto das novas gramáticas da tecnociência, desenhando possibilidades e
perspectivas de interlocução com a nova cultura.
Vivemos um fenômeno ímpar na era da comunicação a tecnociência nos faz comunicar cada vez menos. Como assim? Muito simples, cada vez mais somos atendidos por máquinas e nossas pretensões resumem-se a um idiota interrogatório do tipo: "Se quiser tal, aperte o um, senão aperte o dois..." Ou seja, se a sua dúvida humana não estiver dentro daqueles parâmetros préstabelecidos, sua reclamação não existe. No santo facebook, falamos o que queremos para quem nem sabemos, e nem nos interessa resposta; apenas queremos falar, afinal a máquina não nos escutou... Já na nossa querida igreja a magia dos mistérios desvendados pela ciência jogou por terra seu misticismo autoritário, ja não cabe mais o ordálio, torna-se imperiosa a comunicação. Ou será que o confessionário adotará o : "Se o seu pecado estiver ligado ao segundo mandamento aperte o tres, se...".
ResponderExcluirAbraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirAo meu ver nem com boa vontade
Haverá como instituir sociedade
Entre ciência conclusa
E a religião obtusa
Porque esta é dona da verdade.
Meu caro Chassot
ResponderExcluirPegou-me de surpresa a morte de Hobsbawn, pois estive distante dos noticiarios nesta semana repleta de atividades. Tambem desde 1998, quando tive contato com seus textos, angariei grande admiraçao por seu estilo de escrever a História. Me encantei com suas obras; uma delas foi minha primeira leitura "A Era dos Extremos". Que livro fantástico, mostrando muito mnais do que eu entendia sobre o raiar do Século XX. Depois não pude resistir à leitura de A ERA DAS REVOLUÇOES, A ERA DOS IMPERIOS, SOBRE A HISTÓRIA, e por ultimo, OS TRABALHADORES.
Como aprendi contigo, outra vez "Uma Grande biblioteca que Queima"...JB