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quinta-feira, 1 de março de 2012


01.- CARAMUJO AFRICANO

Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2038
Trago para inaugurar as blogadas de março um assunto muito especial e certamente original para muitos dos leitores deste blogue. No ano passado, no período de três meses, estive duas vezes no Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade Estadual do Amazonas, em Manaus, onde fiz palestras, participei de mesas redondas, troquei experiências em redes sociais, dei entrevista em programa de televisão e me envolvi em seis bancas de qualificação. No segundo semestre de 2011 também escrevi prefácios de dois livros da UEA.
Ocorre que quando volto de Manaus não trago apenas saborosos peixes. Venho prenhe de aprendizados especialmente aqueles colhidos nas sessões de qualificação. Estas reputo como as que, dentro os rituais acadêmicos, têm o nome mais bem posto, pois se trata de um ato para ‘qualificar’ o trabalho de mestrandos e doutorandos. Mas, a qualificação não é rica apenas para os estudantes.
Hoje partilho com meus leitores o trabalho de Ricardo Moreira de Queiroz, aluno do citado Programa de Pós-Graduação. Ele é graduado em Pedagogia pelo Centro Universitário Luterano de Manaus (2005). Atualmente é professor da Prefeitura Municipal de Manaus e bolsista da FAPEAM. O trabalho é orientado pelo professor Augusto Fachín Terán é bacharel em Ciências Biológicas no Programa Acadêmico de Biologia pela Universidad Nacional de la Amazonía Peruana - UNAP e doutor em Biologia (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA e suas pesquisas são, especialmente na área de Ecologia de quelônios Amazônicos.
O texto que segue foi escrito pelo Ricardo, também autor das figuras, especialmente para esta edição, a meu pedido, depois de eu participar de sua sessão de qualificação. Aqui não há apenas um anúncio. Há uma denúncia. Há um risco a saúde que pode estar bem mais próximo de nós. Vale alfabetizarmo-nos no assunto.

  O Caramujo Africano Achatina fulica A introdução de espécies exóticas em ambientes como Amazônia traz uma série de consequências, entre elas a agressão à biodiversidade, introdução de doenças etc. Uma das formas de combater este comportamento errado de introduzir espécies exóticas em ambientes prístinos é através da educação. No Brasil existem vários exemplos de plantas e animais invasores trazidos pelos humanos de outros continentes. Na região amazônica, especificamente na cidade de Manaus, AM, o caramujo africano encontra-se distribuído em quase todos os igarapés de Manaus, trazendo uma série de problemas para a biota nativa, tais como: competição com as espécies de caramujos nativos, invasão de jardins e hortas, entre outros problemas. A introdução de uma espécie exótica em determinada região pode levá-la a ser considerada invasora, devido a fatores como grande capacidade reprodutiva, ausência de predadores naturais, adaptabilidade climática e recursos variados.
  O Caramujo Africano, conhecido pelo nome científico de Achatina fulica, é oriundo do continente Africano que foi disseminado na região do Paraná, por volta de 1980, com o intuito de comercialização de “escargots”. A intenção inicial dos produtores da região do Paraná era utilizá-lo na gastronomia como sucessor do gênero Helix, caracóis europeus usados na gastronomia. Porém a espécie importada não teve aceitação pelo público consumidor devido ao gosto que não se assemelhava ao escargot do gênero Helix. Em consequência disto, os produtores libertaram os moluscos no meio ambiente sem nenhuma preocupação.
  O Caramujo Africano pertence ao grupo dos moluscos pulmonados terrestres, possui conchas com 15 a 20 cm de altura e 10 a 12 cm de comprimento chegando a pesar 200g. É extremamente prolífica, produz muitos ovos por ano, de 50 a 400 ovos por postura e cerca de 500 ovos/ano. Seus ovos são de cor branca e ficam enterrados na terra, possuem aproximadamente 5-6 mm de comprimento por 4-5 mm de largura. Alimenta-se de folhas, flores e frutos de muitas espécies, sendo mais ativo em regiões com inverno úmido e pouco frio. Resiste ao período de seca e ao frio hibernal. É também um animal canibal, devora os ovos e caramujos jovens da mesma espécie, aparentemente para sobreviver temporariamente em ambientes pobres em cálcio (necessários para a concha). Pode viver em florestas e capoeiras, bordas de florestas, caatingas, brejos, áreas de vegetação nativa, horta, terrenos baldios, quintais e jardins.
Embora pareça ser um animal inofensivo, este molusco pode ser transmissor de doenças, quando este entra em contato com fatores contaminantes. O encontro com Achatina fulica em vida livre pode causar a transmissão do verme Angiostrongylus cantonensis nematóide causador da Angiostrongilíase meningoencefálica humana. O Achatina fulica pode hospedar ainda o verme Angiostrongylus costaricensis, agente da angiostrongilíase abdominal, doença grave com centenas de casos já relatados no Brasil. Esta doença pode levar a morte por perfuração intestinal e hemorragia abdominal. O Caramujo Africano geralmente após a sua morte, tem seu casco encontrado com a parte superior virado para baixo, isto é, a abertura de seu casco virado para cima. Com a chegada do período chuvoso, este casco enche-se de água e serve de suporte para a procriação do Mosquito da Dengue. 

9 comentários:

  1. Caro Chassot,
    a tua postagem de hoje trás um tema que se reporta à ganância de algumas pessoas e a falta de responsabilidade com o meio ambiente. Já havia tomado conhecimento dessa 'praga' por aqui, mas vinda no casco de transatlântico. De qualquer forma, esse fato nos faz repensar o significado da globalização, tanto no que se refere à espécies fora do seu habitat quanto a formas de perceber o mundo alienado do seu respectivo ambiente cultural.

    Um abraço,

    Garin

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    1. Amigo. Os caramujos africanos são terrestres, e não aquáticos. Muito menos marinhos. Se eles entrassem em contato com a água do mar, certamente morreriam, por causa do sal. Os moluscos terrestres morrem ao contato com alguma substância que contenha sódio.

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  2. Caro Chassot,
    Aqui mesmo em Floripa o Achatina fulica já causa danos, ele está se propagando em progressão geométrica e, parece, dentro de poucos anos terá consumido os ovos dos outros caramujos causando a extinção deles. A hortas familiares também se veem atacadas por esse animal, e a única maneira de controlar sua invasão é queimando-os, incinerando os bichos vivos. Abraços, JAIR.

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  3. Parabenizo o Mestrando Ricardo Moreira de Queiroz, o Doutor Agusto Fachín Terán e ao Mestre Attico Chassot pela iniciativa e pesquisa!!!

    Este texto está de parabéns!!!

    Andrea Garcia

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  4. Prezado Chassot
    Esta lesminha com a sua casinha esta presente em 24 estados do Brasil, exceto o Acre e Amapá e nem no Distrito Federal, neste último, será pela existência de alguns predadores? Não sei. Infelizmente é um grande problema e até aqui em São Leopoldo pode ser encontrada com facilidade.
    Parabéns ao Ricardo pela “Alfabetização Ecológica”.

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  5. Exúvia Magenta comentou:
    "Obrigado e valeu a dica, mestre Chassot, muito interessante o trabalho focado em alfabetizacao cientifica e ecologica no ensino fundamental!"

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  6. Prezado Prof Chassot
    Antes de tudo meus parabéns por seu magnifico trabalho, pois sua linguagem é simples e desmitifica o engessamento da ciência, sem deixar de ser um trabalho de altíssimo nível intelectual.
    Caso seja possível gostaria de saber se seria possível o senhor me ajudar a esclarecer uma dúvida para me responder o seguinte questionamento: qual a diferença entre Conhecimento e Saber?
    Sou professoraa e essa dúvida me incomoda , pois tenho lido alguns artigos científicos e fico perplexa, porque ora o conhecimento é colocado como sendo a soma de nossas experiências e o Saber é o erudito, o fazer ciência, e outros autores dizem exatamente o contrário. Onde está a evidência da diferenciação entre Conhecimento e Ciência?
    Desde já o meu imenso agradecimento. O senhor pode ter certeza que estará prestando um enorme contribuição. Muito obrigada e fico ansiosa para receber essa contribuição que será repassada para muitos professores da Educação Básica , Mestrandos e Doutorandos.

    marly@academiadeprojetos.com.br

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  7. Desde 2010 o Achantina fulica é visto aqui no estado do Amapá.

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  8. Desde 2010 o Achantina fulica é visto aqui no estado do Amapá.

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