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terça-feira, 6 de março de 2012

06.- NÃO CABE CURA PARA QUEM NÃO ESTÁ DOENTE



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2043
É muito impressionante a força e a coesão da bancada evangélica na Câmara dos Deputados. Mesmo que esta bancada tenha uma adjetivação que não define a quem representam, é uma bancada coesa e envolvida na defesa das posturas mais reacionárias. Mas, pergunte a um luterano ou a um metodista, por exemplo, se ele se sente representado por estes patrulhadores ideológicos; a resposta mais provável: não.
A mais recente destes que se vestem com peles de ovelha, mas que são lobos vorazes é legislar para que psicólogos possam tratar e curar homossexuais. Esta aberração é no mínimo ferir a autonomia do Conselho Federal de Psicologia.
Com oportunidade Carla Biancha Angelucci, presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia publicaram na Folha de S. Paulo de ontem (p. A3) o artigo: Não cabe cura para quem não está doente. Dentro da proposta deste blogue em colaborar para construir uma cidadania crítica, transcrevo o texto na íntegra.

Dedico esta edição a Thaíssa Oliveira Haas e Sabrina Caldeira, duas psicólogas combativas que tive o privilégio de ser orientador no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. As dissertações de uma e outra têm muito presente propostas contra discriminações na construção de uma sociedade mais justas.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), assim como os conselhos regionais, é uma autarquia de direito público, com os objetivos de orientar, fiscalizar e disciplinar a profissão de psicólogo, zelar pela fiel observância dos princípios éticos e contribuir para a prestação de serviços à população.
Cumprindo as suas atribuições, o CFP, por meio da resolução 01/99, regulamenta a atuação dos psicólogos com relação à questão da orientação sexual.
Considerando que as homossexualidades não constituem doença, distúrbio ou perversão (compreensão similar à da Organização Mundial da Saúde, da Associação Americana de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina), a resolução proíbe que o psicólogo proponha seu tratamento e cura.
Entretanto, em nenhum momento fica proibido o atendimento psicológico a homossexuais, como afirmado pelo deputado João Campos (PSDB-GO), líder da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional, que propõe um projeto que pretende sustar dois artigos da citada resolução.
Isso fere a autonomia do CFP como órgão que fiscaliza e orienta o exercício da psicologia e contraria as conquistas no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, consolidados nacional e internacionalmente.
A iniciativa do CFP foi pioneira e, na época, o Brasil passou a ser o único país no mundo com uma resolução desta natureza. Por isso, o conselho recebeu dois prêmios de direitos humanos.
Vale ressaltar que, a partir da resolução brasileira, a Associação Americana de Psicologia formou um grupo específico para elaborar documentos de referência para norte-americanos e canadenses, reafirmando posteriormente a inexistência de evidências a respeito da possibilidade de se alterar orientações sexuais por meio de psicoterapia.
A discussão sobre a patologização da homossexualidade é comumente atravessada por questões religiosas, já que certas práticas sexuais são vistas também como imorais e contrárias a determinadas crenças.
Entretanto, há que se reafirmar a laicidade da psicologia, bem como de nosso Estado. Isso significa que crenças religiosas — que dizem respeito à esfera privada das pessoas — não podem interferir no exercício profissional dos psicólogos, nem na política brasileira.
Nesse sentido, ao associar o atendimento à pretensa cura de algo que não é doença, entende-se que o psicólogo contribui para o fomento de preconceitos e para a exclusão de uma parcela significativa de nossa população.
Considerando que a experiência homossexual pode causar algum sofrimento psíquico, o psicólogo deve reconhecer que ele é decorrente, sobretudo, do preconceito e da discriminação com aqueles cujas práticas sexuais diferem da norma estabelecida socioculturalmente.
O atendimento psicológico, portanto, deve, em vez de propor a "cura", explorar possibilidades que permitam ao usuário acessar a realidade da sua orientação sexual, a fim de refletir sobre os efeitos de sua condição e de suas escolhas, para que possa viver sua sexualidade de maneira satisfatória e digna.

11 comentários:

  1. Super esta publicação; compartilhei a chamada sobre a bancada evangélica. Meu medo que são muitos os fiéis que absorvem estes "valores"...

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  2. Chassot,

    Parabéns pela publicação!

    Deixo a pergunta:

    Será que existe cura para o fundamentalismo, para o preconceito e para a desumanidade?

    Abraços,
    Guy.

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  3. Prof. Querido!!!!
    Estou emocionada com a homenagem!
    Toda e qualquer forma de preconceito é falta de uma educação com valores éticos e humanos e falta de amor pelo semelhante. O tema do blog de hoje é muito importante e preocupante.
    E ainda nesta semana tivemos a feliz notícia do reconhecimento jurídico de um casal gay ter o direito de registrar sua primeira filha feita através fertilização. Que bom que as pessoas e as leis estão contribuindo para que mudanças aconteçam.
    Abração carinhoso,
    Sabrina Caldeira.

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  4. Querido professor
    Antes de mais nada, quero dizer que sinto saudades e que fiquei muito feliz de o senhor lembrar de mim em seu blog. De mim e de minha profissão, que sinto cada vez mais desvalorizada com esse tipo de manifestação a respeito do que ela deve ou não fazer e/ou como atuar, por parte de pessoas ignorantes, desumanas, preconceituosas e fundamentalistas (mais ou menos como cita o Prof. Guy). Nao seria apenas uma questão de defesa de massas que sofrem de preconceito, como os homossexuais nesse caso, mas da defesa de uma orientação sexual. E como diz o CFP, sofre-se pelo preconceito e nao pela orientacao sexual. Portanto, mudar o que?
    Acredito que a homossexualidade "agride" a quem tem incerteza quanto a sua escolha heterossexual, ou no minimo sente sua sexualidade heterossexual ameaçada com muita facilidade.
    E homossexualidade é sentir atração, desejo e amor pelo mesmo sexo. O que ha de "doente" nisso?
    A psicanalise desde os tempos de Freud faz uma tentativa de conhecer o caminho para a orientação homo como também para a heterossexual. E nos indica que o melhor a se fazer pelas pessoas é ajuda-las a fazer uma boa escolha de parceiro amoroso para dividir a vida e se posicionar de forma adequada quanto as suas escolhas. E não esquecendo que fazer parte de uma bancada evangélica desse gabarito também seria uma orientação/escolha, que me parece inadequada, perversa e abusiva e com real necessidade de mudança psíquica das pessoas que fazem parte dela. Isso sim é doença!
    Tomara que eu consiga me fazer entender professor. Acho que passaria horas escrevendo sobre isso!
    Um beijo
    Thaissa

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  5. Amigo Chassot,
    não encontro adjetivos para classificar essa bancada, mas 'evangélica' não é. É impressionante como a porção mais retrógrada da sociedade encontra brechas para se infiltrar na sociedade destilar seu ultra conservador fel horroroso.
    Um abraço,
    Garin

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  6. Caro Chassot,
    A História nos conta que toda vez que as religiões interferiram no poder temporal deu merda. Não é preciso falar das inquisições, das perseguições aos judeus e do radicalismo muçulmano para lembrar que isso é verdade. Então, em pleno século vinte e um, me vem essa corja de políticos de uma suposta "bancada evangélica" e tenta dar longos passos em direção ao obscurantismo. Eles querem que se ensine religião em escolas públicas, e agora me vem com essa de "curar" homossexuais? Será que esses hipócritas não tem o que fazer? Por que não saem em missões humanitárias ajudando os pobres por aí ou invés de tentar legislar cocô? Cambada de imprestáveis!! Abraços, indignados, JAIR.

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  7. Essa discussão deveria ir além desse espaço!!! E terão deputados e senadores dessa bancada evangélica que serão reeleitos pelo povo!!! Nosso pais necessita de discussão sobre educação, saúde e direito a liberdade! Somente um povo que tem acesso a essas condições, tem condições de lutar pelos seus direitos e dizer não ao preconceito!!! Cada dia que passa, vejo o quanto nosso pais está necessitado de melhores escolas, de hospitais,... E Viva a Copa!!!

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  8. LEONEL escreveu

    Mestre, o blogger anda engasgado comigo.
    Acho que estão fazendo lambanças novamente. Eu não consigo entrar comentários em alguns blogs, inclusive no seu.
    Quando dou entrada (publicar), simplesmente apaga tudo!
    Mas, aqui vai meu comentário sobre seu post NÃO CABE CURA PARA QUEM NÃO ESTÁ DOENTE:
    (Se puder, pode publica-lo, por favor!)

    Boa noite, Mestre!
    Sugiro que os psicólogos curem também aquelas pessoas que tem desvios comportamentais, como torcer pelo Flamengo (ou pelo Grêmio) ou gostar do tal ritmo funk!
    Também precisam ser "curados" os que não gostam de churrasco ou de chope!
    Quando todos pensarem como eu, o mundo finalmente será normal!
    Abraços!

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  9. Caro Prof. Attico,

    Como evangélico de berço e psicólogo de formação tenho que me render a constatação de que esta bancada é retrógrada, limitada e preconceituosa. Ao invés de pregar o amor, o respeito e a tolerância tal como Jesus ensinou, dissemina o ódio, o conflito e a exclusão daqueles que pretensamente não são como eles. Claro...podemos fazer uma análise psicológica sobre os desejos ocultos dos homofóbicos evangélicos, mas também não há como ignorar que a "eleição" de um inimigo comum reforça a coesão interna em seu quintal. A bola da vez é o Conselho Federal de Psicologia e o universo de pessoas que não comungam a mesma orientação sexual dominante. Em outros momentos já foram os católicos, os umbandistas e o ateus. Neste ritmo qualquer pessoa pode ser vítima do surto moralizador destes evangélicos. Posso garantir que, caso um deles surte um psicólogo o tratará sem ódio, mas sob os princípios éticos que regem a profissão.
    Grande abraço professor!

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  10. Bom, como já referi em comentários anteriores, urge estudar sociologia, antropologia e política para não cair no argumento simplista que religião é o caminho para a ignorância. De fato, para quem nunca leu Machado de Assis, essa tática de polemizar, simplesmente para circular o nome na mídia e parecer que realizou alguma coisa, já era muito comum desde o século 19. Não se faz nada, mas se atinge um ponto polêmico para fazer polêmica. É claro que irão tentar atingir seus objetivos, porém, a idéia principal não é essa. Outra coisa que deve ser ressaltada é que até a própria psiquiatria muito já perseguiu e rotulou os homossexuais como pessoas doentes. A homossexualidade somente COMEÇOU a deixar de ser uma "patologia tratável" pela psiquiatria na década de 70. Em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria decidiu retirar a homossexualidade do seu Dicionário de Doenças Mentais (DSM), porém de fato, a "homossexualidade ego-distônica" somente saiu do catálogo do DSM publicado em 1987. Não obstante, apenas, em 1990, e aqui são apenas 22 anos, a homossexualidade foi retirada das patologias do Catálogo internacional de doenças o famoso CID, na sua 10º edição.
    Então, nada tem assim de tão novo nessa "reinvidicação" dos "evangélicos". Esse grupo se ampara na rotulagem psiquiátrica dadas aos homossexuais até o final da década de 1980. Salienta-se que só foi retirado a patologia homossexualidade do DSM por meio de intensas lutas políticas dos próprios homossexuais. A homossexualidade foi rotulada como doença (assim como, penso, fazem hoje com inúmeras crianças com o famoso DTHA, enchendo as crianças de Ritalina, comprometendo seus futuros), por motivos políticos e saiu dos catálogos médicos também por motivos políticos. Agora por motivos políticos, frente a uma desenfreada ascenção da direita conservadora, representada aqui por esse grupo que se diz evangélico, e se diz seguidor do NOVO testamento (se diz, afinal, tolerância, bondade, fraternidade são ensinamentos de Jesus Cristo). É claro,o assunto volta a mídia por puro motivo estratégico político de massas. Mas, sejamos claros e inteligentes a motivação é politico eleitoral. Dessa feita, o injustiçados homossexuais tiveram que amargar serem rotulados como doentes pelos psiquiatras até 1987 (medicina em geral até 1990 -CID10), e hoje, amargam serem igualmente rotulados por falsos profetas. Afinal, nada melhor que "pegar para Cristo" as minorias da sociedade (nesse caso nem tão minoria assim). Aos amigos homossexuais minha simpatia por sua luta por seus direitos humanos.

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  11. Esqueci de assinar o comentário anterior.

    Grande abraço
    Eunice Gomes

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