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sexta-feira, 16 de março de 2012

16.- OS BONS E OS MAUS



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2053
Esta noite tenho mais uma das bancas de março. A mestranda Juliana Silva Cerqueira defenderá sua dissertação acerca da Prova Brasil e A formação Continuada de Professores: a busca da qualidade educacional em uma escola municipal de Porto Alegre, orientada pelo Prof Dr. Jose Clovis de Azevedo, tendo também a co-orientação da Profa. Dra. Marlis Morosini Polidoro. A Banca avaliadora terá a presença como avaliadora externa da Profa. Dra. Denise Grosso da Fonseca da UFRGS e eu como representante do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão.
Nesta quarta sexta-feira da quaresma do ano da graça de 2012, não vou fugir ao tom das outras três. Uma vez trago um tema eclesial. Talvez melhor usasse o adjetivo igrejeiro.
Não vou catalisar polêmicas. Apresentarei dois elementos. Um é um excerto de uma crônica de um jornal de Porto Alegre; outro o extrato de notícia publicada em revista de circulação nacional.
Um dos mais lidos cronistas do Rio Grande do Sul, auto-reconhecido como o melhor de todos, demonstra na religião a única possibilidade de alguém ser bom. Dele é esta rara pérola: A religião é a forma humana mais propícia para que o homem se torne bom. Entre os crentes, nunca encontrei um homem mau. A religião parece que inocula na personalidade humana o vírus da bondade. E sempre que me defrontei com um homem mau, invariavelmente ele não era religioso. Por isso tenho um respeito muito grande pelos religiosos. Eles se mostram voltados para o bem. [O bem ou mal, Zero Hora, 11MAR2012, p.39]
No mesmo fim de semana, a revista Veja noticiava: Investigado em inquérito da Polícia Civil do Rio de Janeiro por suspeita de estupro, tortura e de manter vínculos com criminosos, como revelou Leslie Leitão na última edição de VEJA, o pastor Marcos Pereira, chefão da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, foi um dos primeiros a abraçar Dilma Rousseff ontem durante homenagem do Senado às mulheres. Inacreditável: um sujeito investigado por estupro numa cerimônia em louvor às mulheres – e ainda por cima abraçando a presidente da República. Numa palavra, os cerimoniais do Congresso e da Presidência falharam.
Na última década, o pastor carioca Marcos Pereira, 55 anos, conquistou respeito em rodas que mesclam políticos, desembargadores, artistas e uma vasta turma egressa de ONGs, que já o viram em cima de um púlpito gesticulando com um de seus Rolex em punho e desejando “rajadas de glória” à plateia. Alçado à condição de religioso-celebridade, Marcos extrapolou, e muito, as fronteiras de sua igreja, a pentecostal Assembleia de Deus dos Últimos Dias, com sede no Rio e filiais no Paraná e no Maranhão. Desde 2004 — depois de pôr fim a uma sangrenta rebelião em um presídio do Rio, a pedido do então secretário de Segurança, Anthony Garotinho —, ele passou a ser visto como o mais habilidoso apaziguador de conflitos liderados pela bandidagem, com um currículo que, segundo o próprio, inclui o resgate de centenas do tráfico. Tem feito esse trabalho no Brasil inteiro e já foi várias vezes aos Estados Unidos, onde quer erguer um templo, para falar da experiência. Pois por trás dessa fachada, ao que tudo indica, se esconde um enredo de atrocidades que não deixa pedra sobre pedra da imagem de bom religioso do pastor.
Não estou propondo generalização a partir dos dois insertos acima. O articulista todo dono da verdade em seu texto faz a ilação que somente sendo religioso se pode ser bom e é claro que o pérfido pastor Marcos no seu obrar ‘muito religioso’ em nome de Jesus não é representativo das ações dos ministros da maioria das religiões. Há, não se pode esquecer, religiões que operam satanicamente e os fiéis das mesmas são religiosos.
Parece difícil fugir ao senso comum, assentado no obscurantismo do medievo europeu e também assumido no mundo islâmico, de que o ateu (=infiel) é uma pessoa má. Já comentei aqui, com ilustração de palavras cruzada: ‘homem mau (4 letras) = ateu’.
Uma vez mais estamos diante de um assunto polêmico. Aqueles que creem e os que não creem devem por primeiro se despir de preconceitos. Com essa esperança (¿ e isto é uma crença?) os votos de uma muito bom inicio da segunda quinzena de março!
PS.: Vibro que ter falado ontem nos ‘sonhos’ de Santo Antônio da Patrulha tenha catalisado evocações. Meu colega e amigo Martin Sander busca até sonhos com ‘sabores secretivos’.

7 comentários:

  1. Caro Attico,

    o encerramento da blogada nos diz tudo: despir-nos de preconceitos para a busca por um caminho conciliador entre visões distintas e antagônicas. O respeito de um ser humano pelo outro é que deve pautar nossa convivência.

    Grande abraço,

    PAULO MARCELO

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  2. Prezado Chassot
    Vejo que nesta sexta trazes a polemica da religião, onde apesar de estarmos em pleno século XXI, muitos continuam aproveitando-se da ignorancia e do desespero das pessoas. E o envolvimento de pastores na política me assusta, principalmente pelo contingente que toma cargos no legislativo brasileiro e que em breve parece tornar-se uma representaçao significativa. Que Deus nos proteja? Nao sei...JB

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  3. Caro Chassot,
    Muito boa esta postagem. O tal cronista gaúcho "melhor de todos" deve ser cego e surdo ao escrever uma estultice destas "A religião parece que inocula na personalidade humana o vírus da bondade. E sempre que me defrontei com um homem mau, invariavelmente ele não era religioso". Parece que ele nunca ouviu falar sobre a pedofilia praticada por padres e bispos na Irlanda católica, nos EUA e até no Brasil. Ou será que pedofilia não conta como maldade e crime?
    Ser bom ou ser mau nada tem a ver com religião, não sou religioso e tenho o maior respeito pelas instituições, pelas pessoas e pelos costumes, sou um cara bom sob quaisquer ângulo que se observe, minha bondade, respeito, civilidade, cidadania e correção nada tem a ver com religião. Respeito muito os religiosos, inclusive. Abraços, JAIR.

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  4. Chassot,

    este tema foi discutido também pelo Dawkins, em seu "Deus: um delírio". Ele argumenta sobre as origens da moralidade e da bondade humana e afirma que estas não têm sua origem na religião. Ainda acrescenta que "nunca veremos um homem bom fazer a mal a não ser que motivado pela religião". Acho interessante que este senhor que produziu aquela excrescência não lembrou-se de Torquemada, São Cirilo, Alexandre VI, Maria I (a bloody Mary), Karadima, Osama bin Laden, Ahmadinejad entre outros monstros que, em nome de suas crenças, geraram sofrimento, dor, morte e desespero.
    Nem todos religiosos são bons nem todos ateus são maus, mas quase todas generalizações são burras. Este cronista tem traços assustadores de fundamentalismo... O que é necessário é o respeito pela pluralidade. Quando falo aos meus alunos o que aconteceu com uma mulher que ousou lecionar, pensar e fazer pensarem e autodeclarar-se atéia em uma Alexandria dominada por extremistas ficam chocados e revoltados, faço isso para mostrar que o caminho da tolerância e convivência entre as diferenças é sempre mais bonito.

    Existem mais fatos que nos unem do que nos separam! Que Hipácia e Bruno sejam lembrados cada vez que alguém queira destruir outro alguém por pensar e/ou agir diferentemente.

    Abraços comovidos
    Guy

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  5. Bom dia, Mestre!
    Normalmente, eu me abstenho de falar de assuntos político-religiosos, mesmo porque nunca se chegará a um consenso. Não raro vemos atitudes extremas e intolerantes, insufladas em pessoas ingênuas por certos oradores que pregam o fanatismo.
    Mas, eu li bastante a bíblia, e uma figura que me agradou foi a de Jesus Cristo: que eu saiba, ele nunca teve religião (aliás, foi morto por ser visto como um perigo pelos os chefes político-religiosos), e a única visita que fez a um templo foi para expulsar do saguão certos mercadores que faziam da fé alheia seu meio de vida.
    Será que o referido cronista conterrâneo já ouviu falar dele?
    Se é tão simples separar os bons dos maus, apenas pelo critério da filiação religiosa, realmente as coisas ficam bem mais fáceis...
    Vou pegar minha carteirinha de "bom"!
    Abraços!

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  6. Olá Prof. Attico,
    Boa Tarde,
    Primeiramente, preciso analisar as duas notícias.
    1) Paulo Santana
    Não é a primeira vez que esse senhor vem espalhando sandices na sua coluna. Recorrentemente, ele propõe assuntos polêmicos recheados de posições contraditórias e ainda mais polêmicas. E senhor (não tenho coragem de chamá-lo de cronista) já escreveu que mulheres de perna grossa não são bonitas, que cães da raça pitt bull devem ser exterminados, só para dar dois exemplos que chegaram até a mim, pois não perco meu valoroso tempo lendo coisas descartáveis. Poderíamos lembrar também que ele não possui formação alguma que lhe dê o grande título de “novo filósofo popular”. Se puxarmos da memória, esse senhor era apenas comentarista de futebol, conhecido por ser fanático pelo Grêmio. Pois bem, o mesmo foi envelhecendo, e, comumente, algumas pessoas atribuem sabedoria a indivíduos somente por terem ficado velhos. Isso, por si só já é uma grande bobagem, visto que, toda a pessoa, sensata ou não, irá envelhecer. Diante disso, fico imaginando o porquê do crédito exagerado a coluna desse senhor. Não faz o menor sentido, pelo menos para mim, posto que suas crônicas são apenas concepções de vida, nada mais que isso. Por outro lado, imagino que ele goste de escrever essas bobagens em sua coluna já que as pessoas comentam... Sim! Comentam! E esse senhor está sempre circulando na mídia, de fato, uma tática lamentável.
    O segundo ponto, foi um representante da Assembleia de Deus dos Últimos Dias. Vejamos o que é essa Igreja, se é que assim podemos nomea-la. Tenho aqui que fazer uma relevante ressalva. Meu pior problema com o neoateísmo (principalmente representado por Dawkins) é que o fundamentalismo cientifico biológico desconsidera por completo as outras ciências, como sociologia, antropologia, ciências políticas e outras áreas de conhecimento como a história. Para ser possível analisar essa Assembleia de Deus dos Últimos Dias (e outras tantas pseudo Igrejas, e Igrejas de orientação extrema direita), teríamos que realizar uma análise sociológica e política. Visto que, a ideia simplista que religiosos são assim é um fundamentalismo exacerbado. Cientistas políticos e sociólogos poderiam analisar todos os parâmetros por trás dessas "igrejas", com orientação política de extrema direita, e provavelmente chegaríamos que a raiz do problema não é a fé em Deus, mas a atual fase história e social que vivemos. Chegaríamos ás inúmeras pessoas humildes e sem esperanças, chegaríamos à falta de educação pública, na falta de inúmeras políticas públicas. Encontraríamos pessoas a beira da ignorância medieval, levadas pelo neoliberalismo econômico ( que por definição sobrevive da geração de misérias humanas). Lá na Idade Média, como nesse contexto, esse tipo de "religião" usurpadora vem preencher um espaço que o Estado (nos dias atuais) não preenche, o espaço de poder ter esperança nas suas lutas inglórias diárias. Afinal, se ninguém mais os considera, tem sempre um usurpador que irá enxergar dividendos.
    Nesse contexto, um observador que não leva em conta a sociologia, política e antropologia perceberá que o problema é ter religião! Ora, se eles falam essas coisas e se dizem tementes a Deus, o problema está na crença em Deus, é claro!

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  7. (continuando)
    A única coisa clara, para mim, é o famoso ditado: "O diabo sabe citar as escrituras, quando lhe convém".
    Também é claro, para mim, que muita carnificina se faz em nome da liberdade, justiça e democracia. Estamos, atualmente, com invasões a países e milhares de mortos, sob o pretexto de levar a democracia, a liberdade e a justiça. De fato, o observador que pensou que Deus e a religião são os culpados anteriormente, deveria pensar: Ora, então a culpa é da democracia, da liberdade e da justiça... É claro que não o fazem, visto que, muitos desses “julgadores do valor de Deus” também usam a liberdade e a democracia de forma muito duvidosa.
    Dessa maneira, é esse meu principal problema com os "ateus fundamentalistas científicos biológicos". Eliminam toda e completamente as ciências sociais e filosofia de suas teorias e apontam um culpado "obvio". Bem como fundamentalistas religiosos, eliminam as ciências e a filosofia de suas vidas e apontam um culpado "óbvio". Para os neoateus de Dawkins não há outra forma de explicar os fatos do mundo, além da leitura fundamentalista da Teoria das Espécies, os fundamentalistas religiosos, nada explicará o mundo além da leitura fundamentalista dos livros sagrados (seja qual for). Os primeiros atacam todos, sem exceções, os crentes dizendo: "Ora vocês são todos tolos ignorantes". Os segundos: "Ora vocês são todos maus e vão para o inferno.” Se bem que, mandar um ateu para o inferno ou negar-lhes o direito ao céu, deveria ser uma retórica insignificante e desconsiderada. Afinal não existe inferno ou céu para os ateus (achei as charges interessantes nesse sentido).
    Não compreendo nenhum raio de racionalidade em nenhum deles. A vida, o mundo e os seres humanos não estão compartimentados em ciências biológicas, sociais, filosofia, meio ambiente, e tudo o mais. Tudo ocorre em conjunto, abdicar de um só ponto da realidade é possui a parcialidade das coisas.
    Termino afirmando que, considero muito o senhor, tenho profunda admiração e respeito, porém, convenhamos, Assembleia de Deus dos Últimos Dias e Paulo Santana são apenas representativos de falácias e mentiras. Dessa forma, não há assunto aqui que possa realmente abordar outra coisa, além de política, corrupção, mídia de massas e sociologia. Falar realmente de religião e ateísmo usando essas duas premissas falsas é atingir uma ideia igualmente falsa.
    Grandes abraços e minha sincera admiração
    Eunice Gomes

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