Ano 6 ***
Porto
Alegre ***
Edição 2063
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Já vivemos
a semana que encerra o primeiro trimestre do ano. Mais uma semana prenhe de
atividades para despedir este março de tantos fazeres. As blogadas de
segunda-feira, de uma maneira quase usual, são marcadas pelo produto de
leituras da imprensa no fim de semana.
Hoje
ofereço a leitoras e leitores deste blogue a crônica Dois rapazes e suas circunstâncias, da jornalista Cláudia Laitano,
publicada na página 2 de Zero Hora do sábado que passou. Vale acompanhar
reflexões que são muito densas.
Thor – Eis
um desafio que a maioria de nós nunca vai ter que enfrentar: educar um menino
que nasceu bilionário para tornar-se um adulto responsável e decente. Como se
cria um bilionário? Como ajudamos alguém que sabe que não vai precisar
trabalhar para viver a ser um sujeito com sonhos e ambições próprios? Como
fazê-lo respeitar as regras que valem para todos se sua vida é tão diferente
das outras? Como ensiná-lo a enfrentar os olhares de inveja e interesse
despertados pela condição, alheia a sua vontade, de ter nascido tão rico em um
país tão desigual?
Aos 20
anos, Thor não é apenas o filho mais velho do bilionário com a beldade: ele é
um experimento pedagógico ambulante. Se Eike e Luma conseguiram educá-lo para
ser um homem digno da fortuna que herdará, renova-se a nossa fé na capacidade
dos homens de superarem e transcenderem suas circunstâncias – na fartura e na
miséria, a pé ou de Mercedes. Meu juízo classe média me assopra que meninos de
20 anos e seus hormônios traiçoeiros não deveriam lidar com carros mais
potentes do que a sua capacidade de discernimento e autocontrole. Mas, apesar
do carro importado, dos advogados caros, do pai falastrão e das falhas da
Justiça, que nem sempre trata ricos e pobres do mesmo jeito, Thor não merece
ser julgado e condenado apenas pelas aparências.
Nem ele
nem os meninos magrelas e pardos, sem nomes de deuses nórdicos ou pinta de
galã, que precisam conquistar todos os dias o direito de contrariar os
estereótipos.
O menino
de Santo Ângelo – Nas reportagens, seu rosto e seu nome não aparecem, mas sua
história anônima é parecida com a de muitos outros meninos de 15 anos – pelo
menos 10% da população, segundo as estatísticas. Diferentemente da maioria,
porém, esse menino não se escondeu. Meu juízo classe média teria aconselhado o
guri a ficar na dele, discreto, evitando chamar atenção para si ou para o fato
de ter descoberto, já aos 13 anos, que gostava de meninos. Mas ele fez tudo ao
contrário: contou para os pais logo que pôde e aos colegas de escola na
primeira oportunidade. As consequências foram as previsíveis: isolamento,
gozação e depois violência física. Foi demais para ele – garotos de 15 anos
tendem a superestimar sua capacidade de enfrentar adversidades. E o menino
pensou em se matar.
O fato de
ter pais amorosos e esclarecidos deve ter pesado para que ele desse mais valor
à própria vida. Em vez de punir a si mesmo, botou a boca no trombone, reclamou,
pediu ajuda, se expôs.
O filho de
Eike, o menino de Santo Ângelo e todos nós somos produtos das nossas escolhas e
das nossas circunstâncias. No caso do garoto gaúcho, sua coragem e seu pedido
de ajuda podem ter servido para que outros garotos percebam que não estão
sozinhos e que não devem desistir de denunciar a violência e a intolerância –
mesmo que demore um pouco até serem ouvidos. Contrariando o bom senso, ele
tornou-se um pequeno herói da resistência. Thor, por sua vez, vai ter que
provar que, diante da primeira grande adversidade da sua vida, também saberá
transcender suas circunstâncias – agindo como homem, e não como herdeiro.
Boa noite, Mestre!
ResponderExcluirAmbos os jovens tem problemas enormes pela frente...
Abraços!
Caro Chassot,
ResponderExcluiresse texto da Claudia nos faz pensar um pouco mais antes de sair apontando o dedo e fazendo julgamentos apressados, apenas porque o sujeito é de família rica e famosa.
Uma boa semana!
Garin
Como o ditado "pai rico, filho nobre e neto pobre".
ResponderExcluirCaro Chassot,
ResponderExcluirTambém concordo que não podemos nem devemos julgar o indivíduo pela sua fortuna ou falta dela. Os ricos todos não são canalhas, e todos os pobres não só virtuosos e bonzinhos também. Contudo, ricos ou pobres, serão o que seus pais fizerem deles. Tenho ótima fonte em minha família que conta como filhos de bilionários podem ser trabalhadores, piedosos, honestos e e responsáveis. Os pais bilionários dessa pessoa a criaram como GENTE, tão somente isso. Gente que respeita os outros; gente que aprendeu que o trabalho é importante e que fortuna herdada não mérito próprio; gente integrada à sociedade que pauta suas atitudes como gente apenas, não como bilionário. E o que vale para os magnatas vale para os pobres, isso não preciso nem teorizar, nasci muito pobre e recebi educação de meus pais de modo que me tornei útil à sociedade. Abraços fraternos, JAIR.
Caro Chassot,
ResponderExcluirGostei muito do texto apresentado hoje no blog. Ele nós faz refletir sobre a criação dos filhos, afinal, são esses os nossos exemplos de responsabilidade, honestidade, respeito e todos os outros valores, sejamos ricos ou pobres!!
Rebecca Vasconcellos
Mestre Chassot,
ResponderExcluirTambém achei muito interessante o texto abordado hoje.É um ponto delicado e interessante de se discutir já que a tarefa de educar, em especial no mundo de hoje com tantos desafetos e irresponsabilidade,é uma tarefa difícil e delicada,tanto pra uma família rica quanto pra uma família pobre.O sentimento de ser humano e os questionamentos feitos durante a vida não escolhe classe social,mas sim está presente em todos nós!
Victória Campos
Olá!Tema interessante para refletir sobre pré julgamentos e problemas enfrentados por todos nós, ricos ou pobres!Cabe um pouco mais de respeito ao ser humano independente de classe social, econômica ou qualquer estereótipo.
ResponderExcluirAbraço, Ana Gualberto
Caro Chassot,
ResponderExcluirConcordo com sua reflexão, muitas vezes não é levada em consideração a dificuldade e os desafios, para educar um jovem bilionário, e quando nos deparamos com uma situação dessas, muitos julgamos e pensamos que alguém com tantas facilidades e um futuro garantido não tem motivos para ter problemas, porém é claro que a situação é bem mais delicada do que esta. Nos dois casos percebemos que estamos tratando de pessoas com sentimentos e dúvidas sobre si mesmo e sobre os outros, independente da classe social.
Sara Malaguti