Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br
*** Edição 2050
Esta noite, acompanho minhas alunas e
meus alunos dos Cursos de Educação Física e de Ciências Biológicas à aula magna
2012/2 das Licenciaturas do Centro
Universitário Metodista do IPA. O tema do encontro será: Política Pública para a formação
de professores e seus reflexos no papel do professor para a sociedade
brasileira. A aula será proferida pelo Prof. Paulo Monteiro Vieira Barone
da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação.
Mas este 13 de março para mim é motivo
de uma comemoração muito particular, mas nem por isso menos especial: completo 51 anos como professor.
Isto para mim é motivo de muita alegria.
Há um ano, meus leitores acompanharam
aqui celebrações maiores, pois — por uma apreciável coincidência — o
cinquentenário era a data limite para entrega de originais para uma seleção de
livros de uma editora. Entreguei, prenhe de esperanças, os manuscritos de Memórias de um professor: hologramas desde
um trem misto. A obra terminou selecionada em primeiro lugar, mas... seis
meses depois soube que a instituição, decidira não publicar nenhuma das obras
selecionadas.
Então, quando setembro já ia adiantado,
participei de uma indicação de títulos na Editora da Unijuí, que já publicara três
livros meus, entre os quais Alfabetização
científica: Questões e desafios para a Educação — que soube recentemente que
sua 5ª revisada é um dos títulos indicados na bibliografia aos candidatos à
seleção ao magistério do Estado do Rio Grande do Sul.
É com alegria que anuncio que o texto
que traz as memórias de meus 50 anos como professor está quase pronto. Talvez
seja dado a lume, ainda neste março. Já fiz a revisão das últimas provas. Com
alegria, dou a conhecer aqui o conjunto que fazem parte a primeira e quarta
capas, a lombada, as duas orelhas e um marcador de um livro de 504 páginas.
Como já é a sexta vez que este blogue
evoca 13 de março de 1961, vou pedir a indulgência de meus leitores e repetir
uma história seminal de uma caminhada que para mim é
significativa.
Um fiapo de história. Em dezembro de 1960 terminei curso
científico; fiz em janeiro de 1961, vestibular na UFRGS para Engenharia. Fui
reprovado em desenho. Não consegui desenhar uma parábola, como o exigido, com
tinta nanquim. Fiquei muito frustrado. Não sabia o que fazer. Vi que não havia
sentido ficar em Porto Alegre, pois meu emprego servia para pagar o aluguel de
um quarto que compartia com um colega que fora aprovado na Medicina.
Em Montenegro
procurei sem sucesso algum emprego em escritório de alguma empresa. Em qualquer
lugar era descartado por falta de experiência. Quem empregaria alguém que tinha
feito o curso científico quando a cidade formava técnicos em contabilidade?
Minha mãe,
sempre muito pragmática, teve então uma ideia audaciosa. Por que tu não vais ao
Colégio Jacob Renner? Lá podem estar precisando de professor. Havia na proposta
de minha mãe duas fabulosas ousadias: a mais significativa, ela muito católica
recomendar-me uma escola mantida pela Igreja Episcopal; é preciso recordar que
o Concílio Vaticano II só começaria no ano seguinte, e o vigário católico da
cidade negava a eucaristia aos pais que colocassem os filhos no Jacob Renner,
que era uma escola gratuita. A outra, o crédito que ela tinha no seu filho,
admitindo que esse tivesse requisitos de ser professor. Mãe é mãe!
Na manhã de 13
de março fui ao Jacob Renner, sendo entrevistado pelo diretor Reverendo Ernst
Bernhoeft, alma-mater do Colégio. Não me lembro me foi perguntado, mas sai da
escola com emprego. Lecionaria matemática nas duas 1ªs e duas 2ªs
series do curso ginasial. Era uma segunda-feira. As aulas começariam na
quarta-feira. Programei-me para ir a Porto Alegre no dia seguinte buscar meus
livros e preparar-me para a grande estreia. Todavia naquele mesmo dia ainda
aconteceria algo inusitado.
No começo da
tarde, batem na casa de meus pais, para onde eu retornara depois de meus
fracassos no vestibular, – e perguntam pelo ‘Professor Attico!’. Eu, não sem
alta dose de atrapalhação, pois nunca fora assim antes chamado, respondo que
era eu. ‘O Reverendo mandou este livro para o senhor preparar uma aula para
hoje à noite, pois o professor do 3º científico vai faltar!’. Engoli em seco e
recebi o livro de Matemática do 3º ano colegial, do Ary Quintella. Ainda tenho
o livro de capa verde, com um desenho de uma função derivada na capa. Quem se
preparava nervosamente para a estreia daí a dois dias, pariria a fórceps o
debute no magistério ainda aquela noite.
Lembro-me que
parti da João Pessoa, 1884 e desci a Oswaldo Aranha, até perto da Estação da
Viação Férrea, onde ficava o Jacob Renner, numa quase noite. Pelo caminho
repeti várias vezes a aula sobre ‘números complexos’ que preparava para alunos
da mesma série que eu frequentara no ano anterior. Só fazia aos céus um pedido:
que ninguém me perguntasse nada. Não recordo muito da aula, a não ser que
sentia o suor pingar na minha espinha. Lembro do grupo. A história da falta do
professor era um pretexto. Tornei-me, depois deste teste, professor da turma. E
ainda março tinha num total de 10 turmas de Matemática e Ciências. E em agosto
mais três turmas de Química. Este é fiapo das muitas histórias que conto em Memórias de um professor: hologramas desde
um trem misto.
E... ¿seu tivesse passado no vestibular de
Engenharia?
Caro Chassot,
ResponderExcluirparabéns por celebrar mais uma vez essa data tão significativa.
Espero que te dia possa se preencher de boas emoções e recordações da trajetória que fazes desde o 1961.
Grande abraço,
Paulo Marcelo
Parabéns, Mestre Chassot.
ResponderExcluirEsse data não é pra qualquer um. E desejo muitas outras semelhantes a essa.
Euzébio
Mestre, provavelmente os problemas relativos às ciências exatas não seriam tão desafiadores como os da educação brasileira, esta, tão necessitada de mentes brilhantes de educadores atuantes e reflexivos.
ResponderExcluirParabéns por esta data, aguardo ansiosa a publicação de suas memórias.
Abraços,
Malu.
Mestre Chassot
ResponderExcluirCelebro junto contigo a saída do forno do "Memórias de um Professor", principalmente por ter a honra do convite em participar desta gestação. Mais um rebento que trazes ao mundo literário. Os votos de muito sucesso nesta nova obra. Aproveito também para parabenizar-lhe pelos 51 anos de docência, sabedor que sou de tua imensa dedicação à ciência da educação. Adorei o "fiapo de história" que trazes na edição de hoje, fazendo com que os leitores tenham um pequeno aperitivo do "Memórias". Grande abraço e parabéns novamente. JB
Caro Chassot,
ResponderExcluirEsse "fiapo" de história acontecida dá bem a medida de uma vida plena de trabalho e resultados. Parabéns pelo livro e pela disposição ao trabalho a qual permite (ou impõe) que depois de mais de meio século você ainda tenha gás para continuar producente. Abraços docentes, JAIR.
Parabéns, Mestre!
ResponderExcluirPor estes 51 anos exercendo a mais nobre da funções!
Acompanhei o seu "fiapo de história" como se estivesse naquela época, desmaterializado e livre dos limites do tempo, diluído numa dimensão superior. Espiei por sobre seu ombro e pude vê-lo superando as barreiras para galgar um importante degrau da carreira (o inicial)!
Um toque de humor: anos depois dessa época, eu tive um colega que foi apelidado "Ary Quintella". Quando alguém perguntava se ele era bom em matemática, a resposta era: "Não, mas...é cheio de problemas!"
Como o livro!
Abraços, Mestre!
Caro Chassot,
ResponderExcluirmeus cumprimentos pelo quinquagésimo anos de dedicação ao magistério. Também vibro com a expectativa, para breve, do Trem. Uma das estações será a minha biblioteca, para um 'vagão' autografado pelo maquinista espetacular há 51 anos.
Forte abraço, na torcida!
Garin
Quantas emoções devem ter sido vividas! Parabéns!
ResponderExcluirAbraços.
“Ninguém começa a ser educador numa terça-feira às quatro horas da tarde.
ResponderExcluirNinguém nasce educador ou é marcado para ser educador.
A gente se faz educador, a gente se forma educador
permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática.”
Paulo Freire
Mestre,
ResponderExcluirparabéns pelas cinco décadas dedicadas à educação de alunos e educadores e pelo teu amor ao que a humanidade possui de mais precioso:
A Ciência. É bom poder contar com tua sabedoria. Estou na expectativa de sentir o aroma de livro novo e o peso nas mãos deste "Evangelho segundo Attico" ou seria melhor... este "Diálogo...".