Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br
*** Edição 2009
Blogada que
inaugura este bissexto fevereiro, o
segundo mês do ano, pelo calendário gregoriano. O nome fevereiro vem do latim februarius, inspirado em Februus, deus
da morte e da purificação na mitologia etrusca.
Oportuno
lembrar que já existiram três dias 30 de
fevereiro na história, em decorrência de ajuste de calendários, mais de uma
vez, objeto de comentários aqui. Originariamente, fevereiro possuía 29 dias e
30 como ano bissexto, mas por exigência do Imperador César Augusto, de Roma, um
de seus dias passou para o mês de agosto, para que o mesmo ficasse com 31 dias,
semelhante a julho, mês batizado assim em homenagem ao Imperador Júlio César.
Mas eis o assunto que faz a manchete desta quarta-feira. Pesquisas, como
estas duas: “Estudo de
universidade dos EUA diz que o meio é um importante indicador para a retenção
de dados após a leitura” e “Grupo
leitor do 'NYT' no papel recordou mais notícias, tópicos e trechos dos textos
do que quem o leu no site”, parecem quase desnecessárias, pois o senso
comum faria prever os resultados. Afinal, há pesquisas que já trabalhamos com
uma hipótese mais provável. Mas vale ver mais detalhes, em texto que Nelson de
Sá, publicou na parecem a Folha de S. Paulo, no último domingo (29JAN2012)
Um estudo da
Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, levantou que um leitor de jornal
em papel retém mais que um leitor on-line. Intitulado "Medium
Matters" -"questões de meio" em uma tradução mais literal ou,
em trocadilho, "o meio importa"-, é uma análise sobre o
"engajamento com jornais" nos dias de hoje.
Em suma, diz
o estudo, "os leitores on-line tendem a escanear os textos, enquanto os
leitores de impresso tendem a ser mais metódicos". Mais especificamente,
o leitor do "New York Times" impresso recorda em média
"significativamente mais notícias" (9,6) que o leitor do site do
jornal (7,3). Ele também relembra "significativamente mais tópicos"
(4,2) que o leitor on-line (2,8). Por tópico, o levantamento entende a
essência de cada texto.
Também quanto
aos pontos principais -ou seja, os trechos importantes distribuídos ao longo
do texto- o leitor do jornal impresso recorda mais (4) que a pessoa que lê na
mídia on-line (2,8). O único empate na comparação entre papel e site acontece
na lembrança de títulos, mais superficial.
A pesquisa
registrou o comportamento de 45 estudantes da própria universidade, na grande
maioria (77%) habituados a obter suas notícias via internet. Eles foram
divididos em dois grupos, para a leitura monitorada das versões em papel e
on-line do "New York Times".
Arthur
Santana, um dos três autores da pesquisa e que foi repórter e editor do
"Washington Post", avisa que os resultados em nada alteram "o
que está ocorrendo com os jornais, ao menos neste país [EUA], onde prosseguem
em declínio gradual". O pesquisador não acredita que esses resultados
sejam indicação de que "os jornais ainda têm uma função útil e
necessária". Santana afirma, entretanto, que "é importante",
inclusive para os próprios jornalistas, "saber e compreender".
Consumidora de San Francisco compra exemplares do "New York
Times"; leitor do impresso recorda mais que o da web
CONCENTRAÇÃO A principal explicação
para a diferença na retenção seria que um site não apresenta as notícias com
a gradação de importância que o papel apresenta. Não dá tantas
"indicações de ênfase" ao leitor e, assim, acaba por não cumprir a
"função de estabelecer agenda", característica histórica dos
jornais impressos.
O
levantamento da Universidade de Oregon também "demonstra que o
desenvolvimento de formas dinâmicas [de edição nos sites] teve pouco
efeito" no sentido de melhorar a retenção. Arthur Santana lembra
Nicholas Carr, autor de "The Shallows" -"os rasos", obra
traduzida no Brasil como "A Geração Artificial" (editora Agir). O
livro questiona os efeitos da internet sobre a capacidade de
"concentração e contemplação". Para o pesquisador, as próprias
pessoas hoje se condicionam a ler "apressadamente, dispersamente,
desengajadamente", seja como for.
COEXISTÊNCIA Para Jack Shafer, crítico
de mídia da agência de notícias Reuters, "embora o número de leitores
testado seja pequeno, o estudo confirma meu viés de que o impresso é
superior". Shafer passou um
ano sem ler a versão impressa do "New York Times", acreditando que
não era mais necessário, pois o site já se mostrava superior. Voltou a
assinar quando começou a sentir "falta das notícias". Ele diz que
gastava horas no site, mas "não lembrava", pois a leitura on-line
"havia afetado minha capacidade de retenção".
Apesar de ter
recuado ao experimentar ficar sem ler no papel, Shafer diz não ser
"nenhum ludita", referência ao movimento que reagiu às máquinas nas
fábricas têxteis inglesas, no século 19, durante a Revolução Industrial. "Você
não pode pesquisar em papel e você só tem acesso a um punhado de edições de
fora da cidade, no dia em que são publicadas; portanto, fico contente que os
dois meios coexistam."
|
Meu amigo Chassot,
ResponderExcluirparece que o velho McLuhan tinha razão "The Medium is the Message". De certa forma, a gente percebe isso no cotidiano. Tenho colegas que, quando recebem um texto virtual para ler, correm antes à impressora. Não tenho dúvidas de que haverá a coexistência dos dois meios por muito tempo.
Um abraço, Garin
Caro Attico,
ResponderExcluirdesconhecia a perda de um dia de fevereiro por capricho de um imperador romano.
Como amante de livros, é fácil notar como a leitura em papel se faz mais consistente que a leitura virtual. Já ouvi um comentário que uma delas é centrípeta, enquanto a outra centrífuga; recordas?
Abraços,
PAULO MARCELO
Caro Chassot,
ResponderExcluirComo sou leitor "papelista" já que tudo que supostamente sei e que estrutura o arcabouço de meus conhecimentos vem dos livros, estou inclinado a concordar que a mídia eletrônica é uma espécie de sinopse a qual recorremos para ter acesso instantâneo a informações superficiais. Também concordo com Shafer, os dois meios devem coexistir e são complementares. Abraços, JAIR.
Muito estimado Paulo Marcelo,
ResponderExcluirnunca havia visto esta divisão. Parece-me bem posta a metáfora: Suporte papel: centrípeta e suporte eletrônico: centrífuga.
Obrigado por adensares esta blogada
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirAprecio uma boa leitura e sou uma defensora dos livros tradicionais. Para mim, nada supera o prazer de deitar-me no sofá e ler um bom livro. Porém, os livros virtuais também podem ser interessantes, desde que sejam usados apenas como suporte e não como único meio de leitura!
Abraços, Lílian.